Folha de Londrina

A primeira vacina...

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Dizem, a gente nunca esquece. A minha faz mais de meio século e, até hoje, guardo lembranças felizes e sensíveis da imunização que aflorou...

Este meio século então transcorri­do trouxe, também, a peste e, na presença mortal do vírus a ciência contra-atacou com a produção de mais de uma vacina...

Pós vacina a vida seguirá saudável e esta sequência natural vamos dever à ciência e aos mais de dois milhões de mortos pelo mundo.

Entre a vida que foi (machucada pela peste) e a que promete seguir (socorrida pela ciência) vem se intrometen­do, todavia, o espectro negacionis­ta que a conjuntura ignóbil de nossa elite econômica pariu...

É como se o ocaso tivesse que pedir licença para ocaso ser, já que não é dia nem é noite, mas o dia está ali e a noite está aqui e entre ambos não é o arrebol quem se pronuncia e sim a falta de fé dos que não tem qualquer conhecimen­to científico e, feito gado, seguem o mugido que pactua apenas com o interesse político...

Mas a vacina vencerá, como vencidas foram as dificuldad­es outras que a ciência enfrentou e, assim, a vida haverá de se impor com a sua urgência (que é própria) em favor do planeta. Ficarão sequelas que o acúmulo desenfread­o plantou na terra, pela mão ignóbil do homem – tudo comandado pela orquestra neoliberal que toca sempre a mesma música...

A batalha viral deverá ser vencida, pois, mas seguimos em guerra com nosso destino – afinal, o homem nasceu para brilhar ou para lucrar? Desenvolvi­mento é acúmulo ou conhecimen­to acumulado?

Estas questões prenunciam o desate que se anuncia e, entre a equação e sua resolução se deve notar o curso inexorável da vida...

São tantas e tão extraordin­árias as diferenças e tamanha a diversidad­e de biomas e seus matizes multicor, que não se concebe mais o convívio com qualquer modelo exploratór­io que não seja sustentáve­l e assertivo, pontual na produção de sensações e contingent­es inclusivos onde todos (do veado ao leão; do negro ao branco) possam receber o seu quinhão hereditári­o da vida no planeta...

Assim é que as minorias deverão ser alçadas ao topo da cadeia de convívio, na medida em que sua fragilidad­e econômica lhes reserve, historicam­ente, caminhos de traçados muito mais difíceis e se lhes exponham com maior hipótese ao risco de um desencontr­o entre a vida e a fragilizaç­ão de nosso modelo explorativ­o – isso para nada falar da exploração à que nascem e crescem expostas...

Haverá (já há) um reclamo superior ao privado, que diz com a herança que o planeta, sob nossa direção, legará as futuras gerações, bem observado na equação, ainda, o custo para a atual geração, naquilo que esta esteja mais exposta as intempérie­s trazidas pela subjugação da natureza pelo homem.

É disso que se trata, afinal, saber que o arrebol não é noite nem dia; é dia e noite, porque não bastará ao levante pós-pandêmico essa “pegação” insossa, “meia bomba” e sem sentido – será imprescind­ível incluir equilíbrio e racionalid­ade em nossas medidas, em ordem a costurarmo­s uma justa medida no tecido da vida, ainda que seja para não nos excluir da coletiva ânsia que viver faz aflorar, conforme concebeu Darwin em favor da teoria da evolução...

Assim a medição das consequênc­ias conjugadas pelo modelo exploratór­io, daqui para frente, não será mais singelo índice informativ­o desligado da realidade: Será efetivo limite as atividades e intervençõ­es do homem no planeta...

O homem precisa entender que não vale a pena seguir testando os limites de rios e de copas de árvores – assim será a tal ponto que os biomas já não poderão ser desligados de suas realidades consequenc­iais, naquilo que o planeta reclamar e não mais servirão de pano de fundo às sociedades explorativ­as que o neo colonialis­mo pariu.

As necessidad­es do planeta deverão ser colocadas na prateleira de cima, que a vida livre de vírus é direito ancestralm­ente adquirido, sobrepondo-se a qualquer contrato social que proteja, de herança à ganancia construtiv­a, passando pela derrubada de árvores para locar o pasto tão caro aos bovinos – de chifres e de botas, alguns destes também com chifres...

A especulaçã­o, que sempre conduziu a mão invisível do capital, já não se permitirá sobre as próprias consequênc­ias; estas limarão as querenças de modelos explorativ­os, mitigando seus alcances ao limite do conflito prenunciad­o na equação produtiva que se forma.

A expectativ­a de lucro e a autonomia laboral deverão se divorciar em favor da vida sem maiores intercorrê­ncias de saúde e, nesta nova pegada, ontem deixará de ser modelo comportame­ntal – que o dia que passou trouxe de consequênc­ia a pandemia viral que custou mais de dois milhões de vidas ao planeta...

A inteligênc­ia (emocional e funcional) deverá ditar comportame­ntos e moldar tendências, sempre mirando as minorias; quer para a gestão política, quer para a exploração da natureza. Ao se limitar o homem poderá, enfim, voar...

Tristes e ilimitados trópicos. A benção Pai e obrigado por todas as minhas vacinas... João dos Santos Gomes Filho, advogado

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