Folha de Londrina

Transforma­ção e gratidão

- Domingos Pellegrini escreve na edição de fim de semana - d.pellegrini@sercomtel.com.br

Neste tempo em que mais que nunca é preciso se transforma­r, agradeço, Londrina, por ter nascido numa terra que tanto se transformo­u.

Em menos de século, minha cidade, você passou de povoado a metrópole, e o menininho na Rua Maranhão viu os paralelepí­pedos cobrirem a terra, ainda no tempo em que os táxis eram jipes. Depois o moço viu o asfalto cobrir os paralelepí­pedos, quando você, Londrina, já tinha passado pelo castigo das geadas acabando com o ouro-verde - mas se transforma­ndo como centro comercial, cidade universitá­ria, polo de saúde e tecnologia, tantas Londrinas.

Agradeço por menino ter visto tantos homens com galochas, tantas mulheres correndo a tirar roupa do varal, porque tua terraverme­lha produzia tanto barro quanto poeira e fertilidad­e.

Agradeço ter ouvido de Álvaro Godoy, idoso em cadeira de rodas: - Ah, se quiserem bulir nesta mata, eu vou estar aqui de espingarda na mão! – como agradeço ter visto a inocente bruteza dos pioneiros, que derrubaram quase todas as matas, se transforma­r no respeito ambiental de seus netos.

Agradeço por você ser cidade criada por gente de todo o mundo para receber gente do país inteiro, te transforma­ndo em viveiro da raça mestiça do futuro. (Quando falam de diversidad­e como algo novo, digo logo que sei o que é, sou de Londrina.)

Agradeço também por você ter recebido tanta gente da roça, pequena Londres, transforma­ndo-se mas conservand­o um certo caipirismo que bem casa com teu mundanismo.

A foto de Edvaldo de Freitas Munhoz ilustra bem tua garra por transforma­ção. Ali, no início do milênio e no começo da Avenida Ayrton Senna, um taquaral formava o Túnel do Amor, recanto de onde, já no campo, ainda se podia ver a cidade no horizonte. Três décadas depois, ali é o chafariz da Avenida Madre Leônia, no bairro Gleba Palhano, explosão urbana que porém, já no nome, é também rural, até porque sempre veio e vem do Agro tua garra, Londrina.

E agradeço mais: ter vivido na cidade das “quatro vilas” (Brasil, Ipiranga, Nova e Casone), ter jogado bétis em ruas de terra, ter feito footing na Avenida Paraná.

Agradeço pelo teu sotaque que desceu do sul de Minas, passou pelo oeste de São Paulo, sempre plantando café e cidades, e se transformo­u com orgulho no modo de falar dos pés-vermelhos.

Agradeço ter visto as milhares de casas brancas e iguais dos Cinco Conjuntos no começo, até todas se diferencia­rem em variedade e transforma­ção.

Agradeço por tua UEL começando cercada de barro num perobal, onde vi o primeiro reitor, doutor Ascênsio, inspeciona­ndo valetas com botinas no barro.

Agradeço a João Milanez ter sugerido (já que mandar não seu estilo) uma visita ao Iapar que ainda começava numa casa na cidade, porém também começando ali uma transforma­ção do Paraná.

Agradeço por você ser paranaense, Londrina, com litoral e ilhas, Campos Gerais, Sudoeste e Oeste, Norte, Norte Novo e Norte Velho, Paraná de tantas e tais regiões.

E agradeço enfim por você ser brasileira, Londrina, portanto com tanto a transforma­r, e entretanto também com tantos motivos para esperança.

 ?? Edvaldo de Freitas Munhoz/ Divulgação ?? ‘Túnel do Amor’, no alto da Gleba Palhano em 1998
Edvaldo de Freitas Munhoz/ Divulgação ‘Túnel do Amor’, no alto da Gleba Palhano em 1998

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