Clube de Leitura da Folha: podcast dos vestibulandos sai da quarentena com clássico dos anos 1950
“Eles não Usam Black-Tie” é o livro comentado por professor e dramaturgo de Londrina e que faz parte das 10 obras literárias exigidas no Vestibular da UEL
O podcast do Clube de Leitura Vestibular UEL 2021/2022 retomou as atividades e lança, nesta quarta-feira (8), o segundo episódio com a análise do livro “Eles Não Usam BlackTie”, de Gianfrancesco Guarnieri. Mensalmente, o projeto da FOLHA convida um especialista para comentar uma entre as 10 obras literárias exigidas no Vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina). A proposta é que candidatos acompanhem a leitura durante o mês e participem da discussão por meio de canal gratuito no Telegram.
O primeiro episódio foi lançado em março e trouxe a discussão da obra “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco. A análise está disponível nas principais plataformas de áudio digitais, como Spotify e SoundCloud. Por causa da pandemia do coronavírus, as atividades ficaram suspensas nos últimos meses.
Nesta segunda edição, a obra selecionada foi “Eles Não Usam Black-Tie”, escrita na década de 1950, pelo ítalo-brasileiro Gianfrancesco Guarnieri. A visão analítica ficou sob a responsabilidade do professor do departamento de Letras, da UEL, Renato Forin, que é mestre e doutor pela mesma universidade, dramaturgo, ator e diretor do Teatro Agon e possui no currículo a autoria de obras premiadas.
Forin apresentou sua percepção sobre a obra e comentou a linguagem utilizada, o gênero dramaturgia, a própria narrativa e as características das personagens sem perder de vista o contexto da obra. “É uma dramaturgia dentro de um contexto social e crítico muito importante. Na década de 1950, o Brasil vivia uma euforia, um otimismo por tudo: no futebol, o Brasil foi campeão da Copa de 1958; tem a Bossa Nova, industrialização e progresso que veio de JK (presidente Juscelino Kubitschek) com muita força, mas junto com esse otimismo, com esse processo de industrialização, vem também esse outro lado, que é a exploração dos trabalhadores”, aponta.
OBRA
“Eles Não Usam Black-Tie” é uma peça de teatro escrita em 1955 e encenada pela primeira vez em 1958, no Teatro Arena, em São Paulo. A história se passa na década de 1950 e conta a história de uma família de moradores de uma comunidade, que vivencia o conflito ideológico entre pai e filho diante da greve na fábrica em que ambos trabalhavam. “É uma peça que fala das relações entre patrão e empregado, com movimento de operários para se fazer uma greve e, no contexto micro, a relação de pai e filho”, aponta Forin.
As consequências da vida operária nas duas gerações, a importância da vivência em comunidade, ambição individual são mostradas sem caricaturas, trazendo discussões que ultrapassam os 65 anos do lançamento da obra e conserva a discussão nos tempos de hoje. “Por incrível que pareça, essa é a primeira dramaturgia do Gianfrancesco Guarnieri, por ser uma obra com temas muito complexos, muito bem feita e muito elaborada até assusta ser uma primeira dramaturgia de um autor jovem, ele tinha um pouco mais de 20 anos quando escreveu”, explica.
A peça ficou mais de um ano em cartaz e já foi reproduzida diversas vezes, ganhando a sua adaptação para o cinema em 1981. “Eles não Usam BlackTie” contou com a trilha sonora de Adoniran Barbosa, com o samba “Nóis Não Usa as Bleque Tais”, escrito em conjunto com o autor da peça.
A música embalou o amor de Tião e Maria ainda no primeiro ato da peça, quando se tem a notícia de que a jovem estaria grávida. Os dois decidem se casar às pressas e, diante das novas responsabilidades, Tião fura o movimento grevista por medo de perder o emprego. Sua atitude o coloca em divergência ideológica com o pai, Otávio, uma das lideranças do movimento. A obra traz as nuances da vida na comunidade e os conflitos entre coletividade e individualidade.
SERVIÇO
Participe do Clube de Leituras da FOLHA no Telegram. Os episódios do podcast estarão disponíveis a cada mês no canal da Folha no Spotify e SoundCloud.