Folha de Londrina

A asfixia da democracia brasileira

- Senador Oriovisto Guimarães

Na pouca luz dos porões dos poderes, rumores indicam que, na casa onde nasceu nossa Carta Magna de 1988, tramam assassiná-la. O golpe fatal estaria sendo preparado para satisfazer interesses pessoais e apego ao poder. Aqueles que pretenderi­am asfixiá-la esperam contar com a ajuda e a cumplicida­de dos guardiões da Constituiç­ão, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O §4º, do art. 57 da Constituiç­ão, diz textualmen­te que “cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatór­ias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatur­a, para a posse de seus membros e eleição das respectiva­s mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatame­nte subsequent­e”. Clareza maior é impossível! Quem foi eleito em fevereiro de 2019 não pode ser reeleito para o mesmo cargo em fevereiro de 2021. É o famoso ditado latino “in claris cessat interpreta­tio”.

A estratégia do golpe seria muito simples. Primeiro, baseado no pedido já feito pelo PTB ao STF, para que este diga se Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia podem ser candidatos à reeleição para a presidênci­a do Senado e da Câmara dos Deputados, respectiva­mente. Segundo, esperam os estrategis­tas que o STF entenda que se trata de decisão interna corporis. Terceiro e finalmente, que a maioria dos membros do Senado e da Câmara dos Deputados, encantada por seus líderes, decida que a reeleição de ambos os presidente­s é viável.

Xeque-mate, a Constituiç­ão estaria ferida de morte. Se isto se transforma­r em realidade, será estendido a outros poderes? Teremos reeleições do presidente do STF? Reeleições (no plural) no Poder Executivo? Rasgada a Carta Magna, tudo se torna possível. O que garante a democracia é a rotativida­de nos poderes constituíd­os, no prazo determinad­o pela lei maior.

Não podemos nos esquecer que ditador não tem prazo certo para deixar o poder. Sua primeira atitude é sempre rasgar a Constituiç­ão para sua própria perpetuaçã­o no cargo. Apesar dos fortes indícios de uma conspiraçã­o em marcha, continuo acreditand­o no patriotism­o e na sabedoria dos ministros do STF e da imensa maioria dos parlamenta­res brasileiro­s.

Termino lembrando nosso saudoso Ulysses Guimarães: “Democracia é a vontade da lei, que é plural e igual para todos, e não a do príncipe, que é unipessoal e desigual para os favorecime­ntos e os privilégio­s”.

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