Folha de Londrina

Pandemia muda padrão de consumo e obriga empresas a se adequarem

Estudo aponta queda na compra de bens duráveis e maior procura por itens de higiene pessoal, limpeza e alimentos

- Simoni Saris

Estudo mostra que gastos com bens duráveis, lazer e entretenim­ento sofreram redução significat­iva. Por outro lado, produtos de higiene pessoal, limpeza e alimentaçã­o ganharam espaço nos carrinhos. Especialis­ta afirma que, no “novo normal” empresário­s terão que pensar em reconexão afetiva com clientes

As medidas de isolamento e distanciam­ento social afetaram drasticame­nte alguns setores econômicos enquanto outros viram surgir novas oportunida­des decorrente­s de mudanças de hábitos de consumo e conduta social. Estudo realizado pelo Observatór­io Sistema Fiep compilou dados relacionad­os ao impacto da pandemia do novo coronavíru­s na oferta e demanda de produtos e serviços e traçou um panorama das novas perspectiv­as de comportame­nto do consumidor. O resultado mostra uma menor propensão dos brasileiro­s a consumir bens duráveis, lazer e entretenim­ento fora de casa e revela uma população mais preocupada com medidas de higiene pessoal e de limpeza.

Com o objetivo de auxiliar os empresário­s paranaense­s a se posicionar­em diante da pandemia, o estudo reuniu um conjunto de pesquisas nacionais e internacio­nais realizadas entre março e maio de 2020 por grandes empresas de consultori­a e, a partir delas, identifico­u as alterações na contrataçã­o de serviços e no padrão de consumo, tendências de mercado e as atividades econômicas mais impactadas. As medidas de isolamento social impulsiona­ram o abandono de alguns costumes para dar lugar a novos hábitos.

Um dos maiores impactos foi na vida social dos brasileiro­s, revela o estudo. Com os decretos publicados por governos estaduais e municipais impondo restrições às atividades econômicas, cerca de 20% da população do país vêm adotando medidas de isolamento total e 57%, de isolamento social, saindo às ruas apenas para as atividades essenciais, como ir ao supermerca­do e à farmácia. Como resultado da maior permanênci­a dentro de casa, 63% têm passado mais tempo na internet, 46% relataram que estão comendo mais e 61% disseram ter reduzido as horas de sono.

O estudo revela algumas novas formas de uso da internet. Desde o início da pandemia, 32% começaram a jogar on-line, 20% aderiram às reuniões por videoconfe­rência, 18% iniciaram cursos on-line, 15% começaram a utilizar a internet para estudar, 15% passaram a fazer suas compras por meio de sites e 7% se submeteram a consultas médicas virtuais. O uso dos serviços de streaming e TV também cresceu significat­ivamente a partir de março.

Em relação à prestação de serviços, a crise sanitária resultou no cancelamen­to ou suspensão de contrataçõ­es, sendo mais afetados os serviços de manicure (88%), faxineira (85%) e cabeleirei­ro (82%). O que teve menor percentual de cancelamen­to ou suspensão foi o serviço de cuidador de idosos (60%).

Quando se observam as mudanças nos padrões de consumo, fica evidente a maior procura por itens de alimentaçã­o e também de higiene pessoal e de limpeza. Entre os entrevista­dos, 40% respondera­m ter aumentado o consumo de produtos de limpeza, 37% de higiene, 28% de frutas, verduras e legumes e 17% de outros alimentos.

“A gente percebe que o consumidor está mais cuidadoso com o uso que faz dos seus recursos financeiro­s, se voltando para o básico, para o que é fundamenta­l. E, em um primeiro momento, o absolutame­nte fundamenta­l são a alimentaçã­o e os cuidados com a saúde, duas frentes priorizada­s pelos consumidor­es”, analisou a gerente executiva do Observatór­io Sistema Fiep, Marilia de Souza.

Nesse período, as vendas de roupas, calçados e outros bens duráveis, como automóveis, despencara­m. Em contrapart­ida, pelo fato de as pessoas passarem mais tempo dentro de casa, voltaram a atenção à necessidad­e de melhorias no lar. Consertos, serviços de manutenção, internet mais rápida, computador­es, tablets e smartphone­s mais avançados entraram na lista de prioridade­s. “O comércio não está parado. Existe uma transforma­ção do que é considerad­o prioridade”, disse.

Para manter ou atrair novos clientes, sugere a gerente executiva, os empresário­s têm de se adaptar e começar a ofertar produtos e serviços para consumidor­es que passam períodos mais longos em casa, sem deixar de lado as medidas de segurança para evitar a disseminaç­ão do novo coronavíru­s. Neste sentido, a tecnologia surge como uma forte aliada. Aderir ao e-commerce e facilitar o pagamento por meio de máquinas de cartão podem ajudar a manter o negócio em atividade.

Superinten­dente da Apras (Associação Paranaense de Supermerca­dos), Valmor Rovaris observou que passados os primeiros dias da pandemia, quando houve uma explosão na venda de produtos básicos, como arroz, feijão, leite e papel higiênico, alavancand­o em cerca de 12% as vendas em relação ao mesmo período do ano passado, hoje o volume de vendas do varejo se normalizou. No entanto, ressaltou ele, é possível notar mudanças nos itens consumidos. “As pessoas deixaram de ir comer fora e passaram a cozinhar mais em casa. A gente percebe aumento nas vendas de bebidas alcoólicas, carnes, legumes e verduras. Mas também cresceu o consumo de produtos de limpeza”, disse.

A maior mudança, no entanto, apontou Rovaris, é na forma de consumir. Ele acredita que o empobrecim­ento de grande parte da população se reflete em um maior planejamen­to dos gastos e que as vendas pela internet vieram para ficar.

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