CONTRA O VALE-TUDO NA PROPAGAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Valor integra o Plano Safra 2020/2021 e é 6,1% superior ao volume para crédito disponível na safra anterior no Paraná
Qual o efeito das noticias falsas? Boa parte dos seres humanos costumam tomar suas decisões baseadas em sentimentos e emoções em vez de fazer isso com base em fatos. Muitas delas acontecem pelo efeito manada ou pelo instinto de sobrevivência no grupo ao qual pertence, ou seja, as pessoas replicam comportamentos e ideias para não ficarem isoladas. Isso ocorre porque o cérebro humano evoluiu para garantir a sobrevivência da espécie. Quando essa visão de mundo é desafiada, esse instinto faz com que as pessoas reajam de forma agressiva. Essa tentativa de contrapor crenças com fatos muitas vezes gera o efeito “tiro pela culatra”, isto é, as pessoas ficam ainda mais convencidas de suas ideias originais por medo de uma novidade disruptiva. Esse medo pode levar as pessoas a tentarem convencer outras de sua visão de mundo, mas disseminar a informação na qual acredita se torna um ato perigoso quando o componente emocional entra em jogo. Para algumas pessoas vale tudo. Até mentir. Essa é a gênese das “notícias” falsas.
A docente do departamento de ciência da informação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Ana Cristina de Albuquerque, é doutora em Ciência da Informação pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e ressalta que a disseminação das informações falsas não é um fenômeno novo. “Há registros de historiadores do século 4 que identificaram histórias duvidosas sobre alguns imperadores”, destacou. Ela afirma que há um apelo popular, emocional e servem como gatilho catalisador para que pessoas de várias idades e de diferentes níveis de escolaridade sejam estimuladas a acreditar e a disseminar essas informações. Mesmo sendo um fenômeno antigo, ela ressalta que agora há um fator enfático, que são plataformas digitais. Ela ressaltou que nas redes sociais a tendência é viver com essas bolhas e para rompê-las só por meio da educação. “Mas não é qualquer uma delas, é a educação crítica, que dê condições da pessoa pensar e não a coloque em um ambiente alienado. Esse é um
desafio muito grande, principalmente em um País como o nosso”, apontou.
A docente diferencia a notícia errada da falsa notícia. Segundo ela, a notícia errada é aquela em que existe a chance de corrigir uma informação, mas a falsa notícia é produzida intencionalmente para criar um boato. Ela explica que a falsa notícia nunca é gerada por brincadeira e comumente causa prejuízos. São informações criadas para ter propagação rápida e para provocar a desinformação.
Para quem acredita que as redes sociais são meios democráticos para a difusão da informação, ela apontou que a horizontalidade das redes sociais é uma falácia. “Existem relações de poder. As notícias falsas têm muito mais propagação que notícias verídicas. Todas essas questões de leis sobre redes sociais e aplicativos são extremamente urgentes”, afirmou. “Se tivéssemos conhecimento científico sendo divulgado com velocidade e dinâmicas que são divulgadas notícias falsas seria maravilhoso, mas não é assim que nós vemos”, destacou.
MODELO DE NEGÓCIO
O professor André Azevedo da Fonseca ministra a disciplina de Tecnologias de Comunicação e Informação para o curso de jornalismo da UEL e ressalta que as informações falsas se espalham muito nas redes sociais pelo próprio modelo de negócios. “As pessoas ficam muito suscetíveis a reagir quando se deparam com conteúdos que são escandalosos, exagerados e provocam raiva. Os próprios criadores das redes sociais fizeram um sistema em que as pessoas são recompensadas emocionalmente diante desse tipo de conteúdo. As pessoas se sentem estimuladas a reagir, a engajar, a criticar, a participar e compartilhar. Por outro lado, o momento político acirrado faz com que as pessoas compartilhem sabendo que as informações são falsas com o objetivo de convencer o outro até mesmo com mentiras.”
Segundo ele, muitos imaginam que as redes sociais são um terreno democrático, livre e cada um pode se expressar da forma que quiser e acham que a informação circula de forma saudável. “Não é o que acontece. As redes sociais têm interesses. Há propaganda disfarçada de informação. Existe a intermediação das redes sociais, mas esse intermediário, que são os algoritmos, é invisível. Eles não são neutros. São as programações da própria rede para direcionar conteúdo de forma deliberada. Elas distorcem ou amplificam temas que não tem importância e ocultam temas que são importantes. O grande objetivo dos algoritmos não é informar e oferecer conteúdos de qualidade, mas promover engajamento, seja por raiva ou por desejo, para que a pessoa fique mais tempo na plataforma. Assim a pessoa entrega seus dados e cada detalhe de interação da pessoa torna-se commoditie. São dados preciosos e caros que as redes sociais vendem por milhões para empresas de publicidade”.
Para Azevedo, a virtude dos veículos tradicionais é que os vieses são declarados. “Esses veículos podem ser criticados a partir de determinada perspectiva, mas nas redes sociais há a ilusão de que a matéria não tem filtro, mas não há parâmetro para criticar se a informação é correta ou não.” Ele reforça que a informação divulgada na rede social não é assinada, não vem de lugar algum. “A pessoa pode inventar qualquer coisa e isso pode convencer as pessoas, até as instruídas. De repente aparecem gráficos no Whatsapp querendo provar qualquer coisa e as pessoas acreditam sem saber de onde vem esse gráfico, quem foi que criou e quais eram as intenções da pessoa que criou aquilo. Como a imagem do gráfico é impactante, as pessoas atribuem importância matemática de certeza a uma imagem com essa retórica. Esses truques acabam sendo bem sucedidos. Um dos cuidados imprescindíveis para lidar com rede social é buscar sempre a fonte”.
Outro conselho é desconfiar de tudo. “Esse é o primeiro ponto. O segundo é não ser muito ávido na hora de compartilhar.” Ele recomenda às pessoas a não criticar a publicação sem antes parar para pensar sobre ela. “Há várias formas de enganar. Matérias antigas são compartilhadas e as pessoas são induzidas a acreditar que são recentes por não ver a data da matéria. Muitas vezes é uma notícia verdadeira, mas por ser velha pode induzir ao erro pela falta de contexto. É preciso ter calma e paciência. A pessoa não deve se impressionar imediatamente pelo conteúdo que circula pela linha do tempo em sua rede social.”
Nas redes sociais têm circulado um vídeo acusando os hospitais de receber R$ 18 mil a cada registro de óbito por Covid-19. No vídeo o narrador exibe um atestado de óbito do dia 16 de junho, e diz que o documento é de um sujeito que morreu de infarto e que havia a anotação de que a causa era Covid-19. A gravação foi feita por um morador do município de Ipê (RS). Logo a Smsas (Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social de Ipê) emitiu uma nota pela qual diz que a declaração de óbito apresentada trata-se de um óbito domiciliar que ocorreu no município de Ipê e foi atestado por médico lotado na Secretaria Municipal de Saúde. “Por se tratar de um óbito domiciliar, sem assistência médica, não foi possível a precisão da causa mortis. Desta forma, seguiu-se o protocolo estabelecido pela resolução conjunta do Cremers (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul) nº01/2020 (art.3).” O protocolo determina a coleta de material biológico até 24 horas após o óbito para exame de SARS-COV2, a ser encaminhado para o laboratório, e recomenda que o médico descreva a sequência de diagnósticos na Declaração de Óbito e as outras condições clínicas significativas que contribuíram para a morte e que não entraram na sequência que determinou a morte.
“Quanto à declaração que hospitais e instituições de saúde receberiam repasses de recursos por óbito confirmado de Covid19, desconhecemos tal informação, pois não há qualquer portaria ou decreto do Ministério da Saúde que confirme esta citação. Portanto, a Prefeitura Municipal de Ipê através da Smsas (Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social de Ipê) repudia toda e qualquer forma de fake news e desmoralização profissional. Alertamos à população que antes de acreditar, compartilhar ou disseminar qualquer tipo de informação, verifiquem a veracidade da mesma.”
Mesmo que o caso tenha ocorrido no Rio Grande do Sul, o vídeo tem circulado em redes sociais de londrinenses. A Diretora Superintendente
do HU/UEL (Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina), Vivian Feijó, ressalta que a informação é improcedente. “O Ministério da Saúde não preconiza valor para fazer registro por Covid-19. A diária do leito Covid-19 está fixada em R$ 1600. O leito de enfermaria Covid está fixado em R$ 300 reais por dia, com tempo médio de cinco dias”, destacou. Ela explicou que o protocolo determina que seja anotado a possibilidade de que o paciente morreu de Covid-19 quando não se consegue excluir esse diagnóstico no primeiro exame. “Sem esse resultado a pessoa pode estar no período de transmissibilidade e é preciso adotar medidas sanitárias de proteção de todos que manipulam esse corpo, como os preparadores de corpo, o pessoal do necrotério, o pessoal que trabalha no serviço funerário, etc.”
Ela relatou que o HU já foi vítima de informações falsas, quando áudios compartilhados em aplicativo de mensagens geraram especulação sobre três crianças que estariam entubadas por conta do Covid-19, no HU de Londrina, o que era falso. “O Gaeco fez um trabalho de excelência. Quando uma informação falsa gera pânico na população pode provocar o caos e pessoas podem adoecer em função dessa angústia”.
OUTRA REALIDADE
O Secretário de Saúde de Londrina, Felippe Machado, ressaltou que não que não existe essa história de que o município ganhe por mortes por Covid-19. “Os tratamentos do SUS têm uma tabela. Com o advento da Covid-19, o Ministério da Saúde criou códigos diferenciados para internação em enfermaria de Covid-19 e outro para UTI de Covid-19”, explicou.
“A Covid está ensinando muita coisa para nós. Estamos vivendo uma outra realidade. O consumo de EPIS (Equipamentos de Proteção Individual) aumentou absurdamente, porque temos que garantir a segurança do profissional de saúde, porque é a categoria mais suscetível à contaminação por conta da exposição ao vírus. Há gastos com esterilização, com higienização, ações que já eram realizadas devido ao protocolo hospitalar, mas com o advento da Covid-19 há diferenças em relação ao protocolo de higienização das ambulâncias do SAMU, por exemplo.
ITENS QUE NÃO FAZIAM PARTE DAS AQUISIÇÕES
A farmacêutica Daniele Zampar é assessora técnica da Secretaria de Saúde e integra o comitê de suprimentos Covid-19. Ela ressalta que muitos itens que usam hoje não eram comprados até o ano passado. “Ítens como o macacão de proteção e aventais descartáveis impermeáveis não faziam parte dos equipamentos de proteção que adquirimos até o ano passado. O macacão era zero. Hoje adquirimos 1500 macacões por mês. Cada um custando R$ 29. Os aventais também não eram adquiridos e agora estamos usando 10 mil unidades por mês e cada um custa R$ 10”. Zampar destacou que o consumo da máscara FPF 2 (Fator de Proteção Facial número 2), também conhecida por N95, não atingia 100 unidades por mês e agora são usadas cerca de três mil por mês. “Cada uma custa R$ 12 aproximadamente. Antes não usávamos 100 por mês, porque era só usada para sarampo ou outros procedimentos específicos. Antes distribuíamos 30 óculos por mês, agora o consumo é de 250 unidades por mês”. O face shield (uma proteção transparente para o rosto) nunca foi comprado. “Até agora só recebemos doação, mas teremos de comprar a partir de agora”, apontou.
ORÇAMENTOS E PESQUISA
O Secretário Municipal de Gestão Pública de Londrina, Fábio Cavazotti, ressaltou que todas as compras feitas para a Covid-19 são instruídas com muitos orçamentos e com uma pesquisa de mercado bem ampla. “Isso garante um valor efetivamente praticado. Todas as compras são discriminadas separadamente na página de Covid-19, em nosso site, além de estar também no Portal de Transparência. Em Londrina tomamos a decisão de não fazer o pagamento antecipado dos produtos. Ele só é feito depois de recebido o produto e atestada a qualidade pela Secretaria de Saúde”, enfatizou. Um exemplo de produto que não era utilizado anteriormente e hoje precisa ser adquirido são os reagente para fazer os testes para a detecção do novo coronavírus. “Se tivéssemos que contratar laboratórios para realizar esses testes, ele sairia por mais de R$ 200 e com a compra de reagentes e o termo de cooperação com o laboratório do HU podemos fazer testes PCR padrão ouro para detecção da Covid por pouco mais de R$ 40. Muito menos que um teste rápido que custa R$ 150 ”, declarou Cavazotti.
Quando uma informação falsa gera pânico na população pode provocar o caos e pessoas podem adoecer em função dessa angústia”
O BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul) terá R$ 460 milhões para fomentar o desenvolvimento do agronegócio do Paraná. O valor integra o Plano Safra 2020/2021, editado pelo Governo Federal, e é 6,1% superior ao volume para crédito disponível na safra anterior no Estado, informa a Agência Estadual de Notícias. Em vigência desde o dia 1º de julho, o Plano Safra vai destinar, no total, R$ 236,3 bilhões para apoiar a produção agropecuária de pequenos, médios e grandes produtores do País.
O anúncio foi feito pelo governador Ratinho Junior na quarta-feira (08). “São recursos que vão ajudar o Paraná a avançar cada vez mais no agronegócio, a ser protagonista no mundo da produção de alimentos”, afirmou ele.
“Essa parceria do BRDE com o agronegócio é formidável. Permite capitalizar cooperativas, associações e os pequenos agricultores, colaborando com a expansão dos negócios. É isso que gera emprego e renda no campo e vai ajudar o Paraná a se reerguer desta crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus”, ressaltou o governador.
Ratinho Junior destacou que o montante disponível para a próxima safra representa 46% do que foi financiado pela agência paranaense do BRDE nas últimas três safras, estimado em cerca de R$ 1 bilhão.
Diretor de Operações do BRDE, Wilson Bley Lipski explicou que o Banco é agente financeiro repassador de recursos para o plano de forma exclusiva no Estado. Segundo ele, o Paraná vai receber R$ 460 milhões por meio do Sistema Paranaense de Fomento. Valor que será integralmente destinado a financiar a próxima safra.
“Queremos ser o grande parceiro da agricultura paranaense. Ser um elo com os produtores que permita fazer da agricultura estadual a mais pujante do Brasil”, afirmou.
Lipski reforçou que outra novidade no Plano Safra 2020/2021, em relação ao anterior, é a redução nas taxas de juros aplicadas sobre os recursos para as atividades no campo.
Para agricultores enquadrados no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) , por exemplo, a taxa foi reduzida de 3 a 4,6% para 2,75 a 4%, enquanto o volume de crédito aumentou mais de 5%, alcançando a marca de R$ 33 bilhões no País. Nos casos dos demais produtores e cooperativas, houve redução de 2% na taxa de juros, alcançando a marca de 6%.
Nos créditos, o Plano destinou mais de R$ 170 bilhões nacionalmente. Nos casos dos produtores enquadrados no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural, são R$ 33,1 bilhões disponíveis em crédito e redução de taxa de juros de 6 para 5%. “Crédito na ponta de forma barata e longo prazo para pagamento, fomentando a criação de emprego e renda”, disse o diretor.
“Apesar da pandemia o momento do agronegócio estadual é bom. E o Plano Safra é realista, com aumento no volume de dinheiro ofertado e redução do custo”, explicou o secretário da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara . “Mas peço o uso racional do crédito”, completou. Ortigara destacou também o aumento de R$ 300 milhões na subvenção ao prêmio do seguro rural, que terá R$ 1,3 bilhão disponível para a próxima safra. “Esse é um importante instrumento que vem ganhando espaço na política agrícola nacional”, ressaltou.
Por entender essa importância, o Paraná tem um programa de seguro rural complementar ao federal. Para a atual safra foram destinados R$ 15 milhões. Os recursos ficam à disposição dos produtores para proteger várias lavouras. Auxiliar em casos de perdas climáticas, o programa é, neste instante, alternativa para redução de prejuízos devido à pandemia do novo coronavírus.
INOVAÇÃO
Além da ampliação de créditos, a redução nas taxas de juros e a subvenção do seguro rural, o Plano de Safra também prevê 33% a mais para o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária em comparação com o período, chegando à casa dos R$ 2 bilhões.