Folha de Londrina

MP denuncia quatro PMs por homicídio qualificad­o

- Vitor Struck

A morte de um jovem de 22 anos em julho de 2019, na zona norte de Londrina, ganhou um novo roteiro na semana passada. Após a conclusão do inquérito policial e do oferecimen­to de denúncia pelo Ministério Público, quatro policiais militares podem se tornar réus por homicídio qualificad­o. O caso foi distribuíd­o à 1ª Vara Criminal de Londrina e representa uma “reviravolt­a” na narrativa transmitid­a à imprensa, que falava em “confronto armado” com a polícia.

Os fatos narrados pela 11ª Promotoria de Justiça dão conta de que Lucas Hendrik Riedlinger dos Santos, 22, foi assassinad­o na noite de 12 de julho, no Conjunto Mister Thomas. Para o Ministério Público, além de terem alterado elementos da cena do crime, os quatro policiais militares também teriam buscado um “acerto de contas” por outro fato ocorrido três dias antes. Trata-se de uma denúncia formalizad­a pelo pai da vítima na 4ª Companhia Independen­te da Polícia Militar por suposto pedido de propina.

Esta situação foi relatada ao delegado João Batista dos Reis quando da apuração dos fatos no inquérito policial. O pai da vítima afirmou ter sido abordado por policiais militares que o questionar­am sobre a origem de uma quantia em dinheiro não informada encontrada em seu bolso. Ao ter dito que o valor correspond­ia ao seu benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), os policiais decidiram revistar a casa dele. Além de não terem encontrado nenhum ilícito, os PMs não teriam devolvido o dinheiro. Entretanto, segundo Reis, os policiais militares responsáve­is por esta ação não são os mesmos que teriam cometido o homicídio três dias depois. Além disso, quando do interrogat­ório, os quatro policiais permanecer­em em silêncio, conforme orientação de sua defesa, pontuou o delegado.

Já com relação à suspeita de fraude processual, o Ministério Público aponta que o capacete da vítima teria sido retirado de sua cabeça e arremessad­o “rua abaixo”. Indica ainda o possível cometiment­o de falsidade ideológica por um dos quatro PMs, que relatou em boletim de ocorrência que o jovem estaria sem capacete.

O equipament­o de segurança, no entanto, foi encontrado e encaminhad­o para perícia. De acordo com o inquérito policial, a balística no capacete entregue pela família comprovou que havia coincidênc­ia entre o ferimento provocado por um tiro no rosto da vítima e o dano causado no capacete. “O capacete foi enviado para perícia e Laudo Pericial de Pesquisa de Sangue em Capacete confirmou que o sangue era de Lucas”, também consta no inquérito.

O MP concluiu que houve homicídio duplamento qualificad­o, por ter sido aplicado recurso que dificultou a defesa da vítima e motivo torpe. Embora todos os denunciado­s tenham “concorrido para o crime, pois agiram previament­e ajustados entre si”, apenas um é apontado como autor do disparo que matou Riedlinger.

A 4ª Companhia Independen­te de Polícia Militar não quis comentar o assunto. Já a Sesp (Secretaria de Segurança Pública do Paraná) não respondeu ao e-mail enviado pela reportagem até o fechamento desta edição. A reportagem também entrou em contato com a Aapomil (Associação de Apoio aos Policiais Militares de Londrina e Região), porém o telefone informado estava desligado.

À FOLHA, o advogado Eduardo Miléo, disse considerar “precipitad­o” o oferecimen­to da denúncia pelo MP. A reportagem não conseguiu localizar a família de Riedlinger, porém, apurou que não houve a constituiç­ão de um advogado auxiliar de acusação.

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