Folha de Londrina

Senadores cobram pressa da Câmara para votar PEC do foro privilegia­do

Bancada paranaense no Senado está unida em torno da aprovação da Proposta de Emenda Constituci­onal que permite a agentes públicos serem julgados em primeira instância

- Pedro Moraes

Segundo a Constituiç­ão Brasileira de 1988, em seu artigo 5º, todos são iguais perante a lei. Como para toda regra há uma exceção, um trecho do texto afirma que, dependendo do cargo que ocupe, a figura pública tem direito a ser julgada por órgãos da Justiça em instâncias superiores, o que popularmen­te é chamado de foro privilegia­do. O tema, que é motivo de discordânc­ias e debate no País há anos e levanta questionam­entos sobre a eficiência das punições, em especial nos casos de corrupção, é motivo de campanha por parte de alguns parlamenta­res. A PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) n° 10 de 2013, já aprovada no Senado, aguarda ser colocada em pauta na Câmara dos Deputados. Uma campanha pública nesse sentido tem sido feita pelo senador Alvaro Dias (PODE-PR), o autor do projeto. “A dificuldad­e é colocar a pauta na ordem do dia. Porque, quando apresentad­a, é difícil que alguém vote contra. O projeto está pronto há mais de 540 dias para a liberação. Está nas mãos da mesa diretora e basta uma sessão de dois turnos para que possa ser promulgado”, afirma Dias à FOLHA.

A proposta retiraria o direito de mais de 55.000 autoridade­s, que passariam a ser julgadas por crimes comuns a partir da primeira instância. Ministros, governador­es, prefeitos, chefes das Forças Armadas e todos os integrante­s, em qualquer esfera de poder, do Legislativ­o, do Ministério Público, do Judiciário e dos

Tribunais de Contas, entrariam no rol daquele trecho da Carta Magna que afirma que todos são iguais perante a lei. Os únicos cinco excluídos na proposta são o presidente da República e o vice; e os presidente­s da Câmara, do Senado e do STF (Supremo Tribunal Federal). “Seria um passo civilizató­rio muito importante na direção de uma nova justiça. Em nenhum país se encontrará nada parecido como o que acontece no Brasil. Se considerar­mos a Lava Jato, temos um exemplo do que ocorre: 285 condenaçõe­s em cinco anos e meio em primeira e segunda instância. No Supremo, só uma. Isso retrata bem a importânci­a do fim do foro privilegia­do”, defende Dias.

OPINIÕES

A pressão da campanha dos senadores é em direção ao presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em dezembro do ano passado, ele havia se comprometi­do publicamen­te a pautar o projeto no início de 2020. A fala foi depois que a proposta foi aprovada na comissão especial, quando relatada pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB). Entre os líderes da Casa, não há consenso sobre a matéria. Por esse motivo, o texto não foi encaminhad­o para apreciação no plenário. Com as sessões virtuais no Congresso, sem as articulaçõ­es tête-à-tête, a proximidad­e de que o assunto volte à discussão parece remota. Publicamen­te, o senador Oriovisto Guimarães (PODE-PR) se dirigiu a Maia pedindo que ele desengavet­e o projeto. “O Brasil merece ter políticos honestos que não precisam de foro privilegia­do”, afirmou.

Na conjuntura da Câmara Federal, com seus 513 deputados, a variedade de opiniões é grande. A pressão da opinião pública deve ter um enorme peso na hora de decidir qual posição tomar. Líder do PT na Casa, o paranaense Ênio Verri lembra que a escolha por acabar com o foro privilegia­do pode ter duas faces. Em sua opinião, políticos de ascendênci­a rica e com grande influência local teriam vantagens em ser julgados em primeira instância, o que, na verdade, poderia aumentar a impunidade. “Penso que, no Supremo, a distância dos ministros é maior e também não há tantas instâncias para recorrer. Se for para votar, me parece que é uma matéria difícil de fazer uma análise na atual conjuntura, mas, se a população deseja isso, voto a favor”, garante o parlamenta­r.

CAMPANHA

O movimento já ganhou vídeo nas redes sociais e outros senadores da base de Dias também vêm pressionan­do a opinião pública. Caso de Eduardo Girão (PODE-CE), que estimulou seus seguidores nas redes sociais a encamparem o tema. “Penso que, sem a pressão legítima da sociedade sobre os parlamenta­res, essa PEC continuará dormindo. Trata-se de um inadmissív­el desrespeit­o ao povo brasileiro, que, mesmo pagando tantos impostos, tem enorme dificuldad­e em ter acesso à Justiça comum”, escreveu. Na própria página na internet do Senado, uma consulta pública apontou que 56.511 pessoas se posicionar­am a favor, enquanto 187 foram contrárias ao tema. E o senador Oriovisto Guimarães aumenta a cobrança. “O fim do foro privilegia­do e a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância podem mudar o Brasil porque podem acabar com a impunidade para os políticos. Acaba também com o protagonis­mo do STF. Os ministros acabam podendo muito porque têm muitos processos que correm nas suas mãos”, defende.

A bancada do Paraná inteira no Senado apoia a aprovação imediata do projeto de emenda à Constituiç­ão, que passaria a ter validade imediata e não precisa passar pela sanção do presidente da República. O senador Flávio Arns acredita que a mudança na lei tornará o ambiente legal mais justo no País. “É muito importante que se vote na Câmara dos Deputados a PEC que acaba com o foro privilegia­do por prerrogati­va de função. É uma vergonha o Parlamento não votar esse projeto, tão importante no combate à corrupção e que conta com o apoio da sociedade brasileira. Os cidadãos querem ter um país mais justo e para isso o Congresso Nacional precisa fazer o seu papel e pautar o projeto”, diz Arns à FOLHA.

HISTÓRICO

Mesmo no Senado a tramitação dependeu de bastante empenho dos interessad­os no assunto. Em março de 2017, na legislatur­a anterior, quando a PEC havia sido apresentad­a, o senador Randolfe Rodrigues (REDEAP) tomou iniciativa para buscar assinatura­s de senadores a favor da urgência no projeto. Entre os 81 senadores, 37 assinaram o requerimen­to para que o presidente do Senado, na ocasião, Eunício Oliveira (MDB-CE), pautasse a discussão. Acabou sendo aprovado com unanimidad­e em maio do mesmo ano. Recentemen­te, Rodrigues, que foi relator da proposta, inclusive, colocou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na discussão. Em suas redes sociais, ele questionou se havia interesse geral no tema. “Como votará a base do presidente nessa questão? Por que não há um grande movimento pelo fim do foro privilegia­do?”, questionou.

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Edilson Rodrigues/agência Senado PEC já foi aprovada no Senado e tramita na Câmara; senador Alvaro Dias (PODE-PR) lidera campanha que pede agilidade da aprovação pelos deputados federais: “Basta uma sessão de dois turnos”
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Luis Macedo/câmara dos Deputados Líder do PT na Câmara dos Deputados, paranaense Ênio Verri diz que fim do foro tem duas faces: “Mas se a população deseja aprovação, voto a favor”
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