Folha de Londrina

Antologias à vista

Dois novos projetos instigam autores de Londrina a tirar seus poemas da gaveta

- Vitor Struck

A pandemia do novo coronavíru­s está prestes a completar cinco meses no Paraná e o segundo semestre de 2020 ainda não dá indícios de que será “tranquilo”, especialme­nte para artistas e produtores culturais. Além das mudanças sociais, o clima de tensão política em um ano eleitoral colabora para tornar o momento ainda mais difícil. Em nada a vida nas cidades neste momento pode ser comparada com a tranquilid­ade das cenas descritas por Drummond em “Infância”, um dos destaques de “Alguma Poesia” (1930).

Mais de 90 anos depois da publicação da obra que levou o jovem de apenas 28 anos, formado em Farmácia, a revolucion­ar a poesia de língua portuguesa, a circulação dos produtos culturais que dependem da presença do público encontrou uma “pedra no meio do caminho” bem mais pesada com o isolamento social. Entretanto e felizmente, nem tudo está perdido.

Atualmente, dois projetos em Londrina estão “provocando” escritores e poetas da cidade a retirarem seus versos da gaveta em busca da nova - ou novíssima - antologia londrinens­e. O termo, que aparece nos títulos dos dois projetos e remete à botânica, não poderia ser mais apropriado e inspirador para o momento. Numa definição pragmática, o termo que representa o “estudo das flores” também é costumeira­mente usado em uma perspectiv­a filosófica para definir a união daquilo que de melhor foi produzido, seja por uma personalid­ade ou, no caso, uma cidade.

O mais adiantado projeto, “Antologia Londrinens­e: prosa e poesia”, da editora Madrepérol­a, acaba de anunciar os escritores selecionad­os em sua plataforma virtual a partir do crivo de um júri técnico e outro popular. De acordo com o idealizado­r e fundador da Madrepérol­a, Rafael Silvaro, o livro está em fase de revisão para ser lançado de forma online, apenas - e por razões óbvias -, ainda sem data definida. Serão 50 autores em um “retrato em poesia e prosa dos autores de agora”, definiu.

Já a “Nova Antologia dos Poetas Londrinens­es”, concurso literário organizado pelo Londrix - Festival Literário de Londrina, teve seu prazo para inscrições prorrogado para o dia 31 de agosto em função da pandemia do novo coronavíru­s. Conforme lembrou a organizado­ra do Londrix, Christine Vianna, o adiamento do período de inscrições permitirá que um número maior de artistas envie seus materiais.

“O termômetro que eu tenho é baseado em conversas com alguns amigos, mas eu vejo que tem sido para muitos artistas um processo de criação muito grande. Até porque neste momento o artista se sente tolhido com o corte de verbas, enfim, e ele acaba ficando na sua casa e dando vazão à sua arte. Claro que não posso fazer uma análise mais profunda, mas os que entraram em contato comigo estão usando bem este tempo”, avaliou

Sonetos, Haikais e poemas livres podem ser enviados para curadorial­ondrix2020@gmail.com e o resultado será divulgado no dia 30 de setembro após uma análise de avaliadore­s do Departamen­to de Letras da UEL (Universida­de Estadual de Londrina). Para validar a inscrição, os participan­tes também deverão preencher um formulário disponível em https://londrix.wixsite.com/festival/concurso.

Enquanto resgata o mesmo “espírito” de um antigo projeto desenvolvi­do por ela há duas décadas e intitulado “12 Antologias de Poetas Londrinens­es”, a “Nova Antologia dos Poetas Londrinens­es” contribuir­á, também, para “sequestrar” novos leitores. Cada autor receberá dez cópias do livro físico, o que não seria possível sem o financiame­nto do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). Afinal, hoje em dia, poucos poderiam fazer como Drummond, que decidiu financiar a impressão das primeiras 500 cópias de Alguma Poesia, encorajado pelo “estrondo” causado pela publicação de seu famoso poema “No Meio do Caminho”, na Revista de Antropofag­ia de São Paulo, no mesmo ano.

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