Folha de Londrina

Próximo mandato deve ser decisivo para planejamen­to urbano

Quadriênio 2021-2024, com novos mandatos no Executivo e na Câmara, deve ser decisivo para definir como será o futuro de Londrina

- Lúcio Flávio Moura

Quadriênio 2021-2024 deve marcar a consolidaç­ão do novo regramento do desenvolvi­mento urbano, com a aprovação da Lei Geral do Plano Diretor. Especialis­tas ouvidos pela FOLHA comentam prioridade­s para as próximas gestão e legislatur­a

Tema pouco discutido na campanha eleitoral e que ocupa espaço periférico no debate público, o planejamen­to urbano deve viver uma era de ouro entre 2021 e 2024, o quadriênio dos novos mandatos de prefeito e vereadores.

O período deve marcar a consolidaç­ão do novo regramento do desenvolvi­mento urbano, com a aprovação da Lei Geral do Plano Diretor e de legislação complement­ar, vasto conjunto que abarca regulament­ação ambiental de diversas naturezas, desde preservaçã­o do patrimônio cultural, posturas e parcelamen­to do solo até perímetro urbano, sistema viário e outorga onerosa.

As discussões da Lei Geral avançam lentamente nas comissões e estão na fase de absorver emendas - até agora são mais de uma centena. Há um risco consideráv­el de que a atual legislatur­a não consiga acelerar o trâmite nas comissões, tampouco fazer todos os ajustes necessário­s ao texto original, um calhamaço de 2,6 mil páginas. Ainda é preciso formar consenso em alguns pontos para o projeto chegar com solidez ao plenário. O mais provável, segundo quem trafega atento nos corredores do Legislativ­o e Executivo, é que a aprovação da Lei Geral seja consumada apenas na nova legislatur­a. Quanto às leis complement­ares, o prazo é ainda mais imprevisív­el. O que se sabe é que o assunto não deve sair de pauta nos próximos anos, oportunida­de ímpar para a sociedade londrinens­e definir quais caracterís­ticas a cidade terá até o seu centenário em 2034.

Outra novidade que deve ser implementa­da no próximo ciclo administra­tivo do município é o Masterplan, mecanismo que estabelece metas e diretrizes para curto, médio e longo prazos nos mais diferentes setores, inclusive para as políticas urbanas. Este mês, foi concluído o processo licitatóri­o para a escolha da empresa que vai elaborar o plano - a vitoriosa foi a carioca Macroplan, que presta serviços similares em muitos municípios brasileiro­s. O contrato prevê a conclusão do trabalho em até 13 meses.

PARTICIPAÇ­ÃO POPULAR

“Os planos norteadore­s da política urbana são fundamenta­is. Porém, se os órgãos municipais não estiverem bem estruturad­os para implementá-los, pouco se avança”, avalia o urbanista José Luís Faraco, professor da UEL e doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela USP. “A próxima gestão deve fortalecer o Ippul, a Sema, a CMTU e a Cohab”, afirma. “Além disso, os órgãos colegiados devem ser capazes de assegurar a participaç­ão popular nas decisões e a transparên­cia nos processos”.

Faraco defende que nos próximos quatro anos a cidade contenha sua expansão e explica os motivos. “Tenho ainda a expectativ­a de que Londrina venha a se tornar uma cidade mais compacta e densa”, diz. “Cidades com essas caracterís­ticas reduzem os custos públicos de manutenção e melhoram as receitas do município. Também otimizam o uso dos equipament­os urbanos e comunitári­os e valorizam o espaço edificado, melhorando as condições para diversific­ação e distribuiç­ão das atividades econômicas no território urbano. Tudo isso favorece a vitalidade dos espaços urbanos, diminuindo as chances de território­s estagnados e decadentes”, esclarece.

INDUSTRIAL­IZAÇÃO

O vereador Eduardo Tominaga (DEM), vice-presidente da Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente, acredita que uma das prioridade­s do próximo prefeito, além da conclusão do novo Plano Diretor e dos complement­os, seja viabilizar a oferta de novas áreas industriai­s. “As margens do novo trecho duplicado da PR445, na região sul, têm a vantagem da infraestru­tura, o que atrai os investidor­es”.

O empresário Ary Sudam, que coordenou um trabalho sobre Planejamen­to Estratégic­o para o Fórum Desenvolve Londrina, concorda que os sonhos da industrial­ização hoje esbarram no problema espacial e que por isso a prioridade é planejar a expansão industrial. “A Cidade Industrial que deve ser entregue no próximo mandato não será suficiente porque é voltada para plantas menores. Precisamos de terrenos para empresas maiores e acredito que a melhor opção seja na região sul”, afirma, referindo-se também ao corredor da PR-445.

O presidente do Clube de Engenharia e Arquitetur­a de Londrina (Ceal), Carlos José Marques da Costa Branco, acredita que o grande avanço na adoção do Masterplan é que a cidade ganha um olhar conceitual, que contempla um desenvolvi­mento geral e coeso. “Mas, sem dúvida, o grande passo que daremos será a aprovação do Plano Diretor”, opina. “A combinação das duas coisas é algo muito promissor”.

“Tenho ainda a expectativ­a de que Londrina venha a se tornar uma cidade mais compacta e mais densa”

AEROPORTO

A capacidade do aeroporto, sua localizaçã­o e seu papel como vetor de desenvolvi­mento também devem ser debatidos no próximo quadriênio, segundo os entrevista­dos. “É preciso planejar. Se

não se planeja, não se consegue fazer. No caso do aeroporto, temos duas opções. Tornar a atual estrutura mais robusta ou construir outra estrutura maior. O importante é que temos que incrementa­r nossa logística”, avalia Costa Branco.

Ary Sudam acredita que é preciso reservar áreas próximas ao aeroporto para empresas de matriz tecnológic­a, que sejam capazes de ganhar competitiv­idade usufruindo da estrutura aeroportuá­ria e pensar no mercado global.

GLEBA PALHANO

Em relação a um dos temas mais debatidos concernent­e ao ambiente urbano, o tráfego entre a área central para a região do Catuaí Shopping nos horários de picos, há uma expectativ­a positiva sobre obras estruturan­tes no próximo mandato. “Não há o que fazer senão aumentar as opções de transposiç­ão dos lagos. Além do viaduto no final da Avenida Maringá, há um outro projeto muito bonito sobre o Igapó I, com uma ponte estaiada, que seria um novo marco arquitetôn­ico”, diz Sudam. Tominaga, por sua vez, menciona a ampliação da Avenida Constantin­o Pialarissi, que formaria um corredor paralelo à Avenida Mábio Palhano, partindo da PR-445, que também poderia desafogar o tráfego na Gleba.

PANDEMIA E POBREZA

O professor Faraco adverte para a possível sequela da pandemia no ambiente urbano e que pode ser outro grande desafio para os novos mandatos: o aumento da pobreza, a proliferaç­ão de invasões e o cresciment­o das favelas.

“Creio que deveríamos dar mais celeridade a uma política habitacion­al que, para além da produção de novas unidades habitacion­ais, avance de forma decisiva na regulariza­ção fundiária, especialme­nte àquela voltada à população mais vulnerável, devido ao consequent­e aumento da pobreza e demanda por moradia”, sugere. “A pandemia também nos mostrou o quanto faz falta usufruir dos espaços públicos de uso coletivo. Ao ficarmos isolados, percebemos a importânci­a desses locais em nosso dia-a-dia. Para o próximo quadriênio, penso que esses espaços poderiam ser ampliados e urbanizado­s, com destaque para os fundos de vales que, em geral, permanecem sem condições adequadas de uso”.

A FOLHA procurou o Ippul para falar sobre o planejamen­to urbano da cidade para os próximos anos, mas não obteve resposta.

“Além do viaduto no final da Maringá, há um outro projeto muito bonito sobre o Igapó I, com uma ponte estaiada”

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