Com interiorização da pandemia, divisa com SP vira área de risco
Proximidade com São Paulo, um dos epicentros da Covid-19, é motivo de preocupação no Paraná
Do lado paranaense, duas regiões que estão entre as consideradas mais críticas pelo governo estadual. Do lado paulista, uma área com 94 municípios e 193 mortes por Covid-19. Intercâmbio intenso gera preocupação e algumas cidades ensaiam barreiras para tentar impedir circulação do vírus
Após a adoção por parte do governo de São Paulo de regras mais duras para conter a pandemia causada pela Covid-19 em cidades do centro-oeste do estado vizinho e a determinação pelo governo do Paraná da suspensão das atividades não essenciais em cidades de duas Regionais de Saúde do Norte do estado – Londrina e Cornélio Procópio, o trabalho de orientação e fiscalização nas divisas passou a ser fundamental para combater a circulação viral. Entretanto, conforme apurou a FOLHA, apenas 56 profissionais de saúde vêm realizando essa função ao longo dos últimos quatro meses, diferentemente de medidas duras adotadas nas regiões urbanas.
Se do lado paulista 94 cidades já haviam registrado 7.554 casos até o início desta semana, com 193 mortes causadas pela Covid-19 registradas em 50 municípios da região centro-oeste, as Regionais de Saúde de Londrina e Cornélio Procópio acabaram sendo incluídas no decreto estadual do governador Ratinho Junior (PSD) especialmente por conta dos índices de mortalidade pela doença. Nesta sexta (3), o Paraná chegou a 715 mortes.
O avanço da Covid-19 fez com que a Prefeitura de Bauru editasse um decreto em que prorroga as restrições sobre o comércio e serviços até 14 de julho. O governo paulista decidiu mudar a classificação de risco para este município da fase laranja para a vermelha. A medida foi tomada ainda em Marília, que também está na “rota” de milhares de paranaenses.
Na segunda quinzena de maio, quando o estado de São Paulo somava pouco mais de 75 mil casos, a reportagem da FOLHA foi a um dos 11 pontos de orientação implementados pelo governo do Paraná, perto de Sertaneja, a 100 quilômetros de Londrina. À época, a constatação foi de que uma parcela dos profissionais que vivem nas estradas ainda resistia em usar máscaras.
“Temos intensificado as ações em postos de combustíveis com alto fluxo, principalmente de caminhões, porque hoje temos pesquisas apontando que os eixos rodoviários são um dos principais pontos de disseminação do vírus”, lembra o diretor de Articulação Regional da Sesa, Edmundo Cesar Verona.
Cada “barreira” sanitária do lado paranaense conta com quatro profissionais de saúde contratados via Fundação Araucária e cujos vínculos vencem em agosto. Apenas um ponto, o de Campina Grande do Sul (Região Metropolitana de Curitiba), conta com 16 profissionais.
Entretanto, o próprio modo de vida dos moradores das duas regiões vizinhas, que envolve desde a vinda de estudantes para as universidades estaduais paranaenses e passa pela procura pelo turismo na região de Ribeirão Claro e pelo comércio no lado paulista, pode ter colaborado para que o vírus se espalhasse mais rapidamente.
No início desta semana, a FOLHA voltou ao local próximo da ponte sobre o rio Paranapanema, “movimentado” para uma tarde de segunda-feira, avaliou o policial militar que fazia a segurança de três enfermeiras contratadas pela Sesa. De acordo com elas, 171 passageiros foram abordados durante o expediente daquele dia, entre 8h e 17h. Nenhum profissional relatou ter sentido os sintomas da Covid-19 nos últimos dias e a “conscientização” sobre o uso de máscaras já era bem maior uma vez que as próprias empresas de transporte rodoviário intensificaram as orientações com seus empregados, relatou uma integrante do grupo.
“Você tem a proximidade, muito comércio, muitos paranaenses vão à região da rua 25 de março (em São Paulo), comércio de roupas, turismo de moradores de São Paulo em Sertaneja, Rio Claro, ali tem alguns resorts e outros pontos de turismo, tem muitos moradores do sul de São Paulo que tem casas na região das represas”, afirma Verona.