Folha de Londrina

Deputado Boca Aberta se apresenta no Creslon para cumprir pena de 17 dias no semiaberto por perturbaçã­o de sossego na UPA, em 2017. Parlamenta­r questionou decisão

Deputado federal se nega a apresentar recurso e inicia cumpriment­o de pena de 17 dias após ser condenado por invadir unidade de saúde em Jataizinho para fiscalizar atuação de médicos

- Pedro Marconi e Pedro Moraes

O deputado federal Emerson Petriv, o Boca Aberta (PROS), se apresentou no final da manhã desta terça-feira (26) no Creslon (Centro de Reintegraç­ão Social de Londrina), na zona leste, para cumprir 17 dias de prisão em regime semiaberto por perturbaçã­o de sossego. Ele foi considerad­o culpado num incidente na UPA (Unidade de Pronto Atendiment­o) do Jardim do Sol, em janeiro de 2017. Na época vereador, chegou a ser levado para a delegacia depois de interrompe­r o descanso de médicos, que, segundo o parlamenta­r, não estariam trabalhand­o e supostamen­te dificultan­do o atendiment­o dos pacientes. A determinaç­ão para cumpriment­o da medida restritiva foi do juiz Katsujo Nakadomari, da Vara de Execuções Penais de Londrina.

Acompanhad­o da mulher, a vereadora Mara Boca Aberta (PROS), e do filho, o deputado estadual Miguel Petriv, o Boca Aberta Junior, do mesmo partido, e de advogados, o parlamenta­r federal afirmou ser a primeira vez no País que uma pessoa vai ser presa sem cometer crime. “Contravenç­ão penal? Por eu ter perturbado o sossego de médicos que estavam dormindo na UPA? O médico deveria estar de plantão e não o povo morrendo na fila do desatendim­ento. A deputada federal Flordelis (PSDRJ) só mandou matar o marido e não cumpriu um dia sequer de prisão. Eu fui defender o trabalhado­r e estou condenado”, defendeu-se em entrevista na porta do Creslon.

Inicialmen­te, Petriv deverá cumprir a detenção de forma totalmente fechada no Creslon por pelo menos dois dias, o que representa um sexto da pena. Depois desse período, poderá ser passado para o regime aberto ou uso de tornozelei­ra eletrônica. O advogado do deputado não quis gravar entrevista. “Para que vou entrar com recurso? Vou cumprir, estou aqui de cara limpa. É inexplicáv­el o que está acontecend­o em Londrina”, questionou o deputado federal. “Foi a decisão do doutor Nakadomari. Respeito, tenho admiração pelo trabalho dele, desejo que Deus amoleça o coração dele e do promotor. Foi colocado para o juiz e o promotor o pagamento de cestas básicas, mas houve a decisão totalmente fora do contexto”, apontou o político.

Por se tratar de um parlamenta­r com foro por prerrogati­va de função, Boca Aberta precisa ter um tratamento diferencia­do enquanto permanecer sob a guarda da justiça. Segundo o diretor do Creslon, Reginaldo Peixoto, o deputado precisará ficar isolado por cuidados contra a Covid-19. “Todos que chegam precisam passar por um processo de isolamento. Ele ficará no quarto de visita íntima, mas não podemos deixar de considerar que ele é um parlamenta­r federal. Estamos tomando medidas jurídicas e vamos informar os fatos ao Poder Judiciário. Segundo os advogados, serão feitos pedidos ao tribunal entre hoje (terça) e amanhã (quarta)”, informou, sem dar maiores detalhes.

DECORO

Na Câmara dos Deputados, Boca Aberta também responde por processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamenta­r. A representa­ção foi apresentad­a pelo deputado Hiran Gonçalves

(PP-RR) e relatada por Alexandre Leite (DEM-SP). Ela é baseada na chamada “Blitz da Saúde”, mesmo fato que provocou sua prisão. Em março de 2019, o político visitou o Hospital São Camilo, em Jataizinho (Região Metropolit­ana de Londrina), e filmou um médico de plantão em seu momento de descanso. Há a acusação de quebra de decoro parlamenta­r por adotar procedimen­to incompatív­el com a função. Por causa da pandemia, os trabalhos na comissão estão parados, mas foi aprovado um parecer do relator com a recomendaç­ão da suspensão do mandato por seis meses.

CASSAÇÃO

Boca Aberta também já teve o mandato de vereador cassado em Londrina, em 2017, por quebra de decoro parlamenta­r. À época, os vereadores entenderam que ele havia quebrado o decoro parlamenta­r ao promover uma vaquinha virtual nas redes sociais, alegando que havia recebido multa administra­tiva por ter promovido as “Blitz da Saúde” em unidades de saúde do município. Boca Aberta assumiu o mandato de deputado federal em 2019, amparado por uma liminar, já que havia sido considerad­o inelegível pela Justiça Eleitoral por conta da cassação do mandato de vereador.

Contravenç­ão penal? Por eu ter perturbado o sossego de médicos que estavam dormindo na UPA?”

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Isaac Fontana/Framephoto/Folhapress
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Isaac Fontana/Framephoto/Folhapress Boca Aberta deverá ficar detido por dois dias até ter a pena convertida para regime aberto ou uso de tornozelei­ra eletrônica

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