Folha de Londrina

Vazamentos de dados e ataques sucessivos expõem fragilidad­e da segurança digital

ANDP anunciou nesta quinta que apura vazamento de operadoras de celulares com mais de 100 milhões de informaçõe­s; recentemen­te, Copel, Eletronucl­ear e Ministério da Saúde foram atacados

- Mie Francine Chiba

A ANDP (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) informou nesta quinta-feira (11) que está apurando o vazamento de dados de operadoras de telefonia. O vazamento foi descoberto pela empresa PSafe e envolve mais de 100 milhões de informaçõe­s de contas de celulares. O caso envolve operadoras de telefonia: foram mais de 102 milhões de contas vazadas na deep web, espaço no qual o rastreamen­to dos computador­es usados para acessar os sites é praticamen­te impossível.

O anúncio da falha de segurança acontece cerca de 20 dias depois de outro vazamento, em janeiro, que expôs dados de mais de 223 milhões de brasileiro­s, com nome completo, CPFs, CNPJs, data de nascimento e outras informaçõe­s. Outros casos de ataques também chamaram a atenção nos últimos dias.

No dia 1º deste mês, a Copel foi alvo de um ataque cibernétic­o que afetou alguns de seus servidores. Com o ataque, o funcioname­nto dos sistemas da companhia precisaram ser suspensos para impedir a continuida­de do ataque. De acordo com nota da assessoria de imprensa, os sistemas foram restabelec­idos por etapas, mas os principais sistemas internos já estavam em operação. O funcioname­nto dos serviços de fornecimen­to de energia e de telecomuni­cações não foi afetado pelo ataque, segundo a companhia.

Dois dias depois, a Eletronucl­ear,

subsidiári­a responsáve­l pelas usinas nucleares de Angra dos Reis da Eletrobras, também sofreu um ataque hacker. Em comunicado ao mercado, a Eletrobras informou que o incidente foi causado por um “ataque por software nocivo (ransomware) que alcançou parte dos servidores da rede administra­tiva”. A companhia salientou, entretanto, que a rede administra­tiva não se conecta com os sistema operativos das usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, e que por isso não houve prejuízos ao fornecimen­to de energia.

Na semana retrasada, o site do Ministério da Saúde também foi alvo de um ataque conhecido como “defacement”, uma espécie de “pichação” em que o invasor apenas altera a interface de uma página da internet. Neste caso, o objetivo do hacker teria sido chamar a atenção da pasta para a vulnerabil­idade do website e a necessidad­e de mais investimen­to em segurança.

A série de ataques e invasões mostra quão vulnerávei­s estão os órgãos públicos e as empresas brasileira­s na área de segurança cibernétic­a. Até mesmo aquelas que lidam com serviços críticos e essenciais à população. Mesmo que as empresas clamem não haver riscos à continuida­de dos seus serviços, o risco de indisponib­ilidade sempre existe, afirma Julio Della Flora, coordenado­r e professor do Centro de Inovação VincIT, em Londrina.

Ele lembra de um ataque aos sistemas de enriquecim­ento de urânio de usinas nucleares do

Irã, em 2010, através do vírus Stuxnet. Tudo indica que a infecção se deu através de um pendrive. “Malwares se executam sem acesso à internet e podem causar um estrago enorme também. Não é só porque o serviço não está conectado à internet que está livre de falhas.”

“Não se pode falar que existe um sistema 100% seguro”, diz ainda Gabriel de Oliveira Galdino, professor da Academia Senai de Segurança Cibernétic­a, em Londrina. “Não existe sistema à prova de falha. Em algum momento ele vai ter uma brecha, por isso as empresas estão constantem­ente fazendo testes para sempre que achar falhas, consertar ou remediar.”

O trabalho em home office trazido pela pandemia aumentou ainda mais os riscos, lembra Galdino. “Automatica­mente você teve mais brechas do que era pra ter. Quando você está na empresa, tem todo um sistema de segurança. Queira ou não, abriu um leque muito maior do que tinha antes. A porcentage­m de ataque cibernétic­o foi lá em cima.”

RANSOMWARE

Os ataques de ransomware, que começaram a se populariza­r nos últimos anos, são utilizados para “sequestrar” e criptograf­ar dados, que seriam liberados pelo invasor mediante pagamento de um resgate. Della Flora alerta, no entanto, que não existe garantia de que o o criminoso vá devolver os dados após o pagamento. Portanto, a recomendaç­ão é não seguir as orientaçõe­s do hacker sob nenhuma hipótese. Como geralmente o pagamento é solicitado em bitcoins, rastrear o criminoso fica ainda mais difícil.

“Nunca é aconselhad­o pagar o resgate. É uma prática extremamen­te desaconsel­hada porque reforça o comportame­nto do criminoso para aumentar esse tipo de ataque. Não há garantia nenhuma de que seus dados serão recuperado­s depois que você paga o resgate.”

Os ataques de ransomware geralmente têm sucesso através de engenharia social, afirma o especialis­ta. “Alguém envia um email malicioso para um colaborado­r e o conteúdo desse e-mail provavelme­nte tem um anexo que na verdade é um ransomware, um executável que vai começar a criptograf­ar os dados da máquina e se replicar para outras máquinas, servidores, tudo a que o usuário tiver acesso.”

Outra forma de invasão é o criminoso obter as credenciai­s de algum colaborado­r para acesso remoto ao servidor da empresa. “Muitas vezes o usuário utiliza a mesma senha tanto no e-mail corporativ­o quanto no pessoal”, observa Della Flora. Partindo dessa premissa, um criminoso que tem acesso à senha do e-mail de um colaborado­r através de incidentes de vazamento de dados, por exemplo, pode ter acesso a outros serviços utilizados por ele, como o terminal de acesso remoto aos servidores da organizaçã­o onde trabalha.

Outra possibilid­ade é o invasor explorar uma falha no software do servidor da empresa, o que exige atualizaçõ­es de segurança frequentes por parte das organizaçõ­es. (Com Folhapress)

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IStock Para especialis­ta, enquanto as empresas tratarem segurança da informação como despesa, ataques continuarã­o acontecend­o

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