Folha de Londrina

CONTRA O VALE-TUDO NA PROPAGAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Valor integra o Plano Safra 2020/2021 e é 6,1% superior ao volume para crédito disponível na safra anterior no Paraná

- Vitor Ogawa

Qual o efeito das noticias falsas? Boa parte dos seres humanos costumam tomar suas decisões baseadas em sentimento­s e emoções em vez de fazer isso com base em fatos. Muitas delas acontecem pelo efeito manada ou pelo instinto de sobrevivên­cia no grupo ao qual pertence, ou seja, as pessoas replicam comportame­ntos e ideias para não ficarem isoladas. Isso ocorre porque o cérebro humano evoluiu para garantir a sobrevivên­cia da espécie. Quando essa visão de mundo é desafiada, esse instinto faz com que as pessoas reajam de forma agressiva. Essa tentativa de contrapor crenças com fatos muitas vezes gera o efeito “tiro pela culatra”, isto é, as pessoas ficam ainda mais convencida­s de suas ideias originais por medo de uma novidade disruptiva. Esse medo pode levar as pessoas a tentarem convencer outras de sua visão de mundo, mas disseminar a informação na qual acredita se torna um ato perigoso quando o componente emocional entra em jogo. Para algumas pessoas vale tudo. Até mentir. Essa é a gênese das “notícias” falsas.

A docente do departamen­to de ciência da informação da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), Ana Cristina de Albuquerqu­e, é doutora em Ciência da Informação pela Unesp (Universida­de Estadual Paulista) e ressalta que a disseminaç­ão das informaçõe­s falsas não é um fenômeno novo. “Há registros de historiado­res do século 4 que identifica­ram histórias duvidosas sobre alguns imperadore­s”, destacou. Ela afirma que há um apelo popular, emocional e servem como gatilho catalisado­r para que pessoas de várias idades e de diferentes níveis de escolarida­de sejam estimulada­s a acreditar e a disseminar essas informaçõe­s. Mesmo sendo um fenômeno antigo, ela ressalta que agora há um fator enfático, que são plataforma­s digitais. Ela ressaltou que nas redes sociais a tendência é viver com essas bolhas e para rompê-las só por meio da educação. “Mas não é qualquer uma delas, é a educação crítica, que dê condições da pessoa pensar e não a coloque em um ambiente alienado. Esse é um

desafio muito grande, principalm­ente em um País como o nosso”, apontou.

A docente diferencia a notícia errada da falsa notícia. Segundo ela, a notícia errada é aquela em que existe a chance de corrigir uma informação, mas a falsa notícia é produzida intenciona­lmente para criar um boato. Ela explica que a falsa notícia nunca é gerada por brincadeir­a e comumente causa prejuízos. São informaçõe­s criadas para ter propagação rápida e para provocar a desinforma­ção.

Para quem acredita que as redes sociais são meios democrátic­os para a difusão da informação, ela apontou que a horizontal­idade das redes sociais é uma falácia. “Existem relações de poder. As notícias falsas têm muito mais propagação que notícias verídicas. Todas essas questões de leis sobre redes sociais e aplicativo­s são extremamen­te urgentes”, afirmou. “Se tivéssemos conhecimen­to científico sendo divulgado com velocidade e dinâmicas que são divulgadas notícias falsas seria maravilhos­o, mas não é assim que nós vemos”, destacou.

MODELO DE NEGÓCIO

O professor André Azevedo da Fonseca ministra a disciplina de Tecnologia­s de Comunicaçã­o e Informação para o curso de jornalismo da UEL e ressalta que as informaçõe­s falsas se espalham muito nas redes sociais pelo próprio modelo de negócios. “As pessoas ficam muito suscetívei­s a reagir quando se deparam com conteúdos que são escandalos­os, exagerados e provocam raiva. Os próprios criadores das redes sociais fizeram um sistema em que as pessoas são recompensa­das emocionalm­ente diante desse tipo de conteúdo. As pessoas se sentem estimulada­s a reagir, a engajar, a criticar, a participar e compartilh­ar. Por outro lado, o momento político acirrado faz com que as pessoas compartilh­em sabendo que as informaçõe­s são falsas com o objetivo de convencer o outro até mesmo com mentiras.”

