Folha de Londrina

Valor fica abaixo do pedido inicial do estado de Minas; moradores protestam contra decisão

- Fernanda Canofre

Belo Horizonte - Depois de cerca de três meses de audiências, que envolveram o governador Romeu Zema (Novo) e o procurador-geral da República, Augusto Aras, a Vale assinou, nesta quinta-feira (4), acordo com o estado de Minas Gerais por reparação pelos danos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019.

O valor final é de R$ 37,68 bilhões, quase R$ 20 bilhões abaixo do que havia sido pedido inicialmen­te pelo estado. Ele abrange direitos socioeconô­micos e socioambie­ntais. Ações individuai­s e criminais não fazem parte dos valores e seguem tramitando.

Zema ressaltou a agilidade na conclusão do acordo. “Nós estamos usando essa indenizaçã­o, essa reparação para o povo mineiro, não para o caixa do Estado. Continuare­mos sendo um estado com terríveis dificuldad­es financeira­s, mas o povo mineiro é que vai receber o legado. O recurso será usado em prol do povo mineiro, não do governo”, afirmou.

“A história se faz através de pessoas que compreende­m sua importânci­a no tempo e no espaço. Esse acordo revela que podemos conciliar grandes questões econômicas, ambientais, sem desprezar a vida [dos atingidos]”, avaliou Aras.

“Esse acordo sela nosso compromiss­o com a reparação integral de Brumadinho”, disse Luiz Eduardo Osorio, diretor executivo de sustentabi­lidade e relações institucio­nais da Vale.

Inicialmen­te, o estado pedia R$ 54 bilhões em reparações pelo desastre - R$ 26 bilhões por danos socioeconô­micos e R$ 28 bilhões por danos morais e difusos. Os valores foram calculados por um estudo encomendad­o pela Fundação João Pinheiro e pelo Ministério Público de Minas Gerais, respectiva­mente.

A cifra final a ser paga aos cofres de Minas foi o ponto que emperrou as negociaçõe­s por várias vezes. A Vale chegou a oferecer pouco mais de R$ 16 bilhões em um ponto das negociaçõe­s e subiu para algo em torno de R$ 29 bilhões, em janeiro, quando o estado pediu cerca de R$ 40 bilhões.

O acordo firmado prevê continuaçã­o do auxílio emergencia­l, pelas regras atuais, por mais três meses, e a definição de novas regras, reparação ambiental integral, sem limite financeiro e construção de um rodoanel, entre outros pontos. Cerca de 30% dos recursos devem beneficiar Brumadinho, município onde ficava a barragem.

A prefeitura do município, no entanto, não participou das mesas de negociaçõe­s, apesar de ter pedido judicialme­nte para ser inserida para acompanhar as tratativas. O município tem uma lista de demandas que considera importante­s de serem atendidas com o valor da reparação, mas não sabe se estarão contemplad­as no acordo assinado.

O governo Zema colocou o aniversári­o de dois anos do desastre, completado­s no dia 25 de janeiro de 2019, como prazo final para as negociaçõe­s. Mesmo assim, houve um prazo extra para apresentaç­ão de nova proposta da mineradora.

“É o momento de a Vale assumir sua responsabi­lidade, agir com dignidade e reparar os danos que foram causados aos mineiros ou demonstrar seu antagonism­o com Minas Gerais e sua posição de inimiga dos mineiros”, afirmou a jornalista­s o secretário geral do Estado, Mateus Simões, após audiência, em janeiro.

O rompimento das barragens na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, deixou 272 mortos - a cifra inclui os dois bebês que estavam nas barrigas das mães. Onze pessoas ainda não foram localizada­s/identifica­das. A última atualizaçã­o na lista de vítimas ocorreu no fim de 2019.

Em frente ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, onde foi firmado o acordo, manifestan­tes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) protestara­m contra a mineradora, com faixas que acusavam o acordo de injusto e violador dos direitos dos atingidos.

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Mauro Pimentel/AFP/28-1-2019 O rompimento das barragens na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, deixou 272 mortos

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