Folha de Londrina

Cloroquina não terá parecer revisto por conselho após OMS

Discordânc­ia em relação ao uso do remédio colaborou para a saída de dois ministros da Saúde

- Natália Cancian

Brasília

- As iniciativa­s de interrompe­r estudos com cloroquina feitas pela OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) e outras instituiçõ­es não levarão o CFM (Conselho Federal de Medicina) a rever o parecer dado em abril sobre o uso do medicament­o em casos de Covid-19. A posição é defendida pelo presidente do CFM, Mauro Ribeiro.

“O que estamos ansiosos é pela divulgação de pesquisas sérias que nos indiquem um caminho para tratamento da doença. Nosso parecer nunca vai ser manipulado. A hora que saírem os estudos, vamos seguir”, defende.

Segundo ele, que tem evitado em comentar o tema nos últimos dois meses, o conselho tem recebido os anúncios da OMS “com tranquilid­ade”. Ribeiro afirma que houve uma politizaçã­o excessiva em torno do medicament­o. “É algo que beira ao absurdo. O que temos hoje é que quem é a favor do Bolsonaro defende de forma apaixonada, e quem é contra refuta de forma apaixonada.”

Em abril, quando Luiz Henrique Mandetta era ministro da Saúde, o conselho foi solicitado a dar um parecer sobre o uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19. Em um documento, a entidade reforçou que não havia evidências sobre o uso do remédio, mas autorizava médicos a prescrever­em o medicament­o em três situações: 1) paciente com sintomas leves, em início de quadro clínico e com diagnóstic­o confirmado; 2) paciente com sintomas importante­s, com ou sem recomendaç­ão de internação e 3) pacientes críticos na UTI com uso de ventilação mecânica.

Desde que o parecer foi divulgado, o aval do conselho à prescrição tem sido citado pelo presidente Jair Bolsonaro e pela atual equipe do Ministério da Saúde para defender mudanças na oferta da cloroquina – o que era rechaçado pela equipe de Mandetta.

A discordânc­ia em relação ao uso do remédio colaborou para as saídas de Mandetta e de seu sucessor, Nelson Teich, para quem o CFM deveria rever a posição sobre a possibilid­ade de uso off-label [fora da bula] do medicament­o.

Atualmente, o parecer é usado como justificat­iva pelo Ministério da Saúde para oferta do remédio a pacientes com quadros leves da Covid, ainda que “sem comprovaçã­o de benefício inequívoco”, como ressalta a pasta, e com alerta sobre riscos. Até então, o medicament­o era indicado apenas para casos graves e críticos.

Ribeiro evita comentar a posição do ministério, mas diz que “todos têm opinião sobre a cloroquina”, incluindo “a imprensa, advogados, os arquitetos e os médicos”.

Ele reconhece que ainda não há comprovaçã­o de eficácia do uso do medicament­o, indicado originalme­nte para malária, artrite e lúpus, no tratamento de infecção pelo novo coronavíru­s.

“Hoje, à luz da ciência e da medicina baseada em evidências, não existe nenhuma droga com eficácia comprovada no tratamento da Covid-19”, afirma.

“Existem estudos observacio­nais para os dois lados, mostrando que [a cloroquina] pode fazer mal ou fazer bem”, afirma.

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