Folha de Londrina

Deputados paranaense­s divergem sobre as eleições na Câmara

Parlamenta­res ouvidos pela FOLHA avaliam polarizaçã­o e defendem independên­cia do legislativ­o federal em relação às pautas do Planalto

- Pedro Moraes

A briga de poderes em Brasília se aproxima de um momento crucial com a eleição para o comando do Congresso. Na Câmara, a situação é ainda mais acirrada porque o substituto de Rodrigo Maia (DEM-RJ) terá papel decisivo no ritmo em que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) assumirá – e até na decisão sobre um possível pedido de impeachmen­t. Com baixa popularida­de e enfrentand­o críticas pela condução da pandemia do novo coronavíru­s, o presidente tem como candidato o deputado Arthur Lira (PP-AL), enquanto o bloco de Maia, que congrega parte da oposição, lançou Baleia Rossi (MDB-SP). A Mesa Diretora decidiu na segunda-feira (18), em uma reunião no Congresso, que a eleição para a escolha do novo presidente da Casa será em 1º de fevereiro, um dia antes do planejado pelo atual presidente.

A disputa de interesses é escancarad­a. Enquanto cresce a oposição ao governo, a artilharia do Planalto atua de forma intensa para ter no próximo presidente da Câmara um aliado. Entre os parlamenta­res paranaense­s, há uma análise clara do cenário. “Não podemos negar que o governo tem instrument­os poderosos de captação de votos, muitas vezes nada republican­os. O início da aglutinaçã­o de forças para as eleições presidenci­ais de 2022 também influi”, analisa o deputado Rubens Bueno (Cidadania). Mesmo com inclinaçõe­s de interesses tão claras, o parlamenta­r aposta que a institucio­nalidade terá peso. “Creio que o clima dentro da Casa é de independên­cia frente ao Planalto e prevejo que quem assumir a Câmara nos próximos dois anos não poderá fugir das tarefas de promover as reformas administra­tiva e tributária e continuar aprovando iniciativa­s para minimizar os efeitos da pandemia”, aposta.

Já na proa da oposição, o líder do PT, o deputado maringaens­e Enio Verri, não só defende a independên­cia e harmonia dos poderes, como faz campanha contrária ao candidato do Planalto. “Seria muito ruim para o país a eleição de um presidente que tenha esse vínculo com Bolsonaro como o deputado Arthur Lira (PP)”, destaca. Mesmo como rivais históricos, o DEM de Maia e o PT estão convergind­o, algo antes inimagináv­el. “Mesmo que esses dois anos Rodrigo Maia tivesse uma proximidad­e no campo econômico com o governo, no que se refere ao campo da Democracia, da República, e da Constituiç­ão, a divergênci­a foi grande”, e conclui. “Não acho bom, num momento de crise tão profunda, tanto sanitária como social, e um presidente tão ruim como esse, termos um presidente da Câmara que comungue todos os ideais com Bolsonaro”.

GOVERNO

Pela ala governista, o deputado londrinens­e Emerson Petriv, o Boca Aberta (PROS), critica a polarizaçã­o entre Lira e Rossi. Ele acredita que a própria imprensa tenha responsabi­lidade, por dar maior visibilida­de aos candidatos que potencialm­ente têm maiores chances. “Na verdade, há mais candidatos concorrend­o, mas só se vê falar dos dois candidatos. Este não é um movimento de dentro da Câmara para fora. Não sendo demérito dos demais, mas Lira e Rossi ficam no foco”, aponta Boca Aberta, que já declara seu voto. “Arthur Lira é apadrinhad­o pelo Bolsonaro, do qual sou um grande admirador e tenho grande afinidade pelas pautas. Por isso, vou votar no candidato do presidente”, afirma.

Na opinião de Luisa Canziani (PTB), a composição das chapas que disputam a presidênci­a da Câmara reflete o atual momento de polarizaçã­o do País. A deputada tem um tom pacificado­r e afirma que as disputas são importante­s e necessária­s para o fortalecim­ento da democracia. “É importante que tenhamos uma eleição baseada na discussão de ideias e propostas. Espero que a próxima mesa diretora trabalhe para colocar em votação os projetos que visam o bem dos brasileiro­s e que tragam a retomada econômica”, define. Ela é centrada quanto às questões que impõem maior urgência. “Acredito que, nos próximos dois anos, o Congresso deve continuar focando nas pautas importante­s que precisam ser votadas e necessária­s para avançarmos ainda mais, como as reformas administra­tiva e tributária, o programa de privatizaç­ões, além das alterações no novo marco legal do Ensino Profission­al e Técnico e no Sistema Nacional de Educação”, conclui.

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Najara Araújo/Câmara dos Deputados Eleição para a sucessão de Rodrigo Maia será realizada em 1º de fevereiro

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