Pandemia muda padrão de consumo e obriga empresas a se adequarem
Estudo aponta queda na compra de bens duráveis e maior procura por itens de higiene pessoal, limpeza e alimentos
Estudo mostra que gastos com bens duráveis, lazer e entretenimento sofreram redução significativa. Por outro lado, produtos de higiene pessoal, limpeza e alimentação ganharam espaço nos carrinhos. Especialista afirma que, no “novo normal” empresários terão que pensar em reconexão afetiva com clientes
As medidas de isolamento e distanciamento social afetaram drasticamente alguns setores econômicos enquanto outros viram surgir novas oportunidades decorrentes de mudanças de hábitos de consumo e conduta social. Estudo realizado pelo Observatório Sistema Fiep compilou dados relacionados ao impacto da pandemia do novo coronavírus na oferta e demanda de produtos e serviços e traçou um panorama das novas perspectivas de comportamento do consumidor. O resultado mostra uma menor propensão dos brasileiros a consumir bens duráveis, lazer e entretenimento fora de casa e revela uma população mais preocupada com medidas de higiene pessoal e de limpeza.
Com o objetivo de auxiliar os empresários paranaenses a se posicionarem diante da pandemia, o estudo reuniu um conjunto de pesquisas nacionais e internacionais realizadas entre março e maio de 2020 por grandes empresas de consultoria e, a partir delas, identificou as alterações na contratação de serviços e no padrão de consumo, tendências de mercado e as atividades econômicas mais impactadas. As medidas de isolamento social impulsionaram o abandono de alguns costumes para dar lugar a novos hábitos.
Um dos maiores impactos foi na vida social dos brasileiros, revela o estudo. Com os decretos publicados por governos estaduais e municipais impondo restrições às atividades econômicas, cerca de 20% da população do país vêm adotando medidas de isolamento total e 57%, de isolamento social, saindo às ruas apenas para as atividades essenciais, como ir ao supermercado e à farmácia. Como resultado da maior permanência dentro de casa, 63% têm passado mais tempo na internet, 46% relataram que estão comendo mais e 61% disseram ter reduzido as horas de sono.
O estudo revela algumas novas formas de uso da internet. Desde o início da pandemia, 32% começaram a jogar on-line, 20% aderiram às reuniões por videoconferência, 18% iniciaram cursos on-line, 15% começaram a utilizar a internet para estudar, 15% passaram a fazer suas compras por meio de sites e 7% se submeteram a consultas médicas virtuais. O uso dos serviços de streaming e TV também cresceu significativamente a partir de março.
Em relação à prestação de serviços, a crise sanitária resultou no cancelamento ou suspensão de contratações, sendo mais afetados os serviços de manicure (88%), faxineira (85%) e cabeleireiro (82%). O que teve menor percentual de cancelamento ou suspensão foi o serviço de cuidador de idosos (60%).
Quando se observam as mudanças nos padrões de consumo, fica evidente a maior procura por itens de alimentação e também de higiene pessoal e de limpeza. Entre os entrevistados, 40% responderam ter aumentado o consumo de produtos de limpeza, 37% de higiene, 28% de frutas, verduras e legumes e 17% de outros alimentos.
“A gente percebe que o consumidor está mais cuidadoso com o uso que faz dos seus recursos financeiros, se voltando para o básico, para o que é fundamental. E, em um primeiro momento, o absolutamente fundamental são a alimentação e os cuidados com a saúde, duas frentes priorizadas pelos consumidores”, analisou a gerente executiva do Observatório Sistema Fiep, Marilia de Souza.
Nesse período, as vendas de roupas, calçados e outros bens duráveis, como automóveis, despencaram. Em contrapartida, pelo fato de as pessoas passarem mais tempo dentro de casa, voltaram a atenção à necessidade de melhorias no lar. Consertos, serviços de manutenção, internet mais rápida, computadores, tablets e smartphones mais avançados entraram na lista de prioridades. “O comércio não está parado. Existe uma transformação do que é considerado prioridade”, disse.
Para manter ou atrair novos clientes, sugere a gerente executiva, os empresários têm de se adaptar e começar a ofertar produtos e serviços para consumidores que passam períodos mais longos em casa, sem deixar de lado as medidas de segurança para evitar a disseminação do novo coronavírus. Neste sentido, a tecnologia surge como uma forte aliada. Aderir ao e-commerce e facilitar o pagamento por meio de máquinas de cartão podem ajudar a manter o negócio em atividade.
Superintendente da Apras (Associação Paranaense de Supermercados), Valmor Rovaris observou que passados os primeiros dias da pandemia, quando houve uma explosão na venda de produtos básicos, como arroz, feijão, leite e papel higiênico, alavancando em cerca de 12% as vendas em relação ao mesmo período do ano passado, hoje o volume de vendas do varejo se normalizou. No entanto, ressaltou ele, é possível notar mudanças nos itens consumidos. “As pessoas deixaram de ir comer fora e passaram a cozinhar mais em casa. A gente percebe aumento nas vendas de bebidas alcoólicas, carnes, legumes e verduras. Mas também cresceu o consumo de produtos de limpeza”, disse.
A maior mudança, no entanto, apontou Rovaris, é na forma de consumir. Ele acredita que o empobrecimento de grande parte da população se reflete em um maior planejamento dos gastos e que as vendas pela internet vieram para ficar.