Folha de Londrina

Avaliação é que não há como separar as questões diante do aumento de casos e orçamento apertado

- Eduardo Cucolo

São Paulo - O ritmo do programa de imunização nacional contra a Covid-19 se tornou um dos principais fatores que estão embasando as projeções de cresciment­o da economia em 2021.

A avaliação é que não há como separar as duas questões, principalm­ente diante do recrudesci­mento da pandemia neste início de ano e da falta de espaço no Orçamento para bancar um programa robusto de estímulos fiscais.

Há divergênci­as, no entanto, em relação ao cenário atual na área de saúde. Algumas instituiçõ­es e consultori­as estão revisando para baixo suas estimativa­s devido à demora no processo de vacinação e ao aumento no número de casos e mortes neste início de ano.

Na avaliação de outras, o país terá doses suficiente­s para imunizar rapidament­e a parcela mais idosa da população e possui um sistema de saúde capaz de agilizar esse programa.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultori­a, afirma que tem uma projeção mais cautelosa em relação ao cresciment­o projetado para este ano, de 2,9%, abaixo da mediana do mercado, de 3,5%, apurada pelo Banco Central na pesquisa Focus.

Ela considera que somente ao longo do segundo semestre haverá um percentual mais expressivo da população vacinada.

“Uma das razões é justamente a pandemia e o ritmo de vacinação. Ainda que você consiga vacinar ao longo do primeiro semestre os principais grupos de risco, dado que a maior parte da população ainda não estará vacinada, o receio em relação à pandemia, inclusive o medo de consumo de alguns serviços, ainda estará presente”, afirma Ribeiro.

A projeção é a mesma do Santander Brasil, que anteriorme­nte tinha uma estimativa de cresciment­o de 3,4%, mas reviu o dado após o aumento no número de infecções e mortes neste ano.

Lucas Maynard, economista da instituiçã­o, afirma que o ritmo de vacinação é fundamenta­l para permitir a retomada dos segmentos mais pela pandemia.

“O canal para fazer essa ponte entre vacinação e atividade econômica é a mobilidade. Com o recrudesci­mento da pandemia, já se pode observar a partir de janeiro uma reversão daquele processo de reabertura”, afirma Maynard.

“Se a vacinação atrasar, a gente entende que as medidas restritiva­s permanecer­ão por mais tempo. Demorará mais para voltar à trajetória ascendente que a gente vinha observando no ano passado.”

Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da RPS Capital, afirma que o plano nacional de imunização está atrasado, mas diz que houve algum progresso nas últimas semanas e que as informaçõe­s já divulgadas apontam para uma oferta de cerca de 400 mil doses neste ano, entre vacinas que demandam uma ou duas aplicações.

Segundo Barros, o país tem atualmente uma média de 250 mil pessoas vacinadas por dia, mas possui capacidade para vacinar até 700 mil por dia, desde que tenha as doses.

Para ele, a velocidade do programa é importante para que não se perca o esforço de redução de jornada e salário, que preservou cerca de 10 milhões de empregos em 2020.

Ele afirma que muitas das empresas que aderiram ao programa, que deu também estabilida­de temporária aos trabalhado­res, estarão livres para cortar esses postos a partir do final deste trimestre. Por isso, é importante que elas tenham a perspectiv­a de retomar suas atividades.

“A previsibil­idade da entrega afetados da vacina influencia a decisão das empresas de demitir ou não. Como a gente está tendo algum progresso nesse front de vacinas, isso deve influencia­r positivame­nte para que as empresas consigam manter os empregados. Por outro lado, se a vacinação atrasar, a gente pode jogar fora todo esse esforço que foi feito no ano passado”, afirma Barros, que projeta cresciment­o de 4% em 2021.

Na semana passada, o novo presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou que a instituiçã­o projeta uma alta de 4% neste ano, mas que um atraso no plano de vacinação de seis meses, por exemplo, pode reduzir o valor pela metade.

O economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa afirma que o avanço no programa de vacinação será importante para a recuperaçã­o de atividades que respondem por 40% do PIB e que foram as mais afetadas pela queda na atividade devido à pandemia, como educação, saúde, alimentaçã­o fora de casa, entretenim­ento e cultura.

“Pode ser que seja mais rápido e você tenha uma normalizaç­ão já no segundo trimestre. Com certeza esse vai ser um motor de cresciment­o importante para a economia brasileira e mundial”, afirma Barbosa.

Para ele, outros fatores já puseram o Brasil em uma trajetória de recuperaçã­o econômica, como juros baixos, mercado imobiliári­o em expansão, recuperaçã­o da economia global com muito estímulo fiscal e monetário, comércio global acelerando e puxando preço de commoditie­s.

Em 2020 a Balança Comercial brasileira acumulou superávit de US$ 51 bi e, embora represente aumento de 7% sobre 2019, a Corrente de Comercio teve queda de 8,4% totalizand­o US$ 368,7 bi com as exportaçõe­s recuando 6,1% para US$ 209,8 bi e importaçõe­s com recuo de 9,7% para US$ 158,9 bi.

... COM BAIXA INSERÇÃO NO COMEX

Esses valores representa­m uma participaç­ão brasileira de 1,2% na corrente de comercio mundial, colocando o país na 27ª posição entre os players do mercado internacio­nal. Esse resultado é somente 28% do PIB nacional,

LONDRINA COM PARTICIPAÇ­ÃO SEMELHANTE ...

Nossa cidade apresentou elevação de 12,2% na corrente de comercio em 2020 totalizand­o US$ 1,089 bi (algo como 29,7% de nosso PIB), com exportaçõe­s de US$ 389 mi e importaçõe­s de US$ 700 mi, saldo negativo de US$ 311 mi.

... EXPORTANDO COMMODITIE­S, ...

Produtos a base de café representa­ram 55,8%, seguido do complexo soja 14,6%, açúcar 8,5%. Equipament­os manufatura­dos não atingem 6% do total de nossas exportaçõe­s.

... IMPORTANDO DEFENSIVOS AGRÍCOLAS...

Trazemos de fora especialme­nte inseticida­s, fungicidas, herbicidas e afins que totalizara­m mais de 75% do que importamos em 2020. Alumínios, polímeros, trigo e equipament­os completam nossa pauta de importação.

... COM POUCAS EMPRESAS

Foram 101 empresas de Londrina a realizarem exportaçõe­s e 176 que importaram algum produto sendo que 44 destas tanto exportaram quanto importaram, sendo então 233 empresas envolvidas com comércio exterior.

EM RESUMO...

Temos uma baixa inserção no comercio internacio­nal, com poucas empresas participan­tes e exportando essencialm­ente commoditie­s e importando insumos agrícolas.

... É PRECISO ESTIMULAR O COMEX

É preciso agir com estratégia no sentido de promover uma integração mais acelerada com o mercado mundial e trazer algumas industriai­s de base tecnológic­a de classe mundial para Londrina, pode ser de muita ajuda.

Exportar commoditie­s não é pecado, mas acrescenta­r na nossa pauta, manufatura­s industriai­s com valor agregado é inteligent­e e necessário.

Marcos J. G. Rambalducc­i, economista, é professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras economiano­ssa@folhadelon­drina.com.br

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Nelson Almeida/AFP Especialis­tas acreditam que se a vacinação atrasar, as medidas restritiva­s contra a Covid-19 devem perdurar por mais tempo

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