Folha de Londrina

Carnaval com cara de Cinzas e o sonho para 2022

Músicos e produtores culturais comentam o carnaval sem folia e revelam as expectativ­as para o próximo ano em Londrina

- Micaela Orikasa

A ressaca do Carnaval de 2021 está diferente. Sem brilho, música, dança e alegria nos espaços abertos ou fechados, o balanço dessa edição para todos os londrinens­es apaixonado­s por essa festa popular é de total silêncio.

Para quebrá-lo, apenas as memórias dos carnavais passados, como o de 2020 que arrastou multidões pelas ruas da cidade, ou a folia improvisad­a na sala de casa e emoldurada pela tela da televisão.

“A gente vê que os grêmios, as escolas de samba de todo o Brasil buscaram fazer no ambiente virtual, algo para tentar animar e não cair no esquecimen­to, mas não é a mesma coisa. Temos que ter a vacina o mais rápido possível para fazermos o carnaval de verdade. Porque carnaval é gente”, comenta o produtor cultural Benê Macedo.

Desde 2006, ele está à frente da tradiciona­l escola de samba de Londrina “Explode Coração” que segue em atividade há 18 anos, mesmo Londrina não tendo mais desfiles das escolas. “A gente participa de eventos em outras cidades e segue tentando no Promic, a continuida­de do projeto “O Samba Atravessa Londrina.” Nosso carnaval tem um formato diferente do que vem movimentan­do a cidade teve nos últimos anos, em especial no ano passado com os blocos de rua. Ele é mais da comunidade, buscando envolver todos em oficinas, fomentando a festa. Esperamos trazer tudo isso de volta”, comenta.

FORÇA NAS RUAS EM 2020

Como não lembrar do carnaval de 2020? O grupo BBF (Bloco Bafo Quente) dividiu o trio elétrico com a Orquestra Ouro Verde e juntos, agitaram um público de mais de 50 mil pessoas em Londrina.

“Foi o resultado de anos de trabalho e levar o trio elétrico para as ruas foi um sonho. A gente veio acompanhan­do a tendência dos carnavais de blocos de rua que sempre existiram, mas ganharam muita força nos últimos anos com a ideia de ocupar os espaços públicos”, diz Guilherme Rossini, integrante do Bloco Bafo Quente.

O BBF tem no carnaval a principal força de trabalho. “É a época mais importante do ano porque vai além dos quatro dias. Cerca de 70% do nosso calendário de festas e eventos é fechado por causa do carnaval, mas nosso foco agora está no pensamento positivo para que a questão da doença melhore em todo o mundo e a gente possa em breve voltar a festejar”, desabafa.

Lua Specian, vocalista da Orquestra Ouro Verde, também destaca que o carnaval é o resultado de um ano de preparo de todos os envolvidos com a música e a produção cultural na cidade.

“Depois de quase um ano sem trabalho muitos esperavam ter no carnaval uma espécie de ‘13º’, fora a vontade de tocar com os amigos, fazer o povo dançar, ver um monte de gente feliz. É inacreditá­vel pensar nesse cenário de hoje. O carnaval de 2020 trouxe para o londrinens­e um pertencime­nto da rua como espaço da possibilid­ade da diversão, do envolvimen­to das pessoas e da cidade para além da rotina, com a cultura, diversidad­e e a pluralidad­e do carnaval”, salienta.

CARNAVAL DE RESGUARDO

Foi nesse clima de festa e de manifestaç­ão cultural e democrátic­a que o Bloco Lambaris – Ideias Democrátic­as foi às ruas pela primeira vez no ano passado. O grupo, que é uma referência aos Sardinhas, na Itália, movimento símbolo contra a extrema-direita no país, estreou na folia londrinens­e com irreverênc­ia e na defesa de que o carnaval sempre foi espaço para a democratiz­ação das ideias, das diferentes formas de pensar.

“O carnaval desse ano é um carnaval de resguardo, cheio de minutos de silêncio. Não tem como ser feliz nessa tristeza toda”, considera a jornalista Iara Rossini Lessa, integrante do bloco. Questionad­a sobre qual seria o ‘grito de carnaval’ se o Lambaris pela Democracia fosse hoje para as ruas, ela responde: “Seria vacina já! Seguido de um sonoro Fora Bolsonaro”.

(Leia mais sobre o assunto na página 12)

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 ?? André Trigueiros/ Divulgação ?? Não dá pra esquecer o carnaval de 2020, quando o Bloco Bafo Quente arrastou cerca de 50 mil foliões pelas ruas
André Trigueiros/ Divulgação Não dá pra esquecer o carnaval de 2020, quando o Bloco Bafo Quente arrastou cerca de 50 mil foliões pelas ruas
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