Excesso de chuvas deve afetar parte da safra de verão
Com janeiro mais chuvoso que a média histórica, produção de grãos deve ter retração de 3% em comparação com a colheita anterior. Para o feijão da primeira safra, a redução esperada é de 7%
A safra de grãos de verão da temporada 2020/21 está em andamento e pode ser afetada pelo excesso de chuvas que ocorreu em janeiro.
De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, por enquanto a expectativa de produção aponta para um volume de 24,2 milhões de toneladas de grãos, volume 3% abaixo do que foi colhido na safra passada. Culturas como o feijão da primeira safra devem ser as mais prejudicadas, com queda estimada de 7%.
Segundo o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Salatiel Turra, o feijão é uma das culturas mais atingidas pelo excesso de chuvas dos últimos dias porque essa condição dificulta a colheita.
Ele acrescenta que a cultura geralmente é praticada por pequenos produtores que não dispõem de máquinas para fazer a colheita e o grão acaba se perdendo ainda no pé.
PERDA
O produtor Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha, no sudoeste do Paraná, estima perder 40% da primeira safra de feijão por conta das adversidades do tempo. De início, a seca adiou o início do plantio em quase um mês, para o final de setembro do ano passado. Agora, com o excesso de chuvas, não é possível fazer a colheita. “Faz 16 dias que chove todo dia, praticamente ninguém faz nada”, lamenta Laércio, em entrevista concedida na última terça-feira (2). O agricultor acrescenta que a área perdida de feijão não tem seguro e foi bancada com recursos próprios. “Não terei prejuízo porque já colhi mais da metade da área antes da chuva e saiu feijão bom, de boa qualidade, com preço bom”, destaca. Da área plantada pela família, com 50 hectares, já foram colhidos 30 hectares e os outros 20 seguem nos pés aguardando a colheita.
“Acredito que boa parte eu nem deva conseguir colher, deu perda total. Vamos esperar secar na lavoura. Quando der sol, vamos ver se vai ter alguma condição, mas a situação é bem preocupante”, conclui.
O feijão da safra das águas é o primeiro grão a ser colhido na safra de verão no Paraná. Este ano, a expectativa de produção aponta para um volume de 284 mil toneladas, volume 10% abaixo de igual período do ano passado, quando foram colhidas 316,2 mil toneladas. O nome está relacionado ao período do ano em que a colheita é realizada, quando as chuvas são frequentes.
O engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador, diz que o feijão das águas foi duplamente prejudicado, situação que já está comprometendo a produtividade e a qualidade dos grãos. Primeiro, na fase de plantio, sofreu com a falta de chuvas e a semeadura teve que ser adiada. Agora, o excesso de chuvas prejudica a colheita.
A lavoura está com 62% da área (152,4 mil hectares) já colhida no Paraná, que corresponde a um volume de 96 mil toneladas. Para se ter uma ideia do comprometimento, a colheita no ano passado estava mais avançada nesta época do ano, com 75% da área colhida, que correspondia a um volume de 168 mil toneladas.
“É difícil encontrar feijão de boa qualidade e o excesso de chuvas prejudica a entrada do agricultor a campo. Algumas áreas no Estado com plantio de feijão estão sendo inutilizadas, como foi o caso de uma área com 250 hectares em Guarapuava que o produtor colocou o trator em cima da lavoura por causa da baixa qualidade dos grãos e baixa produtividade.”
Enquanto a primeira safra de feijão (safra das águas) está em fase de colheita no Paraná, a segunda safra já está sendo plantada, devendo ocupar uma área de 238 mil hectares, 6% maior em relação ao ano passado.
A produção estimada é de 469 mil toneladas, volume 74% maior que em igual período do ano passado. Segundo Salvador, a expectativa do bom andamento da segunda safra de feijão ficará por conta do comportamento do clima.
SOJA E MILHO
Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, diante do cenário de chuvas no Paraná, a soja também poderá ser afetada diante do quadro atual. A cultura está em desenvolvimento, ocupando uma área de 5,58 milhões de hectares e com uma expectativa de produção de 20,4 milhões de toneladas, volume 2% inferior ao que foi colhido no ano passado.
A safra 2020/2021 começou com o plantio atrasado por causa da seca severa ocorrida no ano passado, que persistiu até dezembro. Em meados de dezembro, as chuvas retornaram, o que ajudou na recuperação da lavoura, situação que deixou produtores e técnicos otimistas. Mas ele destaca que, em janeiro, o excesso de chuvas foi prejudicial.