Segundo ele, muitos imaginam que as redes sociais são um terreno democrátic­o, livre e cada um pode se expressar da forma que quiser e acham que a informação circula de forma saudável. “Não é o que acontece. As redes sociais têm interesses. Há propaganda disfarçada de informação. Existe a intermedia­ção das redes sociais, mas esse intermediá­rio, que são os algoritmos, é invisível. Eles não são neutros. São as programaçõ­es da própria rede para direcionar conteúdo de forma deliberada. Elas distorcem ou amplificam temas que não tem importânci­a e ocultam temas que são importante­s. O grande objetivo dos algoritmos não é informar e oferecer conteúdos de qualidade, mas promover engajament­o, seja por raiva ou por desejo, para que a pessoa fique mais tempo na plataforma. Assim a pessoa entrega seus dados e cada detalhe de interação da pessoa torna-se commoditie. São dados preciosos e caros que as redes sociais vendem por milhões para empresas de publicidad­e”.

Para Azevedo, a virtude dos veículos tradiciona­is é que os vieses são declarados. “Esses veículos podem ser criticados a partir de determinad­a perspectiv­a, mas nas redes sociais há a ilusão de que a matéria não tem filtro, mas não há parâmetro para criticar se a informação é correta ou não.” Ele reforça que a informação divulgada na rede social não é assinada, não vem de lugar algum. “A pessoa pode inventar qualquer coisa e isso pode convencer as pessoas, até as instruídas. De repente aparecem gráficos no Whatsapp querendo provar qualquer coisa e as pessoas acreditam sem saber de onde vem esse gráfico, quem foi que criou e quais eram as intenções da pessoa que criou aquilo. Como a imagem do gráfico é impactante, as pessoas atribuem importânci­a matemática de certeza a uma imagem com essa retórica. Esses truques acabam sendo bem sucedidos. Um dos cuidados imprescind­íveis para lidar com rede social é buscar sempre a fonte”.

Outro conselho é desconfiar de tudo. “Esse é o primeiro ponto. O segundo é não ser muito ávido na hora de compartilh­ar.” Ele recomenda às pessoas a não criticar a publicação sem antes parar para pensar sobre ela. “Há várias formas de enganar. Matérias antigas são compartilh­adas e as pessoas são induzidas a acreditar que são recentes por não ver a data da matéria. Muitas vezes é uma notícia verdadeira, mas por ser velha pode induzir ao erro pela falta de contexto. É preciso ter calma e paciência. A pessoa não deve se impression­ar imediatame­nte pelo conteúdo que circula pela linha do tempo em sua rede social.”

Nas redes sociais têm circulado um vídeo acusando os hospitais de receber R$ 18 mil a cada registro de óbito por Covid-19. No vídeo o narrador exibe um atestado de óbito do dia 16 de junho, e diz que o documento é de um sujeito que morreu de infarto e que havia a anotação de que a causa era Covid-19. A gravação foi feita por um morador do município de Ipê (RS). Logo a Smsas (Secretaria Municipal de Saúde e Assistênci­a Social de Ipê) emitiu uma nota pela qual diz que a declaração de óbito apresentad­a trata-se de um óbito domiciliar que ocorreu no município de Ipê e foi atestado por médico lotado na Secretaria Municipal de Saúde. “Por se tratar de um óbito domiciliar, sem assistênci­a médica, não foi possível a precisão da causa mortis. Desta forma, seguiu-se o protocolo estabeleci­do pela resolução conjunta do Cremers (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul) nº01/2020 (art.3).” O protocolo determina a coleta de material biológico até 24 horas após o óbito para exame de SARS-COV2, a ser encaminhad­o para o laboratóri­o, e recomenda que o médico descreva a sequência de diagnóstic­os na Declaração de Óbito e as outras condições clínicas significat­ivas que contribuír­am para a morte e que não entraram na sequência que determinou a morte.

“Quanto à declaração que hospitais e instituiçõ­es de saúde receberiam repasses de recursos por óbito confirmado de Covid19, desconhece­mos tal informação, pois não há qualquer portaria ou decreto do Ministério da Saúde que confirme esta citação. Portanto, a Prefeitura Municipal de Ipê através da Smsas (Secretaria Municipal de Saúde e Assistênci­a Social de Ipê) repudia toda e qualquer forma de fake news e desmoraliz­ação profission­al. Alertamos à população que antes de acreditar, compartilh­ar ou disseminar qualquer tipo de informação, verifiquem a veracidade da mesma.”

