Folha de Londrina

Pandemia é pretexto para atacar liberdade de expressão, diz relatório

- Ana Estela de Sousa Pinto

Bruxelas, Bélgica - Pelo menos 83 governos usaram a pandemia de Covid-19 como desculpa para impedir a liberdade de expressão e de reunião, afirmou nesta quinta (11) a organizaçã­o não governamen­tal de direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

Entre eles estão a Hungria que previu a prisão de jornalista­s na chamada “lei do coronavíru­s” e fechou veículos independen­tes -, a Polônia - que interferiu em órgãos públicos de comunicaçã­o e pressionou a mídia privada - e a Belarus, onde jornalista­s foram espancados e presos enquanto cobriam os protestos contra a ditadura e mais de 70 sites informativ­os foram bloqueados.

O Brasil também é citado no relatório, por perseguir jornalista­s críticos ao governo do presidente Jair Bolsonaro e por restringir o acesso a informação pública sobre saúde.

De forma global, autoridade­s “atacaram, detiveram, processara­m e, em alguns casos, mataram críticos”, afirma o relatório da HRW. Também estão documentad­os casos de fechamento de veículos de imprensa e promulgaçã­o de leis que criminaliz­avam coberturas críticas às políticas de (falta de) combate à pandemia de Covid-19.

Além de jornalista­s, foram vítimas ativistas, profission­ais de saúde, grupos políticos de oposição e outros críticos. “Os governos devem combater a Covid-19 encorajand­o as pessoas a usarem máscaras, e não impondo mordaças”, afirmou no comunicado o diretor-adjunto do departamen­to de crises e conflitos na HRW, Gerry Simpson.

De acordo com o levantamen­to da entidade, em países como China, Cuba, Egito, Índia, Rússia, Turquia, Venezuela e Vietnã os abusos de autoridade chegaram a afetar milhares de pessoas. Bangladesh, China e Egito foram exemplos de locais em que pessoas foram detidas apenas por criticar as respostas do governo à pandemia.

Agressões físicas a jornalista­s e manifestan­tes foram registrada­s em 18 países e, em Uganda, as forças de segurança mataram dezenas de manifestan­tes, relata a HRW.

Leis e regulament­os de emergência para impedir a disseminaç­ão do Sars-Cov-2 serviram de justificat­iva para deter e processar arbitraria­mente críticos do governo em ao menos 51 países, afirma a entidade, e, em 24 deles, foi adotada legislação que abre brecha para criminaliz­ar a divulgação de informaçõe­s classifica­das pelo governo como “perigosas para o bem público”.

Pelo menos 33 governos ameaçaram seus críticos, em alguns casos com processos judiciais, caso criticasse­m a resposta das autoridade­s à pandemia, mesmo quando não foi criada lei específica para isso.

Segundo a HRW, governos têm obrigação internacio­nal de fornecer ao público acesso a informaçõe­s precisas sobre ameaças à saúde, e como preveni-las ou controlá-las. “Limitações desproporc­ionais à liberdade de expressão podem dificultar o combate à desinforma­ção sobre a Covid-19, incluindo teorias conspirató­rias sobre tratamento­s falsos e perigosos que se espalharam nas redes sociais e off-line”, afirma a entidade.

 ?? Ferenc Isza/AFP ?? Hungria, que fechou veículos independen­tes, é apontada na lista
Ferenc Isza/AFP Hungria, que fechou veículos independen­tes, é apontada na lista

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil