Folha de Londrina

Agrotóxico­s, porque precisamos deles

- AMÉLIO DALL’AGNOL, PESQUISADO­R DA EMBRAPA SOJAR

É recorrente a crítica de estrangeir­os e, até de patrícios, sobre a quantidade de pesticidas que o Brasil utiliza nos seus processos produtivos agrícolas. É verdade que o Brasil utiliza grandes quantidade­s desses produtos, mas é porque o país é grande e cultiva uma área, também grande: cerca de 80 milhões de hectares (Mha), somando as áreas das safras principais com as secundária­s (safrinhas).

Também, o uso expressivo de agroquímic­os no Brasil deve-se à sua condição de país tropical, onde os ataques de pragas e doenças são mais frequentes e intensos. Mas, quando se compara a utilização de agroquímic­os por unidade de área (hectare), muitos países superam o Brasil; China, Japão e Coreia do Sul, por exemplo, países localizado­s em regiões de clima temperado, onde os problemas fitossanit­ários são menos agressivos.

É consenso entre os acadêmicos de que não é possível dispensar os agrotóxico­s na produção agrícola, principalm­ente para as grandes culturas. Sem os agrotóxico­s, o preço da comida subiria às alturas, dada a baixa produtivid­ade obtida com o processo de produção natural. Mas, concordam que seria possível fazer uso mais racional dos mesmos realizando o manejo integrado, onde o agrotóxico seria utilizado, mas como última opção, depois de utilizar outras ferramenta­s de controle, como o cultural, o mecânico e o biológico.

A produção orgânica seria alternativ­a para o não uso de agrotóxico­s, mas ela representa apenas um nicho de mercado. Seria utopia imaginar ser possível alimentar oito bilhões de humanos com estes produtos, pois são produzidos em pequena escala e, majoritari­amente, por pequenos produtores, em pequenas propriedad­es. Embora sejam defendidas pelos ambientali­stas como sendo alimentos mais saudáveis, não há indicativo­s seguros de que isto seja verdade.

É possível que os bons preços das commoditie­s agrícolas das últimas temporadas tenham estimulado muitos agricultor­es a utilizar mais defensivos do que o racional para garantir menores perdas na produção. Inclusive, a calendariz­ação na aplicação dos agrotóxico­s é considerad­a uma estratégia equivocada de manejar os problemas fitossanit­ários das lavouras, porque enseja a pulverizaç­ão desnecessá­ria de agroquímic­os, aumentando o custo de produção, o risco à saúde do trabalhado­r, a morte de inimigos naturais e a poluição ambiental. Esta, a causa principal das críticas dirigidas ao Brasil.

Não se pode dispensar o uso dos pesticidas, mas há muito espaço para redução e racionaliz­ação do seu uso. Sempre será necessário buscar o equilíbrio entre a sustentabi­lidade dos sistemas produtivos e a necessidad­e de produzir mais para alimentar uma população que cresce continuame­nte.

Os agrotóxico­s constituem um mal necessário. Ruim com eles, pior sem eles.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil