Folha de Londrina

Defesa faz representa­ção à PGR contra crítica de Gilmar ao Exército

Frase do ministro do STF de que a corporação está se associando a “genocídio” em razão da política do Ministério da Saúde no combate à Covid-19 desagradou aos militares

- Igor Gielow

São Paulo - O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, vai entrar com uma representa­ção na PGR (Procurador­iaGeral da República) contra Gilmar Mendes.

No sábado (11), o ministro do Supremo Tribunal Federal havia dito que “o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável”, gerando grande contraried­ade entre os militares. Ele se referia às políticas do Ministério da Saúde, chefiado interiname­nte pelo general Eduardo Pazuello, no combate ao novo coronavíru­s.

Após uma série de conversas ao longo do domingo, Azevedo decidiu divulgar uma nota em tom bastante duro, co-assinada com os três comandante­s das Forças Armadas. Antes, o ministério havia apenas feito uma defesa de seu trabalho no combate à pandemia.

“Comentário­s dessa natureza, completame­nte afastados dos fatos, causam indignação. Trata-se de uma acusação grave, além de infundada, irresponsá­vel e sobretudo leviana. O ataque gratuito a instituiçõ­es de Estado não fortalece a democracia”, diz o texto.

Procurado em Lisboa, onde passa o recesso do Judiciário, Gilmar não quis comentar a nota dos militares.

Amigos do ministro afirmam que o contexto em que a frase foi dita era de uma crítica geral ao governo, não especifica­mente aos militares.

“Não é aceitável que se tenha esse vazio no Ministério da Saúde. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonis­mo do governo federal, é atribuir a responsabi­lidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa. Isso é ruim, é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. Não é razoável para o Brasil. É preciso pôr fim a isso”, disse Gilmar no sábado.

Sua fala causou irritação principalm­ente no Exército Azevedo é um general de quatro estrelas da reserva. Após a queda do breve Nelson Teich, a Força está no comando do Ministério da Saúde há dois meses, na figura do general da ativa Pazuello.

O presidente Jair Bolsonaro já disse que ele só está lá de forma interina, mas a militariza­ção dos principais cargos da pasta está em curso. Já são 28 os fardados no ministério, metade deles da ativa.

CRÍTICAS

A condução de Pazuello é alvo de críticas. O ministério tem dado protagonis­mo à contestada hidroxiclo­roquina como medicament­o a ser usado contra a Covid-19, e a mudança de critérios de divulgação de dados teve de ser interrompi­da por sugerir maquiagem de números. A crítica vocalizada por Gilmar é corrente no Supremo. Como a corte decidiu que prefeitos e governador­es teriam autonomia para lidar com a pandemia de acordo com realidades locais, Bolsonaro sempre que pode diz que o problema da pandemia não é totalmente de sua alçada.

Ministros do tribunal consideram as declaraçõe­s do presidente como uma forma de atingir a credibilid­ade do Supremo, na esteira do conflito entre Poderes que chegou quase ao paroxismo em maio e junho desde a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz e de operações contra rede de apoiadores, Bolsonaro recolheu-se e a crise arrefeceu.

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Rosinei Coutinho/STF Amigos de Gilmar Mendes afirmam que o contexto em que a frase foi dita era de uma crítica geral ao governo, não especifica­mente aos militares, que emitiram nota de repúdio

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