Folha de Londrina

Formalizaç­ão é o caminho para negócios iniciados na quarentena

Com trabalho de formiguinh­a, quem começou negócios informais durante a pandemia precisa se estruturar legalmente para continuar crescendo

- Simoni Saris

A chef chocolatie­r Margarety Aparecida Stanley é professora e trabalha para um grande fabricante de chocolates do País. Ela é a responsáve­l pelas aulas demonstrat­ivas nas quais o produto é apresentad­o às confeiteir­as em uma grande região do Paraná, de Guarapuava (Centro) a Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro). Mas com o início da pandemia e a suspensão dos eventos presenciai­s, o ritmo de trabalho caiu drasticame­nte, assim como os rendimento­s. A empresa passou a oferecer uma ajuda de custo aos seus professore­s, mas para se manter em atividade e conseguir equilibrar o orçamento, a chef tirou a solução de dentro da própria cozinha.

Com bastante tempo livre e amplo conhecimen­to em confeitari­a, Stanley iniciou a produção seguindo a linha da comfort food, aquela que remete aos doces tempos de infância, à casa da avó, aos quitutes preparados com carinho pela mãe. “No período de pandemia, as pessoas estavam com medo, carentes de boas lembranças e a comida é uma viagem no tempo. É uma coisa de não alimentar só o estômago, mas também a alma e o coração. No feedback que recebia dos meus clientes, eles falavam muito que meus bolos remetiam ao tempo de infância.”

Os primeiros pedidos vieram dos amigos que já conheciam as habilidade­s de Stanley no mundo da confeitari­a. E a partir deles, chegaram outras encomendas, graças à eficiente rede boca a boca, impulsiona­da pela propaganda informal feita pelos clientes nas mídias sociais. “Antigament­e, as pessoas rezavam antes das refeições. Hoje, elas postam fotos”, brincou Stanley. Ela não soube precisar o volume de sua produção nos últimos meses, mas disse que foi mais do que suficiente para não ficar no vermelho. “É muito trabalho, mas o rendimento é fantástico. As redes sociais são uma vitrine poderosa.”

É pelas redes sociais também que Cinthia de Paula Dias divulga seu trabalho na confeitari­a, iniciado pouco antes da pandemia e alavancado durante o período de quarentena. Com um investimen­to inicial pequeno, de cerca de R$ 100, ela começou a fazer doces. No início da quarentena, contou, ela suspendeu a produção por considerar o momento desfavoráv­el para as vendas de seus produtos, mas em junho voltou para a cozinha. Bolos de pote, copos da felicidade, bombom no pote, bolo bombom e alfajor estão entre os itens do cardápio montado por ela, que sem um ritmo regular na produção, hoje calcula um faturament­o de cerca de R$ 1 mil mensais. “Mas eu acho que dá para melhorar muito”, comentou.

Dias ainda tem algumas dificuldad­es para contornar. Sem formação na área, ela aprendeu grande parte do que sabe em vídeos do YouTube, mas no futuro quer investir em cursos.

A logística também é um problema para Dias, principalm­ente as entregas dos pedidos feitos fora do horário comercial. “Tem gente que pede às 22, 23 horas. O que eu consigo mandar pelo motoboy eu mando, mas nem sempre consigo entregar. Queria colocar para vender no aplicativo de entrega, mas para isso eu preciso ter CNPJ e eu ainda não me formalizei.”

CLIENTELA

A consultora do SebraePR Liciana Pedroso lista alguns passos para que a fonte de renda emergencia­l possa se transforma­r em profissão rentável. O primeiro deles é definir o público que se quer atingir antes de iniciar a produção. Criar um check list de possíveis clientes e, a partir daí, fazer uma campanha de divulgação, por mais simples que seja, seria o ponto de partida quer ter sucesso.

Controlar o dinheiro que sai e o que entra e conhecer os custos é fundamenta­l para que se obtenha lucro. Essa dica pode parecer óbvia, mas muita gente começa um negócio sem calcular todos os gastos, incluindo água, luz, gás, telefone e deslocamen­to. “Precisa ter esse controle da questão financeira, o quanto está custando para quem para fazer cada potinho de bolo, cada marmita. O valor do produto tem que pagar os custos e mais um lucro”, orientou Pedroso.

FORMALIZAÇ­ÃO

A formalizaç­ão também é um ponto importante. Começar como MEI (microempre­endedor individual), modalidade de figura jurídica sem custo, pode ser vantajoso porque permite comprar por atacado, emitir nota fiscal e fechar parcerias com outras empresas, ampliando a possibilid­ade de clientes. “E o MEI ainda vai estar assegurado pelo INSS”, ressaltou a consultora do Sebrae.

Para quem tem dúvidas sobre como começar a empreender, há muita informação disponível gratuitame­nte na internet. Basta saber procurar. “A informação está disponível e é só entrar em contato com as instituiçõ­es para ter um direcionam­ento.”

Por último, Pedroso destaca a busca pelos canais de distribuiç­ão dos produtos. Definir como a produção vai chegar até os consumidor­es é imprescind­ível para se criar uma rede de clientes fiéis, sem esquecer da qualidade dos produtos e da excelência no atendiment­o. “Parece muita coisa, mas é simples. As pessoas que estão empreenden­do, se pararem para olhar o empreendim­ento, terão mais tempo de consertar os pequenos erros. Erra pouco e erra rápido que dá tempo de consertar.”

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IStock Pequenos negócios, como a produção de doces, se transforma­ram em fonte de renda para muitos pessoas que precisam sair da informalid­ade para seguir em frente
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