Hospitais de Manaus ficam sem oxigênio e pacientes são transferidos
Sistema de saúde entra em colapso e pacientes são levados para outros estados
São Paulo e Manaus - A situação em Manaus voltou a se agravar, segundo relato de administradores de hospitais e de profissionais que atuam no atendimento de pacientes de Covid19. O pesquisador Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, afirma que tem recebido vídeos, áudios e relatos telefônicos de pessoas que atuam na linha de frente de unidades de saúde com informações dramáticas.
“Estão relatando efusivamente que o oxigênio acabou em instituições como o Hospital Universitário Getúlio Vargas e serviços de pronto atendimento, como o SPA José de Jesus Lins de Albuquerque”, afirma. “Há informações de que uma ala inteira de pacientes morreu sem ar”, completa.
A informação de que a situação é crítica foi confirmada pelo reitor Sylvio Puga, da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), que administra o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Segundo ele, doentes estão sendo transferidos para o Piauí.
“Acabou o oxigênio e os hospitais viraram câmaras de asfixia”, diz o pesquisador Jesem Orellana. “Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes.” A reportagem procurou o Hospital Getúlio Vargas. Profissionais da UTI não quiseram comentar a informação.
Na recepção, a atendente disse que ninguém no hospital poderia conversar com a reportagem pois a situação era “de emergência”.
Profissionais da área de saúde afirmam que a situação é dramática e muitas pessoas ainda vão morrer por falta de assistência. Uma das profissionais disse, chorando, que os pacientes estão sendo “ambusados”, ou seja, recebendo oxigenação de forma manual, já que os respiradores estão sem oxigênio. Ela não quis ter o nome revelado.
De acordo com ela, cada profissional consegue ambusar um paciente por no máximo 20 minutos, quando tem que ceder lugar a outro técnico, o que torna a rotina de procedimentos arriscada, insuportável e caótica. O reitor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Sylvio Puga, confirmou também essa informação.
O aumento de vagas no HUGV foi um dos anúncios que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fez ao passar três dias em Manaus e deslocar equipe para a cidade, que vive o colapso total da rede pública e privada de saúde.
Pacientes com Covid-19 que estão internados no HUGV (Hospital Universitário Getúlio Vargas), em Manaus, foram transferidos para o Hospital Universitário de Teresina, no Piauí, nesta quinta (14) e ainda seriam levados para outros estados, como Goiás, Piauí, Maranhão, Brasília, Paraíba e Rio Grande do Norte. A informação foi confirmada pelo presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina, Gilberto Albuquerque.
Na terça (12), o presidente Jair Bolsonaro já tinha responsabilizado o governo estadual do Amazonas e a prefeitura de Manaus por “deixar acabar” o oxigênio que seria destinado aos pacientes de Covid-19. Ele disse que Pazuello teve que viajar para a cidade para “interferir” na situação local, que segundo ele estava um “caos”.