‘Parece que teremos muitos confrontos’
Definida a nova mesa diretora da Câmara, como analisa a perspectiva do próximo biênio?
A eleição de Arthur Lira (PP-AL) não facilita o trabalho da oposição e avança ainda mais nas pautas que considero neoliberais e de costume. Com o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), a parte econômica nos dividia, mas, nos costumes e da democracia, era mais fácil de negociar. Parece que teremos no próximo biênio um momento de muitos confrontos, por causa do discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na abertura do ano legislativo e a entrega de uma pauta de costumes que aponta para muita disputa entre o campo conservador e de direita contra quem está num campo mais progressista de esquerda ou liberal.
A Câmara saiu fortalecida após as eleições internas?
Acredito que ficou mais consolidada enquanto base do governo Bolsonaro. Ele investiu muitos recursos públicos e em cargos para fazer os votos que fez a eleição do Lira. Diria, inclusive, que foi uma vitória massacrante, que dá poder de articular com o centrão por um tempo e garante que a pauta do Bolsonaro seja aprovada, o que fragiliza a democracia e também irá acentuar as divisões ideológicas na Câmara.
É possível o Congresso e o governo chegarem a uma agenda em comum?
Não é possível uma pauta de agenda em comum na área econômica. Há divergências. A direita acha que é o estado mínimo o essencial para o desenvolvimento do País. Ela pensa que a iniciativa privada vai cuidar de tudo e levar ao equilíbrio da economia. A esquerda entende que a iniciativa privada só se preocupa com o lucro. Entendemos que o estado tem que ser ampliado, num país onde as dimensões são continentais e as diferenças regionais e sociais são gigantescas, é o estado através das estatais que pode reduzir essas diferenças. O processo de privatização, redução do estado e o fim de políticas públicas irá ocorrer de forma muito rápida nos próximos dois anos.
Quanto à pauta de costumes, acredita que os temas irão avançar?
Sim, porque para o Lira ter o apoio do governo teve que fazer acordos. Tenho divergências políticas, econômicas e ideológicas com o presidente da Câmara, mas na pauta de costumes é possível dizer que ele é um liberal. Para os conservadores, o conceito de casal é um homem com a mulher em casa com as crianças, mas basta pegar os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para ver que uma parcela fundamental da população brasileira é a mulher sozinha que cuida dos filhos. Bolsonaro tem uma perspectiva de costumes irreal, que só encontra no seu mundo que é de fantasia e que nada tem a ver com o que está acontecendo no Brasil.