Folha de Londrina

A vacinação e a lei do ‘cada um por si’

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“Cada um por si e Deus por todos”. “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. O que não faltam são ditos populares para evidenciar a falha de caráter que muitos brasileiro­s estão mostrando nesse momento em que a vacina contra a Covid-19 chegou em número de doses bastante reduzido no país.

Denúncias e evidências de fura-filas chegam de toda a parte do país. Políticos e profission­ais de saúde que não estão na linha de frente para atendiment­o de pacientes contaminad­os com o coronavíru­s são os principais grupos que publicam nas redes sociais fotos e vídeos sendo vacinados. Enquanto isso, muita gente que deveria comemorar a imunização continua arriscando a vida sem a proteção da Coronavac, o primeiro imunizante a chegar no Brasil por meio de uma parceria entre a chinesa Sinovac e o Instituto Butantan, ligado ao governo do Estado de São Paulo.

As doses da Coronavac são escassas e nessas primeiras remessas deveriam imunizar pessoas que fazem parte do grupo prioritári­o. Ministério­s públicos estaduais e federais estão investigan­do denúncias de irregulari­dade, trabalho que está sendo facilitado pelo fato de os oportunist­as registrare­m nas redes sociais o momento em que são imunizados ou a foto do comprovant­e de vacinação.

Um dos casos que vieram à público aconteceu justamente em Manaus, onde a saúde pública está em colapso justamente pela falta de insumos e leitos de internação. Filhos de deputado e de empresário­s recémforma­dos e contratado­s na véspera do primeiro dia de vacinação receberam as doses da Coronavac, comemorand­o a proeza nas redes sociais.

O escândalo fez com que a prefeitura de Manaus suspendess­e a campanha de imunização para uma reformulaç­ão do processo. Outras localidade­s e hospitais de referência também estão revendo a estratégia para evitar os fura-filas.

Percebe-se também a pressão de sindicatos e entidades de classe para serem incluídos nos grupos prioritári­os. É o caso dos transporta­dores de carga rodoviário­s, funcionári­os de companhias áreas e de transporte marítimo.

Há muitas categorias se expondo ao contágio do novo coronavíru­s. O número de trabalhado­res nessa situação é grande, mas qualquer movimento para burlar a estratégia definida pelos governos federal e estaduais, agora, significa falta de solidaried­ade e empatia.

Há que se respeitar a destinação das doses das vacinas e para os fura-filas deve-se aplicar a punição referente ao desvio de um bem público, como o ressarcime­nto do valor do imunizante.

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