O Brasil precisa reagir
E o Brasil voltou a um cenário de recessão. A retração inédita de 9,7% na economia registrada no segundo trimestre deste ano em comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta semana, indica que os efeitos da pandemia do coronavírus no país só são menos nefastos do que as mais de 124 mil mortes provocadas pela doença. É importante lembrar que mesmo antes do início dos primeiros casos de Covid-19 registrados no Brasil, em março, a economia já vinha cambaleante, com crescimento irrisório do PIB em meio a uma intensa turbulência política provocada pelos choques entre os Três Poderes constituídos - Executivo, Legislativo e Judiciário. Entramos em 2020 já com um cenário desolador em relação à geração de empregos, com mais de 13 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho.
No segundo trimestre deste ano, o PIB caiu 11,4%, atingindo o pior índice desde 2009. O ministro da Economia,
Paulo Guedes, cuja agenda liberal parece estar cada vez mais conflitante com o que pensa a equipe mais próxima do presidente Jair Bolsonaro, credita o mau desempenho à excepcionalidade de uma pandemia que virou o mundo de cabeça para baixo. Ele comparou a queda abrupta do PIB a um “barulho de um raio” que caiu no ano passado. “Estamos decolando em V”, afirmou ele nesta semana, tratando de procurar tranquilizar o mercado. É fato que os especialistas estão prevendo uma recuperada do cenário econômico até o final do ano, quando se espera que a pandemia recrudesça e os diversos setores produtivos voltem a demonstrar aquecimento.
Por enquanto, só o agronegócio, com sua inabalável capacidade exportadora, tem operado no azul. Setores vitais como o de serviços foram duramente afetados pela Covid-19, com o fechamento de lojas, shoppings, bares e restaurantes por causa do necessário isolamento social. Responsável por quase 70% do valor agregado ao PIB brasileiro, esse setor recuou quase 10% no trimestre. A indústria, outra locomotiva na geração de empregos, encolheu 12%, puxada pela queda na produção de produtos duráveis ou semiduráveis, como automóveis e vestuários.
Sem que se descuide dos protocolos sanitários que garantam a prevenção ao contágio do coronavírus, e mais do que isso, sem que se negligencie a capacidade da rede hospitalar de estados e municípios na reserva de leitos de UTI e de equipamentos essenciais àqueles que foram pegos pela doença e precisam do tratamento, urge unir esforços para que a economia do país saia menos esfacelada de todo esse período trágico que vem marcando o ano de 2020. O poder público e a iniciativa privada precisam agir em sintonia pelo mesmo bem comum, quer na aplicação correta dos recursos que visem combater a pandemia, quer na aprovação de medidas que ajudem a impulsionar os setores produtivos. Não há ideologia que resista a uma causa única: a de fazer o Brasil caminhar.
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