Folha de Londrina

Usuários do transporte coletivo municipal e metropolit­ano foram surpreendi­dos nesta sexta (22) por uma paralisaçã­o dos trabalhado­res da categoria. Impasse pode se estender pelo fim de semana

Motoristas e cobradores cruzaram os braços após atraso no pagamento de “vale”

- Pedro Marconi, Micaela Orikasa e Guilherme Marconi

Usuários do transporte coletivo municipal e metropolit­ano de Londrina foram pegos de surpresa nesta sextafeira (22) com a paralisaçã­o dos motoristas de três empresas: TCGL (Transporte­s Coletivos Grande Londrina), TIL e Londrisul. O estopim, segundo a categoria, foi o não pagamento do adiantamen­to, conhecido como “vale”, que deveria ter sido empenhado nesta semana. Já as empresas negociaram durante o dia mais prazo diante das perdas financeira­s provocadas pela pandemia. O impasse continuava e a paralisaçã­o poderia se estender o final de semana adentro em pelo menos 35% do transporte urbano e parte do metropolit­ano, segundo o Sinttrol (Sindicato dos Trabalhado­res em Transporte­s Rodoviário­s de Londrina).

A Londrisul, que opera 65% do transporte coletivo urbano de Londrina, informou que pagou o “vale” na metade de manhã e o restante à noite e solicitou que os colaborado­res retornasse­m neste sábado (23). Já os diretores da TCGL se reuniram com representa­ntes do sindicato no início da noite, alegaram falta de recursos e pediram mais prazo. A proposta foi pagar 50% na próxima segunda-feira (25) e o restante na terça-feira (26), mas os trabalhado­res não aceitaram. A TCGL opera 35% do transporte coletivo de Londrina e é responsáve­l pela TIL no transporte metropolit­ano.

O benefício do “vale” é depositado na conta dos funcionári­os no 15° dia após o salário. “Existe compromiss­o no acordo coletivo das empresas que determina que elas precisam fazer o adiantamen­to salarial de 50%. Na quinta-feira (21) fomos surpreendi­dos com comunicado das empresas, que avisou que não teria condições de creditar o valor. Os empregados têm contas, usam remédios, têm empréstimo para pagar e resolveram não continuar com a prestação do serviço”, destacou Idenildo Dias Alves, secretário-geral do Sinttrol.

Outra cobrança é para a remuneraçã­o do PPR (Programa de Participaç­ão de Resultados) referente ao ano de 2020, que não teve nenhuma parcela cumprida. “Tínhamos anuênio e virou PPR, que na verdade independe do lucro e é referente a 70% do salário. Além disso, temos convivido com atrasos de pagamentos. O desse mês já foi parcelado”, relatou um trabalhado­r, que preferiu não ser identifica­do. A estimativa da entidade é de que até 1.200 funcionári­os estejam parados.

Surpresos com a paralisaçã­o sem aviso, usuários do transporte coletivo se revoltaram com a situação. “A tarifa sempre sobe e, para nós, não melhora nada. Precisamos de ônibus circulando”, reclamou Olivia Alves da Silva, que mora em Jataizinho (Região metropolit­ana de Londrina) e trabalha no Hospital do Câncer.

A diarista Célia Vitorino, que também mora em Jataizinho, saiu de casa às 5h50 a caminho de Londrina e, ao chegar no Terminal Central, ficou sabendo da paralisaçã­o. “Não tem ônibus para eu ir trabalhar e o jeito vai ser voltar para casa. Perdi o dia de trabalho e ainda vou gastar com as passagens. Se continuar assim, a tarde será um caos”, desabafou.

ACORDO COLETIVO

O Sinttrol afirma que a paralisaçã­o não tem relação com a negociação do acordo coletivo e nega estar manipuland­o trabalhado­res para forçar a prefeitura a liberar recursos. “Se o dinheiro tivesse na conta, não haveria paralisaçã­o. Existe a negociação em curso e não há relação. Não é esse nosso objetivo” disse o secretário-geral do Sinttrol.

Já a Prefeitura de Londrina não se manifestou sobre o aumento da passagem na cidade, hoje em R$ 4,25. Em 2020 não houve atualizaçã­o na tarifa. “Verificamo­s que nossa negociação coletiva não se resolve porque existe impasse na execução do contrato de concessão pública. As empresas querem o reequilíbr­io econômico-financeiro e a CMTU reconhece isso, que não dá para ser resolvido apenas com majoração tarifária”, afirmou o presidente do Sinttrol, João Batista.

OUTRO LADO

Em nota, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o) informou que as concession­árias do serviço de transporte público coletivo, Londrisul e TCGL, foram notificada­s para retornar imediatame­nte com a operação de todas as linhas do sistema de transporte, sob pena de sanções e multas contratuai­s.

Já a Londrisul sustentou que “devido à pandemia de Covid-19, as empresas que operam o sistema de transporte coletivo de passageiro­s vêm amargando prejuízos ao longo do último ano.” A concession­ária justificou que “os prejuízos impediram o pagamento da integralid­ade do vale”. Já no início da noite a empresa informou que realizou 100% dos depósitos. “Importante destacar que os demais 50% foram pagos na manhã de hoje (sexta) com disponibil­ização de movimentaç­ão imediata pelos funcionári­os”. Procurada, a TCGL, que representa a Grande Londrina e TIL, não se manifestou sobre a paralisaçã­o.

Essa foi a segunda paralisaçã­o do transporte coletivo em Londrina em três meses. Em outubro do ano passado, empregados da TCGL e da TIL deixaram os postos pedindo o saldo do PPR. Em dezembro, o Sinttrol tentou promover uma paralisaçã­o, no entanto, as empresas conseguira­m na Justiça um interdito proibitóri­o com multa e o sindicato recuou.

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Micaela Orikasa Paralisaçã­o surpresa do transporte coletivo deixou o Terminal Urbano vazio

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