Folha de Londrina

Villas Bôas ironiza crítica de Fachin sobre pressão ao Supremo

“Três anos depois”, escreveu o militar, que utiliza aparelhos de informátic­a para se comunicar por enfrentar sequelas da esclerose lateral amiotrófic­a

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Brasília e São Paulo – Com ironia, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas reagiu, nesta terça-feira (16), à crítica do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal) aos militares feita um dia antes. “Três anos depois”, escreveu o militar, que utiliza aparelhos de informátic­a para se comunicar por enfrentar sequelas da esclerose lateral amiotrófic­a. A reprimenda do ministro do Supremo foi uma resposta à revelação de que a cúpula do Exército, então comandado pelo general, articulou um tuíte de alerta ao Supremo antes do julgamento de um habeas corpus que poderia beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.

Em livro-depoimento recém-publicado pela Fundação Getúlio Vargas, intitulado “General Villas Bôas: conversa com o comandante”, o texto do tuíte de 2018 foi escrito por “integrante­s do Alto Comando”. A publicação ainda aponta que ao menos três ministros do governo Bolsonaro e o atual chefe da Força souberam da nota. A postagem do então comandante do Exército tinha um teor bastante mais incendiári­o do que o publicado e acabou atenuada por ação do então ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, hoje diretor-geral de Itaipu, em um episódio até aqui inédito que foi relatado à Folha de São Paulo por integrante­s do governo Michel

Temer (MDB).

Nesta segunda-feira, Fachin citou trecho da Constituiç­ão que define o papel das Forças Armadas. “As Forças Armadas, constituíd­as pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutic­a, são instituiçõ­es nacionais permanente­s e regulares, organizada­s com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República”. O ministro ainda alertou para a gravidade do fato em nota divulgada por seu gabinete. “A declaração de tal intuito, se confirmado, é gravíssima e atenta contra a ordem constituci­onal. E ao Supremo Tribunal Federal compete a guarda da Constituiç­ão”, afirmou

REAÇÃO

Em abril de 2018, após o tuíte de Eduardo Villas Bôas, Fachin não se manifestou publicamen­te. No dia seguinte, o plenário do STF negou habeas corpus a Lula, que foi preso no dia 7 de abril. De acordo com o ministro, não havia até aquele momento revisão da jurisprudê­ncia, do próprio Supremo, que previa a execução provisória da pena após condenação em segunda instância, entendimen­to aplicado no caso de Lula.

Celso de Mello, então decano do Supremo, por sua vez, abordou a mensagem de Villas Bôas, sem citá-lo por nome. Ao iniciar a leitura de seu voto, o então decano afirmou que um comentário realizado por “altíssima fonte” foi “infringent­e ao princípio da separação de Poderes” e alertou contra “práticas estranhas e lesivas à ortodoxia constituci­onal”. Celso afirmou que intervençõ­es militares restringem a liberdade e limitam o espaço do dissenso e, portanto, são inaceitáve­is. “O respeito indeclináv­el à Constituiç­ão e às leis da República representa o limite intranspon­ível a que se deve submeter os agentes do Estado, quaisquer que sejam os estamentos a que eles pertencem”, disse.

Fachin repreendeu militar por tuíte de 2018 sobre julgamento de habeas corpus de 2018

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Marcos Correa/PR General Villas Bôas está lançando livro-depoimento em que revela bastidores de sua atuação na cúpula militar que apoiou a eleição de Bolsonaro em 2018

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