A CONSCIÊNCIA DO VÍRUS
Ensaio de Yuval Noah Harari aponta a cooperação como grande antídoto contra a pandemia de coronavírus e outros males
“Neste momento de crise, a batalha crucial está sendo travada dentro da própria humanidade. Se a epidemia criar mais desunião e desconfiança entre os seres humanos, o vírus terá obtido sua maior vitória. Quando os humanos brigam, os vírus se duplicam. Em troca, se a epidemia produzir
SERVIÇO
“Na Batal had o Coronavírus, Faltam Líderes à Humanidade” Autor – Yuval Noah Harari Editora – Companhia das Letras Tradução – Odorico Leal Páginas – 22
Quanto – Gratuito (disponível no site da Companhia das Letras, Amazon Brasil, Apple Books, GooglePlayeKobo)
“21 Lições Para o Século 21” Autor – Yuval Noah Harari Editora – Companhia das Letras Tradução – Paulo Geiger Páginas – 432
Quanto – R$ 59,90 e R$ 29,90 (e-book) uma maior cooperação mundial, essa será uma vitória não só contra o coronavírus, mas contra todos os futuros agentes patogênicos.”
Esse é o argumento do historiador israelense Yuval Noah Harari sobre os aspectos globais da pandemia do Covid-19. Presente do ensaio “Na Batalha do Coronavírus, Faltam Líderes à Humanidade”, o argumento que também pode ser prolongado para as esferas nacionais, estaduais, municipais, tribais e familiares.
Publicado originalmente em abril na revista Times, o ensaio está sendo lançado pela editora Companhia das Letras em formato e-book gratuitamente nas plataformas Google Play, Amazon Brasil, Apple Books e Kobo.
Autor dos best-sellers “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade” (L&PM, 2015) e “Homo Deus – Uma Breve História do Amanhã” (Companhia das Letras, 2016), Yuval Harari aborda tanto a responsabilidade individual quanto a responsabilidade coletiva no momento atual.
Em suas palavras, o que é importante saber sobre as novas pandemias, é que a propagação da doença em qualquer país, ou cidade, coloca toda a espécie humana em perigo. O motivo é que os vírus evoluem: “Os vírus como o corona têm sua origem em animais – morcegos, por exemplo. Quando passam aos humanos, estão mal adaptados aos seus organismos. Depois, sofrem mutações ocasionais ao se duplicarem. Em sua maioria são inócuas, mas, de vez em quando, uma mutação torna o vírus mais infeccioso ou mais resistente ao sistema imunológico humano, e então essa cepa mutante se propaga a toda velocidade entre a população. Como uma só pessoa pode abrigar trilhões de vírus em processo constante de duplicação, cada pessoa infectada oferece ao agente patogênico trilhões de oportunidades de se adaptar mais aos seres humanos. Cada portador é como uma máquina de jogos que proporciona trilhões de bilhetes de loteria ao vírus, e para que este progrida basta que um desses bilhetes seja o ganhador.”
Outro argumento de Yuval Harari, é de que o momento político também determina as consequências da pandemia: “A humanidade enfrenta hoje uma grave crise, não só devido ao coronavírus, mas também pela falta de confiança entre as pessoas. Para superar uma epidemia, é preciso confiar nos especialistas científicos, os cidadãos precisam confiar nas autoridades, e os países precisam confiar uns nos outros. Nos últimos anos, políticos irresponsáveis solaparam deliberadamente a fé na ciência, nas autoridades públicas e na cooperação internacional. Agora enfrentamos esta crise sem nenhum líder mundial capaz de inspirar, organizar e financiar uma resposta global coordenada.”
Em síntese, Harari afirma que sem confiança e solidariedade, seja globalmente ou tribalmente, não será possível deter a epidemia de coronavírus. Como também não será possível deter outras semelhantes epidemias no futuro. Em nome do otimismo, acredita que cada crise representa também uma oportunidade: “Confiemos em que a atual crise ajude a humanidade a ver o grave perigo que a desunião causa.”
Esse mesmo otimismo não pode ser encontrado acaloradamente no último livro de Yuval Harari, “21 Lições Para o Século 21” (Companhia das Letras, 2018). No capítulo 4 o autor escreve: “É improvável que oferecer às pessoas mais informação melhore a situação. Cientistas esperam dissipar concepções equivocadas com educação científica, e especialistas esperam influir na opinião pública apresentando às pessoas fatos precisos e relatórios científicos. Essas esperanças baseiam-se numa compreensão equivocada de como os humanos efetivamente pensam. A maior parte de nossas opiniões é formada por pensamento comunitário e não em racionalidade individual, e adotamos essas opiniões por lealdade ao grupo. O poder do pensamento de grupo é tão penetrante que é difícil se livrar dele mesmo quando parece ser absurdo ou bastante arbitrário.”
Em suma, no meio de uma pandemia de saúde, no meio de conflitos políticos, econômicos e ideológicos, a ideia de humanidade simplesmente desaparece. O pensamento fechado de grupos, ou o pensamento de rebanho, impossibilita o pensamento cooperativo. E como a macro-história desenhada por Yuval Harari demonstra, a cooperação foi justamente um dos grandes fatores da Terra ser, ao longo de milênios, dominada pelos humanos.