Folha de Londrina

‘Sinto falta do abraço’

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Preparar atividades para turmas da educação infantil, para crianças com idade entre 5 e 6 anos, já fazia parte da rotina da professora Kátia Simone Martins. Docente na rede municipal há 16 anos, ela atua em duas escolas e se deparou com a complexida­de do ensino remoto para essa faixa etária.

“O primeiro vídeo foi muito tenso, foi direcionad­o para as famílias. O segundo foi para as crianças e foi mais tenso ainda. O vídeo ficou muito longo e eu não conseguia enviar. Tive que mandar áudio e fiquei muito frustrada. Depois consegui pesquisar, aprendi e a gente foi se adaptando”, explica.

Grupos nas redes sociais e uma conversa franca com as famílias a ajudaram na nova rotina. As dez horas de trabalho diário avançaram pela noite e finais de semana. A compreensã­o teve que partir de ambos os lados.

“Todo mundo começou do zero e cada um teve que buscar estratégia­s. Eu tive que me libertar, me despir de muitos pré-conceitos para me constituir uma nova professora. Tive que fazer o exercício da escuta. Eu me aliei às famílias para que a gente não se perca no meio desse caminho. Nem todo mundo consegue fazer as atividades no mesmo dia. As famílias voltaram ao trabalho. Algumas crianças ficam na casa dos avós a semana toda e só voltam para a casa da mãe no final de semana e, muitas vezes, só têm aquele período para fazer as atividades”, conta.

Além da atenção extra aos conteúdos, uma série de fatores passou a ser considerad­a na hora de planejar as atividades. “Tem criança que não tem mesa para colocar o caderno e tem criança que tem um quarto de estudos. Sempre faço enquete com os pais para saber no que posso melhorar. Em uma dessas enquetes, a maioria dos pais pediu para que eu não mandasse vídeos, só áudios, porque os vídeos usam muitos dados da internet, principalm­ente, no final do mês quando o plano está acabando. Aí eu parei.”

“Sinto falta do abraço das crianças, da conversa. Eu tenho uma dinâmica de mandar áudio, mandar cartinha, mandar kit com materiais de recurso, mas sinto falta daquele calor humano, de ver aquela descoberta. É muito gratifican­te você ver quando eles aprendem, quando eles atingem aquele objetivo que a gente planejou. Hoje a devolução das atividades é fria. Eu não participo diretament­e desse processo”, desabafa.

“O retorno vai ser muito difícil até por causa dos protocolos de segurança. Dependendo do profission­al, ele vai sofrer bastante e o aluno também. Eu falo isso por mim. Eu sou uma pessoa do toque, do abraço, de pegar a criança no colo para explicar as atividades e eu sei que algumas coisas nós não vamos mais conseguir fazer. Mas, ao mesmo tempo, acho que uma hora a gente vai voltar e vai dar conta sim. O professor está se sobressain­do mesmo com todas essas dificuldad­es.”(V.C.)

“O retorno vai ser muito difícil até por causa dos protocolos de segurança”

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“O professor está se sobressain­do mesmo com todas essas dificuldad­es”, diz Kátia Simone
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