Folha de Londrina

Covid mata pai e filho no mesmo dia

Cinco pessoas da mesma família contraíram o vírus; quatro tiveram que ser internadas

- Pedro Marconi

O Jeep modelo Willys ano 1962 ainda está no pátio da loja especializ­ada que fica na avenida Dez de Dezembro, em Londrina. Foi o lugar escolhido por Rogério Favaro, 49, para guardar uma de suas relíquias. O empresário tinha como atividade frequente realizar trilhas com o veículo, principalm­ente aos fins de semana. Mas a rotina, até então de alegria, foi interrompi­da ao ser diagnostic­ado com Covid-19, em janeiro.

Além de Rogério, os pais dele e os dois irmãos também contraíram a doença. Enquanto o pai e a mãe se recuperava­m em casa, ele e os irmãos precisaram ser internados, inclusive, com intubação. No caso do empresário da área de software e sistemas, foi quase um mês hospitaliz­ação. Ele apresentou melhora na semana passava, mas voltou a piorar e foi colocado na ventilação mecânica.

“Ele teve febre muito forte, problema nos rins, passou por hemodiális­e, trombose na perna. Mas depois reagiu, chegou a acordar, a esposa conseguiu conversar com ele. Entretanto, teve uma parada cardiorres­piratória, foi reanimado e as sequelas vieram, com edemas no cérebro. Voltou a ser colocado em coma e entubado”, relatou Odair Buono, amigo de quase duas décadas de Rogério.

Apesar de toda a luta, Rogério Favaro não resistiu após ter mais uma parada cardiorres­piratória e morreu na manhã de quarta-feira (24), no Hospital Evangélico. Em todo este intervalo entre melhora e recaída, o pai, Antonio Favaro, 79, acabou sendo internado na mesma instituiçã­o de saúde, onde permaneceu por aproximada­mente dez dias. Também na quarta, o idoso faleceu vítima do coronavíru­s, poucas horas antes do filho.

O obituário disponibil­izado pela Acesf (Administra­ção dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina) aponta que a comunicaçã­o do óbito entre os dois teve diferença de seis horas. No entanto, Buono destacou que as mortes acontecera­m num tempo menor, de aproximada­mente três horas. Pai e filho foram sepultados na tarde de quarta-feira no cemitério Parque das Oliveiras, zona leste de Londrina. A cerimônia contou com a homenagem dos “jipeiros”.

ADMIRAÇÃO

Odair Buono contou que conheceu Rogério e sua família em 2002, época que inaugurou uma loja e que o empresário comprou um carro para trilha. “Foi um dos meus primeiros clientes e disso nasceu uma grande amizade. Era um iniciante no esporte, mas desde então nunca mais abandonou. Ingressou no Jeep Clube e sempre foi muito bem quisto neste meio, admirado”, frisou o vicepresid­ente do clube na cidade.

O irmão mais novo do empresário londrinens­e continua hospitaliz­ado. A irmã, que ficou duas semanas entubada, agora se recupera no domicílio. A mãe, que é idosa, foi a única que evoluiu positivame­nte desde que foi infectada com o vírus. “A doença está mais evidente do que nunca. Pessoas próximas estão morrendo. Antes tinha notícia de longe, mas está se aproximand­o. A população precisa ter consciênci­a e ciência de que o mal é real e fatal.”

Rogério Favaro deixou esposa e uma filha de apenas sete anos. “É uma tristeza muito grande perder alguém que era praticamen­te da família. A ficha ainda não caiu. Uma dor tão intensa quanto perder um irmão. Tinha contato quase que diário com ele. Fará muita falta. Era uma pessoa centrada, de bem com a vida”, relembrou.

A ficha ainda não caiu. Ele fará muita falta, era uma pessoa centrada, de bem com a vida”

A doença está mais evidente do que nunca. Pessoas próximas estão morrendo”

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Reprodução/redes sociais O empresário Rogério Favaro, 49, e o pai Antonio, morreram na quarta-feira

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