Folha de Londrina

Folha M@is: 2020 e sua incrível capacidade de nos causar espanto

JÁ É UM DOS EPISÓDIOS MAIS INUSITADOS DA HISTÓRIA

- MARCOS MARTINS ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora o semestre surreal tenha girado praticamen­te em torno da covid-19 e seus desdobrame­ntos, outros fatos também marcaram presença. Desde curiosidad­es até certo ponto fúteis, como o Príncipe Harry e a atriz Meghan Markle deixando de usar o título de “alteza real”, em janeiro, até a grave crise nos bastidores da política, com o exjuiz Sérgio Moro atirando contra o governo ao deixar o ministério da Justiça, em abril, as alfinetada­s entre Jair Bolsonaro e os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, e do STF, Dias Toffoli, e as trocas no ministério da Saúde — Nelson Teich, substituto de Luiz Henrique Mandetta, ficou apenas 28 dias no cargo. Um pouco mais que Carlos Alberto Decotelli. Convidado a substituir Abraham Weintraub no ministério da Educação, teve o currículo devassado — e desconstru­ído. Pediu demissão antes mesmo de uma cerimônia de posse. As manifestaç­ões pedindo intervençã­o militar e o fechamento do Congresso também geraram reações negativas. A crítica ganhou espaço até em publicaçõe­s internacio­nais.

Joaquin Phoenix, que brilhou na interpreta­ção de “Coringa”, ganhou o Oscar de melhor ator, em uma premiação em que o drama sul-coreano “Parasita” fez história: recebeu quatro estatuetas e se tornou o primeiro longa-metragem em língua não inglesa a vencer como Melhor Filme. Bong Joon Ho, o diretor, também foi premiado e emocionou o mundo. Foi um dos últimos grandes eventos presenciai­s. Após isso, para evitar aglomeraçõ­es, gravações de filmes, séries e outras produções foram suspensas. No Brasil, até novelas inéditas saíram do ar, dando espaço para reprises.

Os técnicos de futebol Oswaldo Alvarez, o Vadão, e Valdir Espinosa, nos deixaram. Além deles, outras personalid­ades também partiram neste semestre. Os jornalista­s Gilberto Dimenstein e Sérgio Noronha, o jogador de basquete Kobe Bryant, o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, a cineasta Suzana Amaral, o astro da sinuca Rui Chapéu, o artista plástico Daniel Azulay, as atrizes Adelaide Chiozzo, Daisy Lúcidi e Maria Alice Vergueiro, os cantores Moraes Moreira e Kenny Rogers, os escritores Rubem Fonseca e Sérgio Sant’anna, o ator Flávio Migliaccio e o compositor Aldir Blanc — este último vítima do coronavíru­s. Em sua homenagem, a Lei 14.017/20, que libera R$ 3 bilhões para artistas e estabeleci­mentos culturais durante a pandemia, recebeu o nome do grande parceiro de João Bosco e coautor de “O Bêbado e a Equilibris­ta”.

Os protestos do movimento “Black Lives Matter” se espalharam mundo afora, após a morte do segurança George Floyd, nos Estados Unidos, pedindo um basta ao racismo. Até estátuas foram derrubadas. Milhões de gafanhotos invadiram cidades e fazendas de parte da Argentina e Paraguai, formando nuvens assustador­as e destruindo plantações. Os insetos quase chegaram no Brasil mas, por enquanto, tomaram outro rumo. E Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, finalmente apareceu, no apagar das luzes.

Quando o semestre parecia encerrado, ainda dava tempo de mais alguma coisa. Desafiando a ficção, a realidade nos trouxe um ciclone-bomba, algo que nem imaginávam­os que existia. A passagem do fenômeno meteorológ­ico, no último dia de junho, causou destruição e mortes na região Sul do país, com ventos de até 120 km/h.

“Tivemos um primeiro semestre arrastado, pesado, triste, que vem desafiando nossa maneira de lidar com problemas, mexendo com nosso emocional, testando limites, tirando nosso foco em alguns momentos. Um ano em que ainda não pudemos começar várias coisas que havíamos planejado, já está na metade, mas não vemos a hora de acabar. É complexo, surreal. Uma travessia que, pelo visto, ainda será longa e tensa. Apesar de tudo, acredito que vamos sair mais fortes. Não podemos perder a esperança”, avalia a antropólog­a Maria Cristina Neves.

Manoel Carlos, autor de novelas de sucesso como “Por Amor” e “Páginas da Vida”, disse certa vez: “a ficção precisa fazer sentido para as pessoas, a realidade não”. Parecia apenas uma frase. O ano de 2020 tem nos mostrado que não. Preparados para mais um semestre?

A ficção precisa fazer sentido para as pessoas, a realidade não”

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Marcello Casal Jr/agência Brasi Tolga Akmen/afp Valerie Macon/afp Fabrici Coffrini/afp MARÇO JANEIRO FEVEREIRO
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Eze Amos/getty Images/afp Marcos Corrêa/pr Eduardo Anizelli/ Folhapress Eduardo Valente/ishoot/folhapress MAIO JUNHO E JULHO SÓ COMEÇOU...

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