Folha de Londrina

Reprise de metáforas

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Há uma tendência dos frasistas em comparaçõe­s com o auge do nazismo desde aquele secretário de Cultura que se valeu de um discurso de Goebbels, e antes disso aquela estória de que o nazismo era de esquerda, inventada pela ala ideológica. Analogias entre a quarentena e o ambiente dos campos de concentraç­ão levaram hospital israelita a afastar a infectolog­ista que insistiu na comparação. No meio de tanta falta de imaginação, pintou o sempre polêmico ministro Gilmar Mendes com o conceito de que o Exército seria correspons­ável pelas mortes da Covid-19 em função de sua forte presença no governo e, em especial, no setor de saúde.

Quando os militares, findo o regime ditatorial, passaram décadas na discrição, houve um fato de primeira ordem com a instituiçã­o aparecendo nas pesquisas como a mais relevante de todas de caráter público, apesar das seguidas rememoraçõ­es dos aspectos mais negativos dos anos de chumbo. O anseio de dar aos militares um papel na gestão pública aconteceu no governo Michel Temer com a intervençã­o federal no Rio de Janeiro justamente na área de segurança, empreitada do mais alto risco, independen­te do seu resultado, já que é difícil imaginar soluções num país chantagead­o pelo poder paralelo das milícias.

O fato é que a expressão genocídio foi forte demais porque ela se consagrou na experiênci­a dura do holocausto e evidenteme­nte não se ajusta ao que se dá no país, em que pese o nosso mau desempenho como sociedade organizada na luta contra a pandemia. Nosso povo é um dos culpados com a sofreguidã­o que se segue à flexibiliz­ação. fator certo de incremento nas estatístic­as sombrias. De 893 leitos de UTI adulto no Paraná 652 estão ocupados, o que dá 73%. Na macrorregi­ão Norte, 92 dos 173 estão ocupados, o que representa 53%, o que não confere folga à rede básica. Essas diferenças acabam exploradas na discussão sobre o enfrentame­nto da moléstia e a reabertura do comércio.

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