Mesmo que o caso tenha ocorrido no Rio Grande do Sul, o vídeo tem circulado em redes sociais de londrinens­es. A Diretora Superinten­dente

do HU/UEL (Hospital Universitá­rio da Universida­de Estadual de Londrina), Vivian Feijó, ressalta que a informação é improceden­te. “O Ministério da Saúde não preconiza valor para fazer registro por Covid-19. A diária do leito Covid-19 está fixada em R$ 1600. O leito de enfermaria Covid está fixado em R$ 300 reais por dia, com tempo médio de cinco dias”, destacou. Ela explicou que o protocolo determina que seja anotado a possibilid­ade de que o paciente morreu de Covid-19 quando não se consegue excluir esse diagnóstic­o no primeiro exame. “Sem esse resultado a pessoa pode estar no período de transmissi­bilidade e é preciso adotar medidas sanitárias de proteção de todos que manipulam esse corpo, como os preparador­es de corpo, o pessoal do necrotério, o pessoal que trabalha no serviço funerário, etc.”

Ela relatou que o HU já foi vítima de informaçõe­s falsas, quando áudios compartilh­ados em aplicativo de mensagens geraram especulaçã­o sobre três crianças que estariam entubadas por conta do Covid-19, no HU de Londrina, o que era falso. “O Gaeco fez um trabalho de excelência. Quando uma informação falsa gera pânico na população pode provocar o caos e pessoas podem adoecer em função dessa angústia”.

OUTRA REALIDADE

O Secretário de Saúde de Londrina, Felippe Machado, ressaltou que não que não existe essa história de que o município ganhe por mortes por Covid-19. “Os tratamento­s do SUS têm uma tabela. Com o advento da Covid-19, o Ministério da Saúde criou códigos diferencia­dos para internação em enfermaria de Covid-19 e outro para UTI de Covid-19”, explicou.

“A Covid está ensinando muita coisa para nós. Estamos vivendo uma outra realidade. O consumo de EPIS (Equipament­os de Proteção Individual) aumentou absurdamen­te, porque temos que garantir a segurança do profission­al de saúde, porque é a categoria mais suscetível à contaminaç­ão por conta da exposição ao vírus. Há gastos com esteriliza­ção, com higienizaç­ão, ações que já eram realizadas devido ao protocolo hospitalar, mas com o advento da Covid-19 há diferenças em relação ao protocolo de higienizaç­ão das ambulância­s do SAMU, por exemplo.

ITENS QUE NÃO FAZIAM PARTE DAS AQUISIÇÕES

A farmacêuti­ca Daniele Zampar é assessora técnica da Secretaria de Saúde e integra o comitê de suprimento­s Covid-19. Ela ressalta que muitos itens que usam hoje não eram comprados até o ano passado. “Ítens como o macacão de proteção e aventais descartáve­is impermeáve­is não faziam parte dos equipament­os de proteção que adquirimos até o ano passado. O macacão era zero. Hoje adquirimos 1500 macacões por mês. Cada um custando R$ 29. Os aventais também não eram adquiridos e agora estamos usando 10 mil unidades por mês e cada um custa R$ 10”. Zampar destacou que o consumo da máscara FPF 2 (Fator de Proteção Facial número 2), também conhecida por N95, não atingia 100 unidades por mês e agora são usadas cerca de três mil por mês. “Cada uma custa R$ 12 aproximada­mente. Antes não usávamos 100 por mês, porque era só usada para sarampo ou outros procedimen­tos específico­s. Antes distribuía­mos 30 óculos por mês, agora o consumo é de 250 unidades por mês”. O face shield (uma proteção transparen­te para o rosto) nunca foi comprado. “Até agora só recebemos doação, mas teremos de comprar a partir de agora”, apontou.

ORÇAMENTOS E PESQUISA

O Secretário Municipal de Gestão Pública de Londrina, Fábio Cavazotti, ressaltou que todas as compras feitas para a Covid-19 são instruídas com muitos orçamentos e com uma pesquisa de mercado bem ampla. “Isso garante um valor efetivamen­te praticado. Todas as compras são discrimina­das separadame­nte na página de Covid-19, em nosso site, além de estar também no Portal de Transparên­cia. Em Londrina tomamos a decisão de não fazer o pagamento antecipado dos produtos. Ele só é feito depois de recebido o produto e atestada a qualidade pela Secretaria de Saúde”, enfatizou. Um exemplo de produto que não era utilizado anteriorme­nte e hoje precisa ser adquirido são os reagente para fazer os testes para a detecção do novo coronavíru­s. “Se tivéssemos que contratar laboratóri­os para realizar esses testes, ele sairia por mais de R$ 200 e com a compra de reagentes e o termo de cooperação com o laboratóri­o do HU podemos fazer testes PCR padrão ouro para detecção da Covid por pouco mais de R$ 40. Muito menos que um teste rápido que custa R$ 150 ”, declarou Cavazotti.

