Verão de 21
Já seria uma noite amigável. O LED resplandece no asfalto molhado, a brisa faz da vida bom lugar. Há oxigênio.
Nas ruas, o deserto da pandemia guarda um silêncio sorrateiro.
Há dores invisíveis.
A cidade ainda desfila nas duas mãos, no fluxo da rotina.
As vidas perambulam em busca de compaixão ou prazer, prosperidade ou descalabro, em direção à oração dançante, ao balcão de farmácia, ao bingo pirata. A chuva passa e a peste é uma negação.
Um sábado, simpático como sempre, emanando leveza e liberdade.
É preciso viver, se distrair, conversar sobre o veraneio em Santa Catarina no churrasco, visitar a sogra, testar a moto nova, retomar a confraria do pôquer, ir ao aniversário do irmão da igreja, se perfumar para o primeiro encontro.
É preciso esquecer um pouco o peso da verdade nosso caminho é um grande campo minado pela peste - e lembrar das pequenas vacinas capazes de nos blindar dos demônios mais ordinários.
Nada demais, nada ruim, nada excelente.
Mas o cinza da previsibilidade de um sábado qualquer, de repente, ganha cores.
Meio da cor do céu, meio da cor da paz, um clarão de gol vem de Belém.
E paira sobre nós.
Como o imponderável é sempre uma possibilidade, o sábado não é mais comum.
É o décimo sexto dia de uma nova década e a redenção deixou o gramado do impossível.
Doce vingança da famigerada realidade.
Nada mais bonito que o brilho do inesperado. Nada mais memorável que uma glória repentina. No transe do alívio absoluto, ouço uma voz declamar a mensagem tatuada na alma deste sábado especial: Londrina Esporte Clube, esta paixão eterna.
E desde o isolamento das incertezas, ainda incrédulo com tamanha capacidade das divindades do futebol, escolho duas palavras que se impõem.
Obrigado, Tubarão!
“É o décimo sexto dia de uma nova década e a redenção deixou o gramado do impossível”