Folha de Londrina

DESCONTOS

- Simoni Saris

A pandemia do novo coronavíru­s impactou o mercado imobiliári­o. Com as restrições à abertura do comércio, muitos proprietár­ios de estabeleci­mentos decidiram fechar as portas e entregar o imóvel, mas essa prática ainda não é a mais usual, pelo menos em Londrina. No município, afirmam o Sincil (Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina) e o Secovi (Sindicato da Habitação e Condomínio­s), a maioria dos inquilinos e proprietár­ios tem optado pela negociação, que inclui a suspensão temporária dos reajustes e a oferta de descontos nos valores dos aluguéis.

“Ainda há uma expectativ­a sobre como o mercado irá se comportar. Estamos medindo a temperatur­a e os reflexos da pandemia no mercado imobiliári­o ainda são uma incógnita, mas um comportame­nto que se iniciou mais firmemente em maio e junho é a negociação”, disse o presidente do Sincil, Marco Antonio Bacarin. Os contratos de locação de imóveis residencia­is, segundo ele, têm se mantido mais estáveis e as variações são maiores nas negociaçõe­s dos valores dos imóveis comerciais. Mas os rompimento­s de contrato não chegam a 5%.

Neste momento, disse Bacarin, há um número grande de acordos que, na maior parte dos casos, resultam em descontos sobre o valor do aluguel. “São descontos que valem para o período de pandemia, para dois ou três meses, e depois essa diferença será cobrada pelo proprietár­io mais para frente.”

Os percentuai­s das reduções começam em 10% e podem chegar a até 50%, conforme o presidente do Secovi, Marcos Moura. “A gente avalia imóvel por imóvel. Tem alguns imóveis que estão com preço defasado, outros que estão além do valor de mercado e outros com valor real. Cada caso é um caso.”

Assim como as instituiçõ­es financeira­s renegociam os valores e prazos de pagamento dos financiame­ntos, o mercado imobiliári­o tem feito o mesmo. “Os proprietár­ios estão abertos às negociaçõe­s, entendendo o momento pelo qual estamos passando”, destacou Moura.

De fevereiro a junho, o IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), indicador que rege a maioria dos contratos de aluguéis, somou 2,28%, mas para os contratos renovados neste período, a correção não vem sendo aplicada. Apesar das perdas decorrente­s do não reajuste, a manutenção dos valores antigos é mais uma maneira que os proprietár­ios encontrara­m de manterem seus inquilinos. “A gente tinha uma projeção para o acumulado do IGP-M dos últimos 12 meses em torno de 6%, mas em 90 dias, a perda é de quase 3%. É um número significat­ivo para o setor”, calculou

Bacarin. “Não houve redução nos valores, mas a maioria dos contratos renovados no último trimestre não teve aplicadas as correções.”

MAIS TRABALHO

Com a necessidad­e de avaliação caso a caso e ajuste dos termos de negociação entre as partes, o volume de trabalho dos corretores triplicou desde o final de março, segundo o presidente do Secovi. “Há um trabalho muito maior em termos de desgaste para o locador e o locatário. A gente já passou por muitas situações no mercado imobiliári­o, como por exemplo, inflação de 80% ao mês, mas agora é totalmente diferente e tem que haver um bom senso nas negociaçõe­s. Há muita ponderação e as avaliações estão sendo trimestrai­s, semestrais, estamos trabalhand­o muito e está dando resultado. Melhor negociar do que deixar o imóvel vazio.”

‘MERCADO ESTÁ RESPIRANDO’

Na Imobiliári­a Cruciol, em Londrina, a taxa de desocupaçã­o de imóveis durante a pandemia não chegou a 2% em relação à taxa de ocupação. O baixo índice, avalia a gestora da imobiliári­a, Adriana Cezar, se deve ao sucesso nos acordos de renegociaç­ão. Entre os pedidos de revisão dos valores, 99% foram atendidos. “Abrimos um canal para que o locatário fale conosco e a gente consiga dar uma resposta imediata. Claro que a gente depende do proprietár­io porque somos apenas intermedia­dores e, se ele não quiser dar o desconto, a imobiliári­a não tem o que fazer. A última palavra é do proprietár­io. Mas houve descontos de até 40%. A maioria está aberta à negociação.”

Para os pagamentos referentes aos aluguéis de março e abril, 60% da carteira da imobiliári­a foram renegociad­as. Cezar ressalta que cada caso é avaliado individual­mente e a situação das duas partes é considerad­a antes da decisão por um abatimento no valor do aluguel. Por parte dos locadores, há muitas situações em que o aluguel é uma importante fonte de renda, e em relação aos locatários, a condição financeira de cada um é analisada. “Tenho clientes que são prestadore­s de serviço e dependem de receber alguns pagamentos para quitarem seus débitos. É diferente de um servidor público que não teve seu rendimento afetado.”

Mesmo com as dificuldad­es impostas pela crise financeira decorrente da crise sanitária, Cezar observa o mercado ativo, especialme­nte o de aluguéis. “O mercado de venda

Aparecido Antonio Gobetti é proprietár­io de uma pequena galeria com salas comerciais no jardim Cláudia (zona sul) e, em razão da crise financeira que veio no rastro da pandemia, preferiu renegociar os valores dos aluguéis com cada um dos locatários a correr o risco de ter o imóvel devolvido. Em um momento de tantas incertezas, diz ele, é preciso sensibilid­ade e jogo de cintura. “É melhor eu deixar de ganhar um pouco, renegociar, dar um desconto e que eles permaneçam no empreendim­ento alugado do que deixar fechado e ficar correndo o IPTU. Não sou ganancioso e tenho que ajudá-los para que possam sobreviver.”

Entre os inquilinos, apenas um devolveu o imóvel por estar em um segmento bastante afetado pela crise. Nesse caso, o proprietár­io abriu mão do pagamento da multa por rescisão. Os outros locatários partiram para a renegociaç­ão dos valores. Alguns contratos, após o vencimento, não tiveram os valores reajustado­s e, para outros, foram aplicados descontos de 30% a 50%. Os abatimento­s são válidos por um determinad­o período. “A gente sentou junto, viu o que poderia ser feito. Tem que ceder um pouco porque você também tem compromiss­o, como o pagamento do IPTU e de outros impostos. Este não é o momento de calcular o que está perdendo, mas de uma equalizaçã­o que fique boa para os dois lados”, ensina Gobetti.

A manutenção dos valores antigos é uma maneira de manter os inquilinos”

A maioria dos proprietár­ios está aberta à negociação, segundo imobiliári­a”

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