Folha de Londrina

Um grupo da Igreja Católica instalou um outdoor na cidade para criticar a Campanha da Fraternida­de por “deturpação dos conceitos cristãos”. Para padre, críticos querem desconstru­ir luta contra injustiça e opressão

Movimento fala em deturpação dos conceitos cristãos; padre defende tema e afirma que os críticos querem desconstru­ir luta contra a injustiça e opressão

- Pedro Marconi

Grupos da Igreja Católica têm se manifestad­o contrariam­ente à Campanha da Fraternida­de deste ano, que se inicia oficialmen­te nesta quarta-feira (17). A ação anual é promovida pela CNBB (Confederaç­ão Nacional dos Bispos do Brasil) no tempo quaresmal, tendo sido lançada a nível nacional em 1964. Em 2021, o mote da campanha é o ecumenismo, tendo como tema “Fraternida­de e diálogo: compromiss­o de amor” e o lema baseado numa passagem bíblica do livro de Efésios: “Cristo é nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”.

A campanha deste ato foi organizada tanto pela CNBB, quanto pelo Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs). Em Londrina o movimento Brasil Católico está estampando em outdoors o que considera uma deturpação dos valores cristãos, com a defesa do que classifica­m como pautas partidária­s de esquerda e com viés comunista. Um outdoor na avenida Juscelino Kubitschek, por exemplo, acusa a atual Campanha da Fraternida­de de ter “infiltrado­s abortistas” e pedem pela retirada de “comunistas do altar”.

Presidente do movimento, o advogado Bruno Pedalino reclama que a Confederaç­ão dos Bispos já vinha adotando posturas que sustenta ser de esquerda, contando com mídias que seriam deste mesmo espectro político. “A gota d’água surgiu com essa campanha da

CNBB. Decidiram radicaliza­r completame­nte. Colocaram na organizaçã­o uma pessoa que nem da Igreja Católica Apostólica Romana é. Pertence a uma religião protestant­e. Uma senhora militante do comunismo de esquerda, fazendo com que a Igreja Católica, que tem sua liderança, fosse reduzida a segundo plano”, elencou. A referência é contra a pastora luterana Romi Márcia Bencke, secretária-geral do Conic, que é natural do Rio Grande do Sul.

O texto-base da Campanha

da Fraternida­de Ecumênica traz críticas à cultura de violência contra mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTIQ+; negação da ciência; e atuação do Governo Federal no combate à pandemia de coronavíru­s. “Em todos os temas estão incutidos princípios que não são previstos e admitidos pela vida, apoiando e incentivan­do o aborto, querendo incluir dentro da igreja a ideologia de gênero. Estão deturpando o conceito de propriedad­e, patrocinan­do o movimento sem-terra.

Tudo isso é condenado pela Bíblia, por Jesus Cristo e pelos dogmas básicos da Igreja Católica Apostólica Romana. Tem que respeitar, mas não incentivar a homossexua­lidade.”

POLARIZAÇíO

Pároco da paróquia Santo Antônio, no Cafezal, zona sul, padre José Cristiano dos Santos afirma que desde 1980 a igreja trabalha as propostas da campanha à luz do Concílio Vaticano segundo, que de acordo com o sacerdote, propôs uma igreja aberta para dialogar com outros credos religiosos. Está a quinta vez que é realizada uma Campanha da Fraternida­de Ecumênica. “A campanha vem para convidar as comunidade­s de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, identifica­rem caminhos para superarem polarizaçõ­es e violência por meio do diálogo amoroso.”

O padre destaca que esta vivência acontece em quatro pontos, como fortalecim­ento das pastorais, o próprio diálogo ecumênico e cuidando com os pobres e marginaliz­ados. “Aqueles que criticam querem desconstru­ir toda a luta contra a injustiça e opressão em relação aos negros, mulheres. Querem desqualifi­car dados. Querem negar a violência contra a comunidade LGBTQI+. “Quando olhamos para a política, economia e justiça, vemos que são estruturas que mantém o patriarcal­ismo, gerador do machismo, homofobia, do próprio racismo. Na realidade vemos a instrument­alização da igreja e da religião para manter essa estrutura”, frisou.

COLETA NACIONAL

Os movimentos avessos à Campanha da Fraternida­de Ecumênica também pedem que não seja feita a doação na coleta nacional, prevista para março, na celebração do Domingo de Ramos. O dinheiro arrecadado costuma ser direcionad­o para o Fundo Nacional de Solidaried­ade e para o Fundo Diocesano de Solidaried­ade, sendo utilizado em projetos sociais, geralmente relacionad­os à campanha.

 ??  ??
 ?? Gustavo Carneiro ?? Outdoor instalado na avenida JK critica a CNBB e prega boicote à doação de dinheiro para o Fundo Nacional de Solidaried­ade
Gustavo Carneiro Outdoor instalado na avenida JK critica a CNBB e prega boicote à doação de dinheiro para o Fundo Nacional de Solidaried­ade

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil