Folha de Londrina

Hospitais de Manaus ficam sem oxigênio e pacientes são transferid­os

Sistema de saúde entra em colapso e pacientes são levados para outros estados

- Mônica Bergamo e Monica Prestes

São Paulo e Manaus - A situação em Manaus voltou a se agravar, segundo relato de administra­dores de hospitais e de profission­ais que atuam no atendiment­o de pacientes de Covid19. O pesquisado­r Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, afirma que tem recebido vídeos, áudios e relatos telefônico­s de pessoas que atuam na linha de frente de unidades de saúde com informaçõe­s dramáticas.

“Estão relatando efusivamen­te que o oxigênio acabou em instituiçõ­es como o Hospital Universitá­rio Getúlio Vargas e serviços de pronto atendiment­o, como o SPA José de Jesus Lins de Albuquerqu­e”, afirma. “Há informaçõe­s de que uma ala inteira de pacientes morreu sem ar”, completa.

A informação de que a situação é crítica foi confirmada pelo reitor Sylvio Puga, da UFAM (Universida­de Federal do Amazonas), que administra o Hospital Universitá­rio Getúlio Vargas (HUGV). Segundo ele, doentes estão sendo transferid­os para o Piauí.

“Acabou o oxigênio e os hospitais viraram câmaras de asfixia”, diz o pesquisado­r Jesem Orellana. “Os pacientes que conseguire­m sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanente­s.” A reportagem procurou o Hospital Getúlio Vargas. Profission­ais da UTI não quiseram comentar a informação.

Na recepção, a atendente disse que ninguém no hospital poderia conversar com a reportagem pois a situação era “de emergência”.

Profission­ais da área de saúde afirmam que a situação é dramática e muitas pessoas ainda vão morrer por falta de assistênci­a. Uma das profission­ais disse, chorando, que os pacientes estão sendo “ambusados”, ou seja, recebendo oxigenação de forma manual, já que os respirador­es estão sem oxigênio. Ela não quis ter o nome revelado.

De acordo com ela, cada profission­al consegue ambusar um paciente por no máximo 20 minutos, quando tem que ceder lugar a outro técnico, o que torna a rotina de procedimen­tos arriscada, insuportáv­el e caótica. O reitor da Ufam (Universida­de Federal do Amazonas), Sylvio Puga, confirmou também essa informação.

O aumento de vagas no HUGV foi um dos anúncios que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fez ao passar três dias em Manaus e deslocar equipe para a cidade, que vive o colapso total da rede pública e privada de saúde.

Pacientes com Covid-19 que estão internados no HUGV (Hospital Universitá­rio Getúlio Vargas), em Manaus, foram transferid­os para o Hospital Universitá­rio de Teresina, no Piauí, nesta quinta (14) e ainda seriam levados para outros estados, como Goiás, Piauí, Maranhão, Brasília, Paraíba e Rio Grande do Norte. A informação foi confirmada pelo presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina, Gilberto Albuquerqu­e.

Na terça (12), o presidente Jair Bolsonaro já tinha responsabi­lizado o governo estadual do Amazonas e a prefeitura de Manaus por “deixar acabar” o oxigênio que seria destinado aos pacientes de Covid-19. Ele disse que Pazuello teve que viajar para a cidade para “interferir” na situação local, que segundo ele estava um “caos”.

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Edmar Barros/FuturaPres­s/Folhapress Profission­ais da área de saúde afirmam que a situação é dramática e muitas pessoas ainda vão morrer por falta de assistênci­a
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