A persistência das chuvas poderá provocar um atraso na colheita. Ele antecipou que poderá haver redução de produtividade e de qualidade dos grãos em função das doenças causadas pelo aumento da umidade.
“As regiões do Estado mais preocupantes são Oeste e Sudoeste, onde a chuva está sendo mais volumosa, embora estejam ocorrendo em todas as regiões do Estado, mas com impacto menor. Uma dimensão maior da situação poderá ser feita quando as chuvas amenizarem e o produtor conseguir entrar em campo.”
Se as chuvas são preocupantes de um lado, de outro os produtores comemoram a boa fase de comercialização da soja, que vem desde o ano passado.
Segundo o Deral, o preço médio da soja no Paraná em janeiro foi de R$ 151 a saca com 60 quilos, valor quase que o dobro do preço praticado há um ano, quando a saca era comercializada a R$ 78. Os preços estão sendo sustentados pela cotação elevada do dólar e maior demanda no mercado internacional. Com isso, os produtores estão acelerando a comercialização. Até agora, 43% da produção já está vendida, o que equivale a um volume de 8,9 milhões de toneladas. No ano passado, nessa mesma época, 26% da safra estava vendida, que correspondia a 5,2 milhões de toneladas.
De acordo com o Deral, já começou o plantio de soja da segunda safra com uma área pequena no Estado. Nesta safra 20/21 serão plantados quase 39 mil hectares e expectativa de produção é de 107 mil toneladas, volume 20% acima do que foi colhido no ano passado, que totalizou 89,5 milhões de toneladas.
MILHO
Segundo o analista do Deral, Edmar Gervásio, as chuvas também estão afetando as lavouras do milho da pri
meira safra, que estão a campo, com impacto maior sobre as regiões Oeste e Sudoeste. Segundo ele, 72% da produção de milho da primeira safra se concentra na região sul do Estado, nas regiões de Guarapuava, Ponta Grossa e Curitiba.
“O problema maior está nas regiões Oeste e Sudoeste, que concentram cerca de 30% da produção de milho de primeira safra, e as chuvas estão sendo mais volumosas com impacto maior sobre as lavouras”, disse o técnico.
A área ocupada com milho de primeira safra é de 359 mil hectares, com produção esperada de 3,4 milhões de toneladas. Esse volume é 6% inferior ao colhido no ano passado que foi de 3,56 milhões de toneladas. Segundo Gervásio, o potencial de produção do milho de primeira safra era maior e foi frustrado pelas chuvas, com impacto negativo na produtividade. “Mas a produção ainda está dentro do esperado e é cedo para falar em queda de produção”, avaliou.
O milho é outra commodity com demanda acelerada no mercado internacional e isso está se refletindo internamente, situação que também vem desde o ano passado, destacou Gervásio. A comercialização está acelerada, com 17% da safra já vendida, sendo que na safra anterior, nessa mesma época, cerca de 6% estavam vendidos.
A segunda safra de milho ainda não foi plantada, mas o Deral estima uma área ocupada de 2,4 milhões de hectares com a cultura e produção de 13,6 milhões de toneladas. O plantio deve evoluir em fevereiro e março.
Com o ano de 2020 consagrado como o ano mais seco da história de Londrina, segundo dados coletados pelo IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), as chuvas de janeiro se tornaram as mais aguardadas da temporada pelos agricultores locais. No entanto, a instabilidade prolongada que permanece há semanas traz riscos para as lavouras com o desenvolvimento de pragas e doenças, principalmente para a cultura da soja, analisa o engenheiro agrônomo do IDR, Renan Barzan.
O profissional destaca que a ferrugem asiática é a maior preocupação. Esse fungo, com alto potencial de dano, infecta e provoca a queda das folhas da soja. Como consequência, a planta reduz sua capacidade de fotossíntese e não desenvolve o grão. As lagartas também são responsáveis por danificar as folhagens. Já os percevejos sugam diretamente o feijão, suscitando diretamente a perda produtiva.
Após uma semana de chuvas prolongadas, o agricultor cambeense Cláudio Peruzzi teme que os percevejos se instalem nas lavouras.
“Há dois anos, eu tive um prejuízo por conta das tempestades durante o período de colheita. Sempre acompanho as previsões para me prevenir”, relatou o produtor que mantém lavouras em Cambé, no distrito londrinense da Warta e no complexo de chácaras Bratislava. Especializado no cultivo da soja, Peruzzi atua no agronegócio desde 1975 e teve que adquirir insumos para manter o maquinário. Além dos gastos extras, ele aumentou sua carga horária de trabalho para a aplicação preventiva de fungicidas.
A agrometeorologista do IDR, Heverly Morais, aponta que janeiro é o mês que mais chove no norte paranaense. Dentre os fatores que provocam a alta da umidade estão as frentes frias vindas do Sul, o corredor hídrico oriundo do norte brasileiro e as altas temperaturas locais.
Segundo a pesquisadora, os temporais são indispensáveis para a sobrevivência das lavouras, mas sua frequência excessiva, combinada com a nebulosidade, impedem o bem estar da planta.
“O ideal seria se chovesse cinco dias ininterruptos e, logo após, viesse uma semana com clima estável”. No entanto, o que acontece neste período é que “as folhas estão sempre molhadas, e não temos sol para impedir o surgimento das bactérias”.
Desde o início de 2021, o instituto registrou 197,8 milímetros de chuvas em Londrina. A média hídrica histórica é de 224 mm.
*Supervisão de Larissa Sato (repórter)/ Patrícia Maria Alves (editora)
Os custos de produção de suínos e de frango de corte acumularam percentuais recordes de aumento no ano de 2020 segundo a CIAS (Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa).
O Icpsuíno encerrou 2020 com alta de 47,28%, marcando 375,17 pontos (em dezembro de 2019, o índice era de 238,75 pontos). Somente os custos com a alimentação dos animais subiram 42,05% em 2020. Já o Icpfrango fechou o ano com alta de 38,93%, aos 336,88 pontos (em dezembro de 2019, o índice era de 231,14 pontos). Em 2020, os gastos com a alimentação das aves também tiveram forte alta, chegando a 33,02%.
Com a queda do ICP verificada em dezembro passado (-3,07%), o custo por quilo vivo de suíno produzido em sistema de ciclo completo no Paraná baixou para R$ 6,56 ante os R$ 6,77 obtidos em novembro. Para comparação, em janeiro de 2020 o custo era de R$ 4,27 por quilo de suíno vivo. Por outro lado, com o recuo no índice no último mês do ano passado (-2,51%), o custo de produção do quilo do frango de corte vivo no Paraná, produzido em aviário tipo climatizado em pressão positiva, passou dos R$ 4,47 em novembro para R$ 4,35 em dezembro. Em janeiro de 2020, para comparação, o custo era de R$ 3,01 por quilo vivo.
Os estados de Santa Catarina e Paraná são usados como referência nos cálculos por serem os maiores produtores nacionais de suínos e de frangos de corte, respectivamente.
Segundo o analista de economia da Embrapa suínos e aves Jarbas Sandy, a alta do milho, um dos principais itens utilizados na produção de ração, é uma das justificativas para os altos custos. O grão “variou 62,3% o preço do durante o ano foi um dos itens que mais impactou, acompanhado do farelo de soja com aumento de 67,25% e tivemos em contra partida também o aumento no preço do suíno vivo praticado no mercado independente e chegou a 57,8% se comparado a 2018”, explica.
Um outro item que sobrecarrega os custos de produção do avicultor, segundo Sandy, diz respeito a recomposição do Capital médio, cuja composição é realizada utilizando o índice Geral de preços de disponibilidade interna e o IGPM durante o ano de 2020 foi de 21%, que aumentou 21% enquanto no ano de 2018 foi de 6,3% e em 2019, 7% apenas. O menor custo do Frango vivo no Paraná nos anos de 2018, 2019 e 2020 foi em janeiro de 2018 ao preço de R$ 2, 48 por quilograma de frango Vivo e o maior foi em novembro de 2020 ao valor de R$ 4 ,46.
Alimentação por exemplo recai sobre as responsabilidades da agroindústria sendo que no ano de 2020 representou a esta 78,8% dos seus custos totais acompanhado pelo item pintinhos de um dia de idade com 15,4% do custo total no Elo primário; aos agricultores paranaenses o item que mais impactou em seus custos totais durante o ano 2020 foi a mão de obra com 33% do total de 35 centavos por quilograma de frango vivo seguido pela depreciação do Capital imobilizado com 24,2% e da remuneração do Capital investido com 12% sobre os custos totais; outros itens como cama energia elétrica e a manutenção das instalações dos equipamentos impactaram os custos dos agricultores em 8% ,7% e 4% respectivamente.
O aumento no preço do milho variou em 62,3% durante o ano; acompanhado do farelo de soja que teve aumento de 67,25%