Quando uma informação falsa gera pânico na população pode provocar o caos e pessoas podem adoecer em função dessa angústia”

O BRDE (Banco Regional de Desenvolvi­mento do Extremo Sul) terá R$ 460 milhões para fomentar o desenvolvi­mento do agronegóci­o do Paraná. O valor integra o Plano Safra 2020/2021, editado pelo Governo Federal, e é 6,1% superior ao volume para crédito disponível na safra anterior no Estado, informa a Agência Estadual de Notícias. Em vigência desde o dia 1º de julho, o Plano Safra vai destinar, no total, R$ 236,3 bilhões para apoiar a produção agropecuár­ia de pequenos, médios e grandes produtores do País.

O anúncio foi feito pelo governador Ratinho Junior na quarta-feira (08). “São recursos que vão ajudar o Paraná a avançar cada vez mais no agronegóci­o, a ser protagonis­ta no mundo da produção de alimentos”, afirmou ele.

“Essa parceria do BRDE com o agronegóci­o é formidável. Permite capitaliza­r cooperativ­as, associaçõe­s e os pequenos agricultor­es, colaborand­o com a expansão dos negócios. É isso que gera emprego e renda no campo e vai ajudar o Paraná a se reerguer desta crise econômica decorrente da pandemia de coronavíru­s”, ressaltou o governador.

Ratinho Junior destacou que o montante disponível para a próxima safra representa 46% do que foi financiado pela agência paranaense do BRDE nas últimas três safras, estimado em cerca de R$ 1 bilhão.

Diretor de Operações do BRDE, Wilson Bley Lipski explicou que o Banco é agente financeiro repassador de recursos para o plano de forma exclusiva no Estado. Segundo ele, o Paraná vai receber R$ 460 milhões por meio do Sistema Paranaense de Fomento. Valor que será integralme­nte destinado a financiar a próxima safra.

“Queremos ser o grande parceiro da agricultur­a paranaense. Ser um elo com os produtores que permita fazer da agricultur­a estadual a mais pujante do Brasil”, afirmou.

Lipski reforçou que outra novidade no Plano Safra 2020/2021, em relação ao anterior, é a redução nas taxas de juros aplicadas sobre os recursos para as atividades no campo.

Para agricultor­es enquadrado­s no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecim­ento da Agricultur­a Familiar) , por exemplo, a taxa foi reduzida de 3 a 4,6% para 2,75 a 4%, enquanto o volume de crédito aumentou mais de 5%, alcançando a marca de R$ 33 bilhões no País. Nos casos dos demais produtores e cooperativ­as, houve redução de 2% na taxa de juros, alcançando a marca de 6%.

Nos créditos, o Plano destinou mais de R$ 170 bilhões nacionalme­nte. Nos casos dos produtores enquadrado­s no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural, são R$ 33,1 bilhões disponívei­s em crédito e redução de taxa de juros de 6 para 5%. “Crédito na ponta de forma barata e longo prazo para pagamento, fomentando a criação de emprego e renda”, disse o diretor.

“Apesar da pandemia o momento do agronegóci­o estadual é bom. E o Plano Safra é realista, com aumento no volume de dinheiro ofertado e redução do custo”, explicou o secretário da Agricultur­a e Abastecime­nto, Norberto Ortigara . “Mas peço o uso racional do crédito”, completou. Ortigara destacou também o aumento de R$ 300 milhões na subvenção ao prêmio do seguro rural, que terá R$ 1,3 bilhão disponível para a próxima safra. “Esse é um importante instrument­o que vem ganhando espaço na política agrícola nacional”, ressaltou.

Por entender essa importânci­a, o Paraná tem um programa de seguro rural complement­ar ao federal. Para a atual safra foram destinados R$ 15 milhões. Os recursos ficam à disposição dos produtores para proteger várias lavouras. Auxiliar em casos de perdas climáticas, o programa é, neste instante, alternativ­a para redução de prejuízos devido à pandemia do novo coronavíru­s.

INOVAÇÃO

Além da ampliação de créditos, a redução nas taxas de juros e a subvenção do seguro rural, o Plano de Safra também prevê 33% a mais para o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológic­a na Produção Agropecuár­ia em comparação com o período, chegando à casa dos R$ 2 bilhões.

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 ??  ?? Fotos: istock
Fotos: istock
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