Em meio a nova alta da pandemia, Câmara terá eleição presencial
A decisão foi tomada em reunião da Mesa da Casa, com pressão do centrão, e contraria Maia, que defendia um pleito no dia 2 de forma eletrônica por conta do risco de contágio
Brasília
- Após pressão do bloco do centrão, a Câmara dos Deputados decidiu nessa segunda-feira (18) que a eleição para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) será no dia 1º de fevereiro, em uma votação presencial. A decisão foi tomada em reunião da Mesa da Casa e contraria Maia, que defendia um pleito no dia 2 de forma eletrônica.
A Câmara tem 513 deputados e nas últimas eleições a votação ocorreu dentro do plenário da Casa, que é um ambiente fechado a ventilação externa, sem janelas, propício para transmissão do coronavírus.
Para esta eleição, que ocorrerá em meio a nova alta de casos de Covid-19, parlamentares estudam colocar urnas no salão verde e outras salas da Câmara e promover uma votação com horários pré-estabelecidos para grupos de deputados e no esquema “drive-thru”.
Segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, a definição do dia e da forma da votação teve um placar apertado, de 4 votos a 3. A decisão representa uma vitória para o líder do centrão, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido),
“Geralmente é dia 2, mas não sei por que parte dos membros da Mesa entendeu que teria de ser dia 1. Acho que vai acabar sendo dia 1 à noite, seria melhor começar dia 2 pela manhã. Mas isso não é o maior problema. E se decidiu por maioria, contra o meu voto, não ter nenhuma flexibilidade de votação remota para os grupos de risco”, disse Maia em entrevista após a reunião.
“Temos de mobilizar mais de 2.000 funcionários, tem a imprensa, de alguma forma é uma circulação mínima de 3.000 pessoas no dia”, afirmou o deputado.
RESISTÊNCIA
Para evitar aglomerações no dia da votação, Maia queria que a votação ocorresse no dia 2, um dia depois do pleito no Senado, e de forma virtual. Com a resistência de líderes partidários, ele chegou a sugerir que pelo menos grupos de risco votassem de forma virtual.
Lira, no entanto, era contra e vinha fazendo críticas públicas a Maia. Segundo ele, o presidente vinha adotando posturas monocráticas e vinha perdendo a isenção para conduzir o processo de sua sucessão. O grupo de Lira, que é o candidato de Bolsonaro, argumentava que Maia queria promover no dia 2 para que o MDB no Senado pressionasse deputados federais a votarem em Baleia Rossi (MDB-SP), nome de Maia.
A tese era a de que, caso a senadora Simone Tebet (MDBMS) sofresse uma derrota para o senador Rodrigo Pacheco (DEMMG), o MDB iria fazer uma ofensiva na Câmara para garantir o controle de pelo menos uma das Casas.
Em entrevista a jornalistas na manhã dessa segunda, Lira criticou o que chamou de “atos absolutistas” do presidente da Câmara. “Estamos discutindo há três semanas para saber como será a eleição para presidente da Câmara. Além de todo o aspecto regimental, temos maioria formada na Mesa para regrar esse assunto [eleições para a presidência], que não podem ser exercidas por atos absolutistas, antidemocráticos, pessoais do presidente atual”, disse Lira.
Apesar de terem derrotado o grupo do líder do centrão em relação à data e ao modelo de votação, aliados de Baleia Rossi tiveram uma vitória após ser adiada discussão sobre a possibilidade de deputados do PSL que estão suspensos do partido terem suas assinaturas validadas para o partido ingressar no bloco de apoio a Lira. O debate ficou para depois após Maia conceder pedido de vista do presidente do PSL, Luciano Bivar (PE). Oficialmente, o PSL estará no bloco de apoio a Rossi. Uma parte do partido, porém, prefere Lira e articulou uma lista com 32 assinaturas de 52 parlamentares para que a sigla embarque oficialmente no bloco do líder do PP – o apoio é importante para contar o número de deputados e garantir preferência na Mesa diretora.