‘Olhar diferenciado’ sobre reprovações
Para a empregada doméstica Sueli Moreira dos Santos, 42, a “melhor” coisa que pode acontecer na trajetória escolar do filho, Pedro Henrique, 12, é a reprovação na série em que atravessa em plena pandemia, o 6º ano do ensino fundamental no Colégio Estadual Polivalente de Apucarana (Centronorte). “Prefiro que faça de novo. Ele acha que não tem a obrigação de fazer, acha que vai passar”, lamenta. Preocupada, a mãe avalia que o filho não consegue manter a concentração a ponto de assimilar o conteúdo da mesma forma pela tela do celular.
Na opinião dela, o filho passou a não compreender que as aulas remotas necessitam de “ainda mais seriedade e empenho do que da forma tradicional para terem efetividade”. “Eu estava conversando com ele esses dias e os amigos dele também falaram que não assistem às aulas, eles chutam as tarefas, tenho certeza que é assim. A gente trabalha fora. Como vamos ficar em cima do aluno”, questiona.
O tema é outro desafio que diretores e coordenadores pedagógicos precisarão encarar neste ano, especialmente a partir da aprovação de um ofício do CNE (Conselho Nacional de Educação) nesta terça-feira (7) que pede para que reprovações sejam “evitadas” por conta do isolamento social e dos prejuízos na qualidade do ensino.
Questionado, o diretor de Educação da Seed (Secretaria de Estado da Educação e do Esporte), Roni Miranda Vieira, destacou a urgência de se aplicar um “novo olhar” sobre as avaliações, menos “classificatório” e com mais atenção sobre o “processo”. Porém, lembrou que o tema já suscitou “calorosas” discussões desde o início da pandemia. “Neste momento, a avaliação precisa ser de diagnóstico. Ou seja, muito com o olhar voltado para qual dificuldade tem apresentado o aluno. Isso é algo muito mais individualizado e é um desafio para nós, professores. Me incluo neste cenário. Temos que avaliar o estudante nas suas habilidades e naquilo que ele está se desenvolvendo dentro das suas condições e nas condições impostas a ele”, diz.
Conforme explicou à reportagem, um processo de nivelamento será colocado em prática quando do retorno das aulas e novas oportunidades de avaliação serão dadas no final do ano. Porém, é preciso olhar com “muito equilíbrio”. “Nada vale promovermos o estudante para a série seguinte sem ele estar com a aprendizagem do que é essencial para seguir com sua vida escolar.
Tem que ser algo com bastante equilíbrio, um olhar muito atento, demanda bastante empenho de toda a equipe da Secretaria, escola e equipe pedagógica nessa discussão”, avalia.
Para a docente do curso de Pedagogia da UFPR (Universidade Federal do Paraná) na área de alfabetização, Verônica Branco, a recomendação do CNE deve ser encarada como “ordem” já que a pandemia afetou não a um grupo de estudantes, mas todos. Em seguida, o desafio das equipes pedagógicas será avaliar o que é conteúdo fundamental do currículo obrigatório e que acabou ficando para trás. “Vai ter que haver um ajuste de conteúdo. As equipes de currículo vão ter que ver o que é fundamental deste ano que não foi trabalhado para começar a ser trabalhado”, aponta.
“Vamos ter não só o próximo ano difícil como teremos dois, três anos para encontrar uma normalidade. Não tem como caber todo esse currículo na periodicidade que temos nos dias letivos. Se tivéssemos uma escola de tempo integral, poderíamos fazer ajustes maiores, mas essas quatro horas e meia já são mínimas e não tem como colocar crianças nas escolas. As salas de aula não são multiplicáveis”, pondera a docente.(v.s.)