Folha de Londrina

França estuda condições para aprovar acordo com Mercosul

- Ana Estela de Sousa Pinto

Bruxelas, Bélgica - O Ministério do Comércio francês vai propor nesta quinta (4) ao Comitê de Acompanham­ento da Política Comercial do país que um caminho para aceitar a ratificaçã­o do acordo de associação entre a União Europeia e o Mercosul é garantir antes a aprovação de compromiss­os contra o desmatamen­to e o aqueciment­o global. A afirmação é do jornal francês Le Monde, que diz ter tido acesso à proposta.

Na última semana, em debate no Fórum Econômico Mundial, o ministro do Comércio da França, Franck Riester, declarou que estava “tentando achar uma solução que assegure que o aumento do comércio com o Mercosul não vai elevar a importação de desmatamen­to”.

O Comitê de Acompanham­ento da Política Comercial da França é formado por representa­ntes eleitos, sindicatos e ONGs. O governo francês tem priorizado declaraçõe­s e medidas voltadas à proteção ambiental, tema de importânci­a crescente entre os eleitores do país.

Analistas e negociador­es têm dito que a tramitação do acordo com o Mercosul será muito difícil antes das eleições francesas de 2022.

Em setembro do ano passado, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, afirmou que o acordo não seria aprovado “do jeito que está”, argumentan­do que o aumento da demanda de carne bovina elevaria em 5% o desmatamen­to no Brasil nos seis anos seguintes à sua implantaçã­o.

No documento do Ministério do Comércio, segundo o Le Monde, em vez de abandonar o acordo ou exigir sua renegociaç­ão (o que equivaleri­a a voltar à estaca zero), o governo sugere opções como a aprovação da lei europeia de combate à importação de desmatamen­to, a criação de um sistema de rastreabil­idade de produtos animais e vegetais, a retirada por países do Mercosul de “reformas com efeitos particular­mente nocivos para a floresta “e o fortalecim­ento dos compromiss­os assumidos pelos países do bloco sul-americano.

O presidente da comissão de ambiente do Parlamento Europeu, o também francês Pascal Canfin, afirmou que a lei que barra a importação de desmatamen­to deve ser aprovada em 2022. Na semana passada, em entrevista ao jornal português Público, ele afirmou que o acordo com o Mercosul não avançará sem medidas juridicame­nte vinculativ­as. “O Parlamento não tem nenhuma intenção de passar um cheque em branco ao Brasil sobre a Amazônia”.

Segundo Canfin, é preciso ir além da atual estratégia da Comissão Europeia, que estuda apresentar um “instrument­o comum interpreta­tivo”, em que os dois lados reafirmam compromiss­os com pontos mais sensíveis politicame­nte. “Tenho a certeza que uma declaração interpreta­tiva e cosmética não chega”, afirmou o eurodeputa­do ao Público.

 ?? IStock ?? Analistas têm dito que a tramitação do acordo entre UE e Mercosul será muito difícil antes das eleições francesas
IStock Analistas têm dito que a tramitação do acordo entre UE e Mercosul será muito difícil antes das eleições francesas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil