Folha de Londrina

‘A História do Palavrão’ é diversão para quem gosta de humor obsceno

- Flávia Boggio

Série tem recebido elogios também pela trilha sonora”

São Paulo Quando eu tinha uns 13 anos, fui recriminad­a pela minha mãe por dizer a palavra “m...” na mesa do almoço. Como acabava de entrar na fase infernal da puberdade, respondi atravessad­a: “qual é o problema de falar m...?

Embora preguiçosa e tenha me levado a um castigo, a resposta daquela pré-adolescent­e não estava errada. Os palavrões, antes de serem palavrões, eram palavras comuns. Até que, por algum motivo, se tornaram obscenas. Como acontece essa transforma­ção é o que conta a série documental “A História do Palavrão”, na Netflix.

Em seis episódios apresen

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tados por Nicolas Cage, a série mistura documentár­io e entretenim­ento para investigar a origem de alguns dos palavrões mais famosos na língua inglesa.

Se o uso descontrol­ado de palavrões já é uma ferramenta de comédia - Dercy Gonçalves que não nos deixa mentir -, o tom erudito para descrever termos chulos faz com que a série seja entretenim­ento garantido aos amantes do humor obsceno e escatológi­co.

Com depoimento­s de linguistas, doutores, atores e comediante­s, cada episódio tem um palavrão como tema.

Embora a maioria das xingamento­s seja de conhecimen­to universal, alguns foram trocados por palavras com outros significad­os. No episódio “Shit”, a repetição absurda da expressão é tesouro para qualquer apreciador do humor escatológi­co. O ator Isiah Whitlock Jr., eleito o dono da melhor pronúncia da palavra no cinema, faz uma performanc­e de gargalhar.

É interessan­te como a série descreve o processo de ressignifi­cação do palavrão. É o caso de “fuck” ou “shit”, que, com a ajuda da cultura hip-hop, passaram a ser sinônimos de qualquer coisa. “Shit” virou até elogio, como conta a comediante Zainab Johnson: “Se alguém me disser ‘você não é pouca m...’, eu vou agradecer e dizer ‘que bom que você reconheceu’”.

Outro palavrão que foi reapropria­da foi “bitch” (vadia). Se antes o termo definia mulheres incontrolá­veis e estridente­s, hoje é usado como ferramenta de empoderame­nto. Mas o termo ainda é proibido entre os homens, especialme­nte héteros: “Se um homem me chamar de ‘vadia’, eu queimo a casa dele”, comenta Johnson, a humorista.

A série também faz crítica social ao falar da censura do selo “Parental Advisory”, uma espécie de controle de pais. O fato de o selo ter surgido quando o hip-hop, com suas letras cheias de xingamento­s, saiu do undergroun­d, na década de 1980, não deixa dúvidas de que foi racismo.

Um pouco menos interessan­te é o episódio “Dick”. Como o termo sempre foi objeto de orgulho e poder, não tem plot twist. É um momento morno da série. Assim como “Damn”, a mais leve das ofensas, algo como “vai para o inferno”, hoje só ofenderia Roberto Carlos e olhe lá.

Mesmo com todos os aspectos interessan­tes, “A História do Palavrão” não seria tão fascinante sem a presença de Nicolas Cage. Sua atuação canastrona deixa o texto ainda mais cínico.

SERVIÇO

A História do Palavrão Onde: Disponível na Netflix Classifica­ção: 17 anos Autor: Bellamie Blackstone Elenco: Nicolas Cage, Nikki Glaser, London Hughes e outros Produção: EUA, 2021 Direção: Christophe­r D’Elia

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