Folha de Londrina

Clube de Leitura da FOLHA discute Clara dos Anjos, de Lima Barreto

A obra mostra as diferenças sociais e de gênero, realidade percebida pelo escritor, que sofreu preconceit­o por ser negro

- Lais Taine

A Folha lançou mais um episódio do podcast do Clube de Leitura Vestibular UEL 2021/2022, cujo objetivo é discutir as 10 obras literárias do Vestibular da Universida­de Estadual de Londrina. Nesta edição, o livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, teve a análise de Sebastião Bonifácio Júnior, professor e mestre em Estudos Literários, pela UEL.

‘Nós não somos nada nessa vida’ é um desabafo e uma conclusão da personagem principal da história. Mulher, negra, do subúrbio do Rio de Janeiro, Clara dos Anjos se deixa levar pelos encantos de Cassi Jones de Azevedo, um jovem sedutor, que deflora mocinhas e as abandona, muitas vezes, grávidas.

A obra mostra as diferenças sociais e de gênero, realidade percebida por Lima Barreto, escritor que sofreu preconceit­o por ser negro. “A gente vê bastante isso marcado na obra dele. Ele denuncia esse preconceit­o que o negro sofre na sociedade e isso a gente vê em Clara dos Anjos, em que ele faz um recorte não só da raça, mas também do gênero o sofrimento da mulher negra que é carregado ainda mais de significad­o”, menciona o professor.

O livro foi o último do escritor, finalizado em 1922 e publicado somente em 1949. A narrativa se passa no subúrbio do Rio de Janeiro, no contexto de uma cidade que passou pela reurbaniza­ção, expulsando os pobres da área central para a periferia da cidade.

“Isso também, de certa forma, condiz não só com o projeto literário e temático do Lima Barreto, mas tem bastante a ver com o período do pré-modernismo, de arte mais engajada e crítica da sociedade. É um momento em que os artistas da época notam que havia vários desníveis sociais derivados da reurbaniza­ção, contrastes sociais e ideológico­s, justamente motivados por essa consciênci­a tardia do atraso brasileiro”, aponta Bonifácio Junior.

Do período pré-modernista, Clara dos Anjos mostra a relação entre um casal jovem, mas traz menos romantismo e mais denúncia social. A obra é considerad­a de domínio público e pode ser encontrado na biblioteca digital do governo federal.

Essa é a sexta obra discutida no podcast da FOLHA em uma lista de 10 livros exigidos para o Vestibular da UEL. Todos os meses, uma obra é analisada por um professor convidado. Além dos episódios, que estão disponívei­s nas principais plataforma­s de áudio, como Spotify, SoundCLoud, o Clube de Leitura possui um canal no Telegram para discussão e sorteio dos livros. Participe por meio do link: t.me/ joinchat/ QrI2OhxM3P Xu7 UOPknmceA

OBRAS JÁ APRESENTAD­AS

Barreto, Lima.

Clara dos Anjos. São Paulo: Martin Claret, 2011.

Branco, Camilo Castelo. Amor de perdição. São Paulo: Melhoramen­tos, 2013.

Collin, Luci. A palavra algo. São Paulo: Iluminuras, 2016.

Guarnieri, Gianfrance­sco. Eles não usam black-tie. Rio de Janeiro: Civilizaçã­o Brasileira, 2017.

Jesus, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2019.

Matos, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

SERÃO DISCUTIDAS

Agualusa, Jose Eduardo. O vendedor de passados. São Paulo: Tusquets, 2018.

Andrade, Mário de. Contos novos. Nova Fronteira, 2015.

Azevedo, Aluísio.

Casa de pensão. São Paulo: Martin Claret, 2013.

Scliar, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Porto Alegre: LPM editores, 2017.

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IStock Clube de Leitura tem o objetivo de discutir as dez obras literárias exigidas para o Vestibular da UEL

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