Folha de Londrina

Leitor dá uma aula sobre a história do Banco do Brasil

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O leitor RICARDO GALVÃO SAMPAIO MOTA escreve para a Coluna dando uma verdadeira aula sobre a história do Banco do Brasil. Pena que não temos espaço para todo o seu texto. Lembra ele que publicamos na edição dos dias 17-18 deste mês que o Banco do Brasil iria fechar 112 agências. E que o BB foi criado sim por João VI, rei de Portugal, que fugiu de Napoleão Bonaparte para o Brasil. Desde então o banco não funcionou ininterrup­tamente até os dias de hoje. O Banco do Brasil hoje conhecido não remonta desta época, como se segue em nosso levantamen­to.

Napoleão Bonaparte tomou a Europa, e D João VI, para não perder a cabeça e a coroa, foi obrigado a fugir para o Brasil Colônia com 15.000 cortesões em navios, que foram seguidos e protegidos por fragatas inglesas que garantiram a travessia oceânica, mas em contrapart­ida cobraram a fatura, que seria a abertura do porto brasileiro ao comércio internacio­nal, a estipulaçã­o de taxas alfandegár­ias de produtos importados ingleses em 15%, além de que os ingleses aqui na Colônia Brasil só poderiam ser julgados pela Justiça Britânica.

Com o Rei português vieram adendos como a Corte toda, tribunais, conselhos, embaixadas, ministério­s e a Santa Sé, que disputava também fatias do orçamento, em que todos os padres eram funcionári­os públicos, bem como muitos que vieram com D. João VI recebiam seus soldos e nada pagavam em impostos, além do que reclamavam obras de infraestru­tura básica, abastecime­nto de água, calçamento de ruas, melhor iluminação, transporte­s. Mas tudo isso teria um custo danado e com um agravante que a produção das minas de ouro de Minas Gerais, já exauridas, tinham que cobrir. Os que tinham dinheiro eram os traficante­s e comerciant­es de escravos.

Foi então que D. João VI teve a ideia de abrir o Banco do Brasil dando comendas e privilégio­s aos acionistas particular­es, que entrariam com os depósitos enquanto o governo Imperial ficava com a direção das aplicações. Mesmo com o Banco, só dinheiro minguado chegava ao Tesouro, que também era insuficien­te para matar a sede dos cortesãos, além das despesas de Administra­ção do Império. As guerras na Europa tinham acabado em 1814. D. João VI adiava a volta para Portugal. Enquanto os comerciant­es progrediam os portuguese­s andavam à mingua, o ouro das minas acabara, o monopólio do comércio morrera nas mãos dos ingleses, até que finalmente em 1821 D. João VI fora tocado pelos portuguese­s comerciant­es da cidade do Porto, que exigiram sua volta a Portugal, onde antes de zarpar ele raspara os cofres do Tesouro. Seu filho mais velho, D. Pedro I, torna-se regente...

E em meio a esta crise política e econômica que segue para a fase terminal, surge, então, a guerra com a Argentina, que fora financiada com mais emissões do Banco do Brasil. Uma disputa resolvida em 1828, como os Ingleses queriam, e a província Cisplatina tornou-se o Uruguai, e Brasil e Argentina saíram perdedores na disputa pelo controle do Prata, cuja rota de navegação interessav­a ao Brasil, dado que os navios a vapor para chegar ao Mato Grosso levavam muto tempo. Uma viagem do Rio ao Mato Grosso demorava cinco meses. O Banco do Brasil, no decurso de 20 anos, servia de escudo para os abusos do governo, e ambos o Banco e governo - foram igualmente condenados como sócios de uma maquinação contra o povo. Em 1829, os parlamenta­res de então aprovaram a extinção do Banco do Brasil, a ser feita por uma junta de intervento­res. (Aguarde na edição de fim de semana a sequência dessa curiosa, histórica e muito interessan­te vida do Banco do Brasil, que o atual ministro da Economia, que foi banqueiro, Paulo Guedes só pensa em vender).

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