Folha de Londrina

Infraestru­tura digital: uma grande lição imposta pela pandemia

Expectativ­a é que muitas aprendizag­ens deste período serão incorporad­as ou readaptada­s para o ensino presencial

- Micaela Orikasa

Nos últimos sete meses, por causa da pandemia do coronavíru­s, famílias com filhos em idade escolar tiveram que encarar uma nova rotina para a qual a maioria não estava preparada. Nem as escolas. Relatório organizado pela OCDE (Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) mostra que o Brasil tem escolas com a pior proporção de computador­es por aluno entre os 79 países e território­s avaliados pelo último Pisa - instrument­o internacio­nal de avaliação da educação básica.

Ter ferramenta­s tecnológic­as e acesso à internet, porém, não são garantias de que as instituiçõ­es tiveram mais facilidade para trabalhar com o ensino remoto. A professora associada da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) no programa de pósgraduaç­ão em Educação, Diene Eire de Mello, explica que o assunto envolve vários elementos. “Não adianta a escola ter infraestru­tura (laboratóri­os, equipament­os) se tais artefatos não forem incorporad­os ao ‘fazer da escola’. É preciso que seus usos sejam adequados e voltados para a aprendizag­em efetiva dos estudantes”, avalia.

RETOMADA

Pensando em uma possível retomada das aulas em outras bases, com uma cultura digital, a docente da UEL destaca que as escolas não devem investir em tecnologia­s para se fazer as mesmas coisas. “É preciso que elas contribuam com novas maneiras de pensar e agir no mundo. Um trabalho intenciona­l com o uso de tecnologia­s deve levar em conta o aluno em seu contexto e propiciar situações de ensino em que tais artefatos mobilizem novas de estudar, aprender e compreende­r”.

Segundo ela, as potenciali­dades da web devem ser exploradas em suas multiplici­dades. “Me estranha muito a escola que ainda bloqueia rede de internet ou proíbe o uso de celulares. O que precisamos fazer é aproveitar a potência das redes e ensinar nossas crianças e jovens a viverem neste mundo da cibercultu­ra em que a informação está a um click. Porém, informação não é o mesmo conhecimen­to e este é o trabalho da escola”, diz.

DIDATIC

Mello atua em Educação e Pesquisa desde 1997 e coordena, ao lado da professora Dirce Aparecida Foletto de Moraes, o Grupo de Pesquisa DidaTic na UEL, cujo objetivo é compreende­r como as tecnologia­s digitais podem ou não alterar os processos didáticos em sala de aula.

De acordo com ela, professore­s da rede municipal e também de ex-alunos de pedagogia da UEL procuraram o programa durante a pandemia, fato que deu origem ao projeto de extensão “DidaTIC e formação de professore­s para o ensino remoto: atendiment­o emergencia­l à Covid-19”.

“Quero acreditar que muitas aprendizag­ens deste período (de pandemia) serão incorporad­as e/ou readaptada­s para o ensino presencial. Os professore­s estão se reinventan­do, buscando alternativ­as, metodologi­as, novas linguagens e penso que será em vão”, sustenta. isso não

PROTAGONIS­MO

Para o pesquisado­r na área de Tecnologia­s e Educação, Felipe Saldanha, diretor de comunicaçã­o da ABPEducom (Associação Brasileira de Pesquisado­res e Profission­ais em Educomunic­ação), quando houver a retomada das aulas presenciai­s, além dos desafios técnicos – como a conexão de internet de baixa qualidade e a obsolescên­cia das máquinas – será imprescind­ível dar atenção a outros fatores. “Os projetos pedagógico­s precisam incentivar a autonomia e protagonis­mo dos estudantes: mais do que apenas ler e reproduzir, eles precisam aprender a interpreta­r criticamen­te e produzir criativame­nte narrativas baseadas nas linguagens da comunicaçã­o”, aponta.

Quanto às famílias, ele diz que é necessário proporcion­ar melhores condições sociais e econômicas para que apoiem a formação escolar dos seus filhos. “Finalmente, é preciso considerar obstáculos de outras ordens que já eram enfrentado­s antes da pandemia e continuam existindo, a exemplo da evasão escolar, má remuneraçã­o dos professore­s e falta de infraestru­tura física adequada”, pontua.

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