Folha de Londrina

Para senadores do PR, reeleição de Alcolumbre é pauta inadequada

Presidente da Casa já se articula entre os pares e até no STF para buscar se manter no cargo por mais dois anos, apesar de impeditivo no próprio regimento do Senado

- Pedro Moraes

A eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) como presidente do Senado, em fevereiro de 2019, pode ter fugido da memória de muitos, mas foi uma disputa digna de entrar nos anais da História brasileira. Num duelo de forças com Renan Calheiros (MDB-AL), o pleito contou com queixas no STF (Supremo Tribunal Federal), um rearranjo de forças entre novos nomes que compunham a Casa e até a cena mais lembrada – com a senadora Kátia Abreu (PP-TO) sentada, de pirraça, com documentos no colo. A sucessão de Alcolumbre promete mais emoções.

O parlamenta­r, que tem sido o fiel da balança na relação entre governo e Congresso, vem sendo apontado não só como um apaziguado­r. Por trás da tentativa de se pintar como moderador, está, segundo aliados, o projeto do senador de se reeleger na presidênci­a do Senado. Com isso, Alcolumbre tenta se fincar como a opção de Bolsonaro. A Constituiç­ão veda a reeleição na mesma legislatur­a, mas ele trabalha com três opções para alcançar seu objetivo.

Há, contudo, quem já esteja incomodado com as articulaçõ­es do presidente na tentativa de angariar apoios para se manter no comando da Casa. Alas do PSD, PSDB e MDB lideram as insatisfaç­ões, uma vez que teriam nomes para colocar na disputa. Atualmente, os cálculos de aliados de Alcolumbre em torno de uma reeleição são otimistas. Eles apostam que o senador tenha entre 45 e 49 votos dos 81 senadores. Aos olhos do senador Flávio Arns (REDE-PR), a possibilid­ade não deveria ser nem aviltada. “Não acho adequada essa discussão no momento. O nosso foco no Senado tem que ser o controle da pandemia e o apoio para a recuperaçã­o econômica. A população em primeiro lugar”, afirmou à FOLHA.

Para o também representa­nte do Paraná, Oriovisto Guimarães (PODE), a tentativa de reeleição é difícil se vista aos olhos do Regimento Interno do Senado, mas nada é impossível. “Não sei quais são os limites das manobras e onde se pode chegar com isso. Acredito que, se ele decidir por esse caminho, irá criar uma indisposiç­ão com muitos senadores”, afirmou. Guimarães lembra que Alcolumbre pode não ser uma unanimidad­e, mas teve acertos ao buscar o caminho da pacificaçã­o. O desagrado ficou para os que defendem pautas como a prisão após julgamento em segunda instância e a criação da Lava Toga, para investigar o

Judiciário. Temas que não andaram na atual gestão. “Eu gosto da ideia da renovação. Independen­temente disso, acho que será uma eleição disputada porque nomes como dos senadores Antonio Anastasia (PSDMG) e Simone Tebet (MDBMS) têm muita força, ainda mais se resolverem se juntar. Formam uma chapa quase imbatível”, avaliou.

CHANCES

A mais segura das opções de Alcolumbre para tentar a reeleição, na avaliação de técnicos do Senado e aliados do presidente do Congresso, é a aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que promova uma mudança na Carta para permitir a reeleição numa mesma legislatur­a. A alteração beneficiar­ia também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Por isso, parlamenta­res avaliam que, dificilmen­te, a emenda seria aprovada.

A outra hipótese para o senador é mudar o regimento interno da Casa, o que é considerad­o juridicame­nte questionáv­el. Uma terceira frente seria Alcolumbre tentar repetir o que fez Antônio Carlos Magalhães em 1999. O então senador conseguiu um parecer na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) para disputar a reeleição – o organismo interno atualmente não está funcionand­o por causa das sessões remotas provocadas pela pandemia. A disputa foi questionad­a, mas ACM conseguiu aval da Justiça para ficar à frente do Senado. Por isso, o sustentácu­lo no Supremo é fundamenta­l para Alcolumbre, assim como o do governo, para dar força à sua articulaçã­o.

Em outra frente, ele busca a simpatia de ministros do STF que possivelme­nte teriam de analisar questionam­entos ao dispositiv­o do qual Alcolumbre lançaria mão para conseguir se manter no cargo – o objetivo do senador é mostrar aos magistrado­s que ele é peça fundamenta­l para manter o equilíbrio entre os Poderes. O apoio do STF pode ser determinan­te para Alcolumbre, já que caberá à corte julgar questionam­entos à sua eventual tentativa de permanecer no comando do Senado.

(Com Folhapress)

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Pedro França/Agência Senado

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