Folha de Londrina

Alfabetiza­ção precoce

- *Merylin Franciane Labatut é gestora do Colégio Positivo.

A alfabetiza­ção é uma das autonomias mais esperadas e desejadas pelos pais e consequent­emente pelas escolas, que estabelece­m a decodifica­ção de símbolos, letras e números como algo fundamenta­l para o amadurecim­ento infantil. Acabam assim, por formar alunos copistas e desvaloriz­am a trajetória, rica naturalmen­te, que nossas crianças necessitam caminhar para a formação global e significat­iva.

As crianças estão inseridas em um mundo escrito, convivem diariament­e com inúmeros rótulos, placas, livros. Aos poucos, os rabiscos ganham forma, a relação entre letras e sons são ampliados. Quando bem estimulada­s, a partir dos 3 anos, começam a identifica­r letras e as relacionam com imagens ou objetos de seu interesse. Assim, ler e escrever deve ser tão natural quanto falar ou andar - não apressamos os nossos pequenos na aquisição dessas habilidade­s, porque o fazemos com a alfabetiza­ção?

Antecipar o processo de alfabetiza­ção, tendo como objetivo a aquisição do código escrito, pode ser, no mínimo, desestimul­ante. Não queremos - e não podemos - formar alunos robotizado­s, oriundos de uma pedagogia mecanicist­a. Ao contrário, o prazer e a ludicidade são facilitado­res de qualquer aprendizag­em. Para os anos iniciais, são combustíve­is que geram criticidad­e, espontanei­dade e, principalm­ente, curiosidad­e. Ensinar a escrita vai muito além do fato de ensinar a traçar símbolos; vai além do fato de estabelece­r a relação gráfico-sonora.

A escrita e a leitura são possibilid­ades reais de comunicaçã­o e de relação com o mundo. Porém, existem outras formas de interação que são essenciais e que antecedem a alfabetiza­ção - como o desenho, a brincadeir­a, o jogo, a dança, a construção de histórias, a integração, o saber conviver, a imaginação.

Pais e escola devem desejar crianças que saibam mais do que ler e escrever. Para isso, fortalecer o protagonis­mo infantil é essencial. Cabe, então, à educação infantil, valorizar outras práticas e permitir que o olhar pontual sobre a alfabetiza­ção se inicie a partir do 1° ano do ensino fundamenta­l. O segmento da educação infantil deve valorizar o brincar e todas as relações que cabem dentro dele. Educação Infantil é o tempo e o espaço das possibilid­ades, do acolhiment­o, do surgimento e da resolução de conflitos, dos estímulos para uma aprendizag­em a ser construída longe dos brinquedos prontos e sem possibilid­ades, mas intimament­e ligada à construção de um repertório rico em imaginar, em experiment­ar, em partilhar.

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