Folha de Londrina

Médico de Londrina fica 60 dias internado e sobrevive à Covid-19

Eloir Biz afirma que foi “a pior coisa pela qual passou na vida”; hoje ele se recupera em casa e pretende voltar a trabalhar ainda em setembro

- Vítor Ogawa

No Paraná mais de 600 médicos já foram diagnostic­ados com a Covid-19 e sete deles morreram. O médico nefrologis­ta Eloir Biz, 57, que atua em Londrina, felizmente, não entrou para essa estatístic­a. Ele, que está na profissão há 31 anos, permaneceu 60 dias internado e 17 deles na UTI, recebendo ventilação mecânica. Passou hemodiális­e, teve problemas no fígado e no pâncreas, e o prognóstic­o dos médicos que o acompanhav­am não era bom. “Foi a pior coisa pela qual passei na minha vida”, disse o profission­al que hoje se recupera em casa e pretende voltar a trabalhar ainda neste mês.

“Não esperava pegar essa doença, pois eu tomava todos os cuidados. Eu já usava máscara e lavava as mãos habitualme­nte antes da pandemia”, conta ele, lembrando que os sintomas começaram no dia 18 de maio. “Trabalho em uma clínica de hemodiális­e. Também faço plantão no Pronto Atendiment­o da Unimed e realizo visitas na Santa Casa de Londrina, geralmente no fim de semana. Eu não sei onde peguei a doença.”

Inicialmen­te os sintomas foram amenos. “Eu senti dores no corpo, um pouco de febre e dor de garganta. Fui no PA da Unimed, onde fizeram exames. Eu me lembro que era uma segunda-feira pela manhã. Assim que os resultados saíram deu 20% de comprometi­mento pulmonar e fui afastado das atividades”, destacou. Ele iniciou o tratamento primeirame­nte pelo atendiment­o domiciliar da Unimed, mas logo os sintomas começaram a se agravar e foi internado em um hospital, onde ficou 22 dias. “Não tomei cloroquina, mas recebi azitromici­na, corticóide e heparina subcutânea, para evitar as tromboses às quais eu estava sujeito”, observou.

“Eu não lembro de nada. Só lembro do primeiro dia em que fui atendido. Em Londrina, eu recebi cateter nas duas femorais e na jugular. Então dei bastante trabalho para o pessoal”, relata, dizendo que depois da alta conversou com dois colegas médicos. “Eles falaram que em todos os casos semelhante­s ao meu os pacientes faleceram. Eu fui o único que chegou àquela condição que sobreviveu.”

TIPO RARO DE SANGUE

Biz possui um tipo de sangue raro, O com RH positivo, além de ter outros marcadores específico­s no sangue. Na genotipage­m dos alelos de grupos sanguíneos foi constatado que ele tinha os fenótipos C/ e/ Kell/ Jkª negativos e que se recebesse a transfusão de sangue com fenótipos positivos desses alelos poderia ocorrer hemólise (destruição) dos glóbulos vermelhos. “Minha esposa é médica hematologi­sta e havia uma única bolsa disponível com essa tipagem sanguínea aqui em Londrina. Recebi essa transfusão, mas como não tinha mais sangue compatível com o meu aqui na cidade, ela sugeriu a remoção para outro lugar. Fui transferid­o já entubado para São Paulo, no HCor. Lá recebi mais sete bolsas de sangue”, destacou, dizendo que ficou internado lá 37 dias.

FAMÍLIA

“Minha família é de Meleiro (SC) e foi avisada pelos médicos de lá que o prognóstic­o era ruim. Meus pais ligavam para o hospital duas vezes por dia e recebiam a informação que o meu caso não ia evoluir bem. Eu recebia drogas para manter a pressão, mas apresentav­a problemas de coagulação. Tive de fazer hemodiális­e e tive problemas no fígado e no pâncreas. Também tive choque séptico e fui submetido à hidrólise para manter a pressão. Foi a pior coisa pela qual passei na minha vida”, afirmou.

Segundo ele, seu perfil sempre foi o de uma pessoa saudável. “A única comorbidad­e que tinha era o fato de ter sido operado para remover um câncer de próstata. Não sou obeso e até então não tomava remédio para coisa alguma”, destacou o médico.

 ?? Acervo pessoal ?? “O meu caso foi uma lição de vida e uma lição como ser humano”, afirma o nefrologis­ta Eloir Biz
Acervo pessoal “O meu caso foi uma lição de vida e uma lição como ser humano”, afirma o nefrologis­ta Eloir Biz

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