Carnaval com cara de Cinzas e o sonho para 2022
Músicos e produtores culturais comentam o carnaval sem folia e revelam as expectativas para o próximo ano em Londrina
A ressaca do Carnaval de 2021 está diferente. Sem brilho, música, dança e alegria nos espaços abertos ou fechados, o balanço dessa edição para todos os londrinenses apaixonados por essa festa popular é de total silêncio.
Para quebrá-lo, apenas as memórias dos carnavais passados, como o de 2020 que arrastou multidões pelas ruas da cidade, ou a folia improvisada na sala de casa e emoldurada pela tela da televisão.
“A gente vê que os grêmios, as escolas de samba de todo o Brasil buscaram fazer no ambiente virtual, algo para tentar animar e não cair no esquecimento, mas não é a mesma coisa. Temos que ter a vacina o mais rápido possível para fazermos o carnaval de verdade. Porque carnaval é gente”, comenta o produtor cultural Benê Macedo.
Desde 2006, ele está à frente da tradicional escola de samba de Londrina “Explode Coração” que segue em atividade há 18 anos, mesmo Londrina não tendo mais desfiles das escolas. “A gente participa de eventos em outras cidades e segue tentando no Promic, a continuidade do projeto “O Samba Atravessa Londrina.” Nosso carnaval tem um formato diferente do que vem movimentando a cidade teve nos últimos anos, em especial no ano passado com os blocos de rua. Ele é mais da comunidade, buscando envolver todos em oficinas, fomentando a festa. Esperamos trazer tudo isso de volta”, comenta.
FORÇA NAS RUAS EM 2020
Como não lembrar do carnaval de 2020? O grupo BBF (Bloco Bafo Quente) dividiu o trio elétrico com a Orquestra Ouro Verde e juntos, agitaram um público de mais de 50 mil pessoas em Londrina.
“Foi o resultado de anos de trabalho e levar o trio elétrico para as ruas foi um sonho. A gente veio acompanhando a tendência dos carnavais de blocos de rua que sempre existiram, mas ganharam muita força nos últimos anos com a ideia de ocupar os espaços públicos”, diz Guilherme Rossini, integrante do Bloco Bafo Quente.
O BBF tem no carnaval a principal força de trabalho. “É a época mais importante do ano porque vai além dos quatro dias. Cerca de 70% do nosso calendário de festas e eventos é fechado por causa do carnaval, mas nosso foco agora está no pensamento positivo para que a questão da doença melhore em todo o mundo e a gente possa em breve voltar a festejar”, desabafa.
Lua Specian, vocalista da Orquestra Ouro Verde, também destaca que o carnaval é o resultado de um ano de preparo de todos os envolvidos com a música e a produção cultural na cidade.
“Depois de quase um ano sem trabalho muitos esperavam ter no carnaval uma espécie de ‘13º’, fora a vontade de tocar com os amigos, fazer o povo dançar, ver um monte de gente feliz. É inacreditável pensar nesse cenário de hoje. O carnaval de 2020 trouxe para o londrinense um pertencimento da rua como espaço da possibilidade da diversão, do envolvimento das pessoas e da cidade para além da rotina, com a cultura, diversidade e a pluralidade do carnaval”, salienta.
CARNAVAL DE RESGUARDO
Foi nesse clima de festa e de manifestação cultural e democrática que o Bloco Lambaris – Ideias Democráticas foi às ruas pela primeira vez no ano passado. O grupo, que é uma referência aos Sardinhas, na Itália, movimento símbolo contra a extrema-direita no país, estreou na folia londrinense com irreverência e na defesa de que o carnaval sempre foi espaço para a democratização das ideias, das diferentes formas de pensar.
“O carnaval desse ano é um carnaval de resguardo, cheio de minutos de silêncio. Não tem como ser feliz nessa tristeza toda”, considera a jornalista Iara Rossini Lessa, integrante do bloco. Questionada sobre qual seria o ‘grito de carnaval’ se o Lambaris pela Democracia fosse hoje para as ruas, ela responde: “Seria vacina já! Seguido de um sonoro Fora Bolsonaro”.
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