A cada 10 infectados pela Covid em Londrina, quatro são jovens
População entre 20 e 39 anos representa o maior percentual entre o total de positivados. Somente em janeiro foram registradas seis mortes nesta faixa etária, entre elas a de Luiz Henrique, irmão de Mariane Gonzaga
Nas redes sociais é difícil encontrar uma foto em que Luiz Henrique Gonzaga, de 23 anos, não esteja sorrindo. Esta era uma das marcas do jovem, que via a vida com alegria e resplandecia isso nos gestos, por mais simples que fossem. Mas tantos sonhos que fazem parte da essência desta fase da vida acabaram interrompidos bruscamente. Luiz foi uma das vítimas da Covid-19 em Londrina, sendo o mais jovem a falecer pela doença no município. “Estava na melhor fase da vida”, resume Mariane de Carla Gonzaga, irmã do rapaz.
A rotina dele era restrita a poucos trajetos. Os principais se resumiam ao trabalho e à igreja. Morador do conjunto Ruy Virmond Carnascialli, na zona norte, era funcionário de um depósito localizado em Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Havia recebido promoção recentemente. A suspeita da família é de que tenha contraído o vírus no lugar, pelo contato direto com pessoas de diversas partes do País que fazem entregas.
Os primeiros sintomas apareceram no último dia de 2020 e começaram com febre e leve desconforto ao respirar. Dois dias depois procurou atendimento médico, fez o teste para o coronavírus, entretanto, o diagnóstico inicial foi para dengue. “Em sete de janeiro amanheceu vomitando, com fraqueza e até desmaiou. Não conseguia nem andar. Foi para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e lá gritava de dor, que não conseguia respirar. Foi logo internado e o resultado saiu positivo para Covid-19”, conta.
Foram dois dias na enfermaria da UPA do Sabará até ser encaminhado para o HU (Hospital Universitário). “Fez alguns exames, vestiu a roupa do hospital e falou que ia passar a noite lá e me mandou a última mensagem. Perguntei se estava usando algum tipo de aparelho e respondeu que não”, cita.
NA UTI
Tudo mudou repentinamente, para surpresa dos parentes. Luiz foi levado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), entrou em coma e precisou ser entubado. Foram quatro dias nesta situação, até que despertou, mas foi mantido sedado. Os rins apresentaram problemas e foram necessárias sessões de hemodiálise. Os médicos informaram que o quadro de saúde estava melhorando, o que encheu todos de esperança. “Médicos falaram que estava tudo bem, que iria para o quarto. Ficaria no isolamento até dia 20 e só iam ver a questão da diabetes dele.”
O jovem era diabético desde os seis anos, mas a doença estava controlada. Dados da secretaria municipal de Saúde apontam que 27% dos mortos por coronavírus na cidade tinham esta comorbidade. “Quando foi para a enfermaria teve febre e voltou para a UTI. O diagnóstico mudou. Ficou em estado muito grave, os rins pararam novamente e os médicos disseram que precisava reagir”, relembra. Por mais forte que Luiz fosse, a reação não veio e o óbito foi confirmado por parada respiratória em decorrência de complicações da Covid-19.
“Era um ótimo irmão, amigo, ajudava todos. A rua está em luto. As pessoas gostavam dele, era brincalhão. Com ele nunca tinha tempo ruim. Única coisa que fazia era trabalhar. Não saia para festa. Entrava às 4 horas no serviço e ia embora às 18h, todos os dias”, afirma Mariane, uma das duas irmãs.
SEM DESPEDIDA
Luiz deixou uma filha de dois anos e uma enteada de 11. Neste ano se preparava para oficializar o casamento com a esposa. Com o pai debilitado por conta de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), funcionava como um esteio para a família, em especial a mãe. “Minha mãe está inconsolável. Era o filho caçula, cuidava de todos em todos os sentidos. É uma dor que não passa. A filha ainda está esperando o pai vir do hospital”, lamenta.
Assim como em outros casos por falecimento relacionado ao coronavírus, não teve velório e o copo foi direto para o enterro, com limitação de presentes. “Chegamos no cemitério e o caixão já estava dentro do carro da Acesf (Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina). Só descemos e sepultamos. O mais triste é saber que ele estava dentro de um saco preto, tudo fechado e não pôde ter a despedida que merecia.”
PEDIDO
Num período em que a pandemia avança e não se limita a pessoas mais velhas, ao mesmo tempo que diversas festas clandestinas são fechadas com dezenas de jovens, Mariane Gonzaga faz um apelo pela conscientização. “É uma doença grave silenciosa. A médica disse que que mesmo que meu irmão sobrevivesse, iria ficar com sequelas. Faço alerta para quem sai, vai para festas e não cuida. Procure se cuidar, porque meu irmão se cuidava e com 23 anos foi embora e sem direito à despedida”, solicita.