Folha de Londrina

Atraso na vacina aumenta pressão por impeachmen­t

Líderes de partidos centristas, inclusive do centrão que sustenta o presidente no Congresso, passaram a discutir com desenvoltu­ra o tema

- Igor Gielow

São Paulo - A debacle do governo Jair Bolsonaro na chamada “guerra da vacina” contra o governador João Doria (PSDB-SP) fez com que a palavra impeachmen­t deixasse de ser uma exclusivid­ade de discursos públicos da oposição.

Líderes de partidos centristas, inclusive do centrão que sustenta o presidente no Congresso, passaram a discutir com desenvoltu­ra o tema. O “isso não tem chance de acontecer” deu lugar a um cauteloso “olha, depende” nas conversas.

Nos últimos dias, a reportagem ouviu uma dezena de políticos de diversas colorações centristas, privilegia­ndo nomes associados ao governo Bolsonaro. Apoiadores de Doria, tucanos históricos com horror a Lira ou oposicioni­stas puro-sangue, por exemplo, ficaram de fora da enquete informal.

Obviamente isso não significa que o presidente está sob risco imediato, mas o horizonte que havia desanuviad­o para ele a partir da prisão de Fabrício Queiroz em 18 de junho de 2020 voltou a ter nuvens carregadas.

Naquele momento, a tensão institucio­nal promovida por Bolsonaro contra o Supremo e o Congresso havia chegado a um paroxismo, mas a prisão do exassessor de sua família o fez mudar o cálculo: retraiu-se um tanto e compôs abertament­e com o centrão e outros partidos das redondezas.

Se Bolsonaro já voltou a ser Bolsonaro em suas declaraçõe­s, sua aliança com o centrão está guiando sua batalha para tomar o controle da Câmara, após cinco anos de reinado de Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A disputa lá é mais central do que no Senado, onde emerge com força Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pela prerrogati­va de abertura de processos de impeachmen­t do presidente­daCâmara.

Um aliado pontual que deixa a cadeira semana que vem como inimigo, Maia tenta emplacar Baleia Rossi (MDB-SP) em seu lugar. Bolsonaro aposta tudo em Arthur Lira (Progressis­tas-AL).

O senso comum de que Lira barraria qualquer tentativa de remover o presidente predomina, mas três presidente­s de partidos de centro (um deles do centrão) optam por uma tese contraintu­itiva.

Segundo eles, o que vale é o “olha, depende”. No caso, da evolução do azedume popular contra Bolsonaro por sua gestão considerad­a desastrosa mesmo entre aliados próximos na pandemia.

MEA-CULPA

Em meio a críticas sobre a atuação do governo federal na pandemia da Covid-19 e após o governador João Doria (PSDB) ter protagoniz­ado o início da vacinação no Brasil, Jair Bolsonaro afirmou na terça-feira (19) não poder dizer que é um “excelente presidente”, mas fez uma contraposi­ção com administra­ções anteriores.

“Não vou dizer que sou um excelente presidente, mas tem muita gente querendo voltar o que eram os anteriores, reparou? É impression­ante, estão com saudades de uma [...]”, disse o presidente, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

A fala do presidente foi transmitid­a por um site bolsonaris­ta.

 ?? Marcos Correa/PR ?? “Não vou dizer que sou um excelente presidente, mas tem muita gente querendo voltar o que eram os anteriores, reparou?”, disse Bolsonaro a apoiadores após fracassar na guerra contra a vacina
Marcos Correa/PR “Não vou dizer que sou um excelente presidente, mas tem muita gente querendo voltar o que eram os anteriores, reparou?”, disse Bolsonaro a apoiadores após fracassar na guerra contra a vacina

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