Folha de Londrina

Mudança no ISS vai beneficiar pequenos e médios municípios

Cidades pequenas e médias esperam arrecadar mais com operações de cartões de crédito e débito

- Mie Francine Chiba

O presidente Jair Bolsonaro sancionou no final do mês passado a Lei Complement­ar 175, que altera a atual cobrança do ISS (Imposto Sobre Serviços) pelos municípios brasileiro­s. A iniciativa transfere a competênci­a de cobrança do imposto para o município onde o serviço é prestado ao usuário final. Hoje, ela é realizada pela cidade onde está localizada a sede do fornecedor. A alteração entrará em vigor a partir de 2021, mas a mudança será gradativa até 2023.

A medida decorre de mudanças feitas pela Lei Complement­ar 157, de 2016, que transferiu a competênci­a da cobrança desse imposto do município onde fica o prestador do serviço para o município onde o serviço é prestado ao usuário final. Até dezembro de 2016, o ISS ficava com o município de origem — onde está localizado o fornecedor do bem ou serviço. O objetivo é tentar desconcent­rar a arrecadaçã­o dos grandes municípios, onde estão instaladas a maioria das empresas, favorecend­o os de menor porte.

Os serviços que terão a arrecadaçã­o transferid­a para o destino são os de planos de saúde e médico-veterinári­os; de administra­ção de fundos, consórcios, cartões de crédito e débito, carteiras de clientes e cheques pré-datados; e de arrendamen­to mercantil (leasing).

O presidente executivo do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamen­to e Tributação), João Eloi Olenike, considera a medida uma espécie de incentivo fiscal para os municípios menores. “É uma boa redistribu­ição de arrecadaçã­o nos municípios mais pobres. Vai simplesmen­te parar a situação em que 80% do ISS ficava em 30 a 50 municípios mais ricos.”

Algumas dúvidas, no entanto, ainda pairam sobre o assunto, observa Olenike, já que os municípios mais ricos terão diminuição da arrecadaçã­o do ISS e os menores terão acréscimo. “Agora a pergunta que fica é se os municípios menores realmente têm estrutura para lidar com a nova arrecadaçã­o que vão ter. Tem programas a serem feitos com a utilização dos novos recursos?”, indaga.

Na opinião do presidente, deveria haver uma distribuiç­ão que ainda preservass­e a arrecadaçã­o de ISS por municípios prestadore­s de serviços.

Para o secretário municipal da Fazenda, João Carlos Perez, é difícil mensurar o impacto da nova medida na arrecadaçã­o de Londrina e avaliar se a mudança será positiva ou não. “É difícil mensurar em função do período de transição e da relação Pessoa Física. Acredito que haverá ganhos no que tange as operações de cartões de crédito e débito, mas ao mesmo tempo teremos perdas em relação às operadoras de planos de saúde.”

Segundo o secretário, o ISS representa a segunda maior arrecadaçã­o do município, atrás somente do IPTU. No ano passado, Londrina arrecadou cerca de R$ 227 milhões, o e q u ivalente a 20% dos recursos livres do município. O valor arrecadado teve um cresciment­o de 11,8% em 2019 na comparação com 2018, o maior cresciment­o dos últimos dez anos. “É uma receita muito importante”, diz Perez.

O prefeito de Cambé, José do Carmo, considera a medida positiva para a cidade, principalm­ente no tocante aos serviços de pagamento com cartões e planos de saúde.

No entendimen­to do prefeito, o mesmo raciocínio pode ser aplicado aos planos de saúde.

Carmo l e mbra ainda que há muitas empresas de fora que prestam serviços para as indústrias de Cambé.

O secretário de Fazenda da Prefeitura de Cambé, Gabriel Cândido, estima que o município arrecadari­a R$ 4,6 milhões só com operações de cartão de crédito. “Se pegarmos isso, estamos falando de algo em torno de 30% do que é a arrecadaçã­o do ISS anual que hoje vai para as cidades das sedes (das operadoras de cartão), e que vai ficar no município.” No ano passado, Cambé arrecadou R$ 15 milhões de ISS. Para Cândido, o município não perde arrecadaçã­o, mas ganha com a medida, uma vez que as operações com cartão de crédito terão peso. “Se o cidadão compra aqui, nada mais justo que o imposto fique aqui e seja revertido aqui também.